Blog Day. Bad Day?

Tentei. Juro. Depois de mais de uma hora buscando através dos links no meu profile, não consegui achar um blog ativo sobre as lendas arturianas para incluir na lista. Achei alguns blogs com nomes sugestivos, como Camelot's Garden ou The Pendragon, mas onde o primeiro teve apenas um post em 2004, e o segundo nada tem a ver com as lendas arturianas.
Por outro lado, encontrei vários blogs que colocaram notas sobre o filme King Arthur, mas até aí é apenas um comentário, dentro de um monte de assuntos diferentes.
No fim, meu blog day serviu ao propósito de conhecer blogs que nunca tinha visitado; somente deu errado no fato de que não voltarei a visitá-los.
Então, não é por me gabar, mas pelo jeito o único blog sobre lendas arturianas.. é o meu. Oh responsabilidade...

A pergunta que fica é: Quantos endereços de blogs existem, e quantos estão ativos para valer?

About: Me

Semana diferente, post diferente. Hoje vou falar de como virei um "arturólogo", no sentido da coisa.

Wally e Sua Vida



Janeiro de 1999. Eis que chego no Brasil, com a idéia de ficar por aqui uns 3 anos, a trabalho. Todas minhas decisões sobre que apartamento alugar, que carro comprar e o que comprar para mim ou o apê onde morava eram baseadas nessa perspectiva, tudo muito pé no chão.

Meus começos na vida de solteiro independente foram muito bem sucedidos; me virei sem problemas na cozinha, cuidando das minhas roupas e demais faxina da casa. Tudo nos conformes.
Até então, toda minha formação era profissional, portanto todo o material que caia nas minhas mãos para leitura era sempre orientado a tecnologia. Eu não sei exatamente em que momento desse mesmo ano que tive uma percepção interessante. Percebi que tinha me especializado muito em coisas como tecnologia, programação, informática, eletrônica, mas nunca tinha cuidado de outros aspectos. Era um completo ignorante sobre outros assuntos, o que me tornava uma pessoa sem muito assunto :-)
Pensei, dentro do meu lado racional:

"Pessoas como Arquimedes, Pitágoras, Da Vinci, Galileo, todos eles foram grandes gênios da engenharia. Engenheiros não são populares. O que fez deles serem lembrados até hoje, além de suas descobertas?"

Percebi que além de uma mente brilhante, eles deram conteúdo e espaço nas suas mentes tanto para as ciencias exatas como as humanísticas. Da Vinci fez pesquisas admiraveis sobre o voo, mecânica e matemática, e ao mesmo tempo pintou a MonaLisa. Galileu, além de falar que a terra girava em torno do Sol (o que faz dele um astrônomo respeitabilíssimo), foi um dos maiores religiosos da sua época. Fatos semelhantes aconteceram com todos os grandes nomes das ciencias exatas. Eu posso não ser um gênio, mas percebi um fator comum que decidi colocar na minha vida também. Decidi alimentar meu lado humanístico.

O problema clássico era que leitura realmente não era uma as minhas paixões, nem de perto. Então, mais uma vez pensando analiticamente (que era meu único jeito de pensar) disse para mim mesmo que precisava encontrar um assunto que me atraísse por merito proprio, que me despertasse curiosidade ao ponto de merecer pesquisar por ele. Depois de boiar um pouco mentalmente, percebi que a idade média me chamava particularmente a atenção. O cavaleirismo especialmente. O fato de fazer dos cavaleiros pessoas respeitadas e admiradas era sua devoção e desprendimento para ajudar os outros, empreender em buscas épicas, e logicamente, ganhar a atenção das damiselas (afinal, ninguém veio ao mundo a passeio...).

Qual é o exemplo mais popular, mais conhecido e grandioso da arte da cavalaria na idade média? Chegamos no assunto. Ia pesquisar a lenda arturiana.

Meu primeiro livro me desapontou bastante, não por ser ruim, mas por vir com a descrição "texto para jovens". Além de brega, cafona e antiquado, tinha apenas 86 páginas. Eu sabia que tinha que ter mais, uma lenda que perdura até hoje não se condensa a tão pouco. Ainda assim, era a única coisa que consegui na epoca, com meu pobre conhecimento de autores. Cai num quase caderninho contando um resumão da lenda, baseado no texto de Thomas Malory, o que no fim foi bastante bom por me dar não somente o nome do autor, como uma visão geral de onde estava entrando. Hoje posso dizer que esse livrinho serve quase que como índice da viagem que veio depois. Foi através de Malory que conheci Chretien de Troyes, que me levou para Geoffrey de Monmount.
Coincidentemente, poucos anos depois percebi que entrei no mar no momento que o mar estava crescendo. Um interesse súbito surgiu no mundo inteiro sobre o Rei Arthur, e ocasionou novas pesquisas que mudaram por completo a visão do mundo. Arthur não era mais um rei medieval; ele virou um general romano no século 5, que comandou os bretões para manter os invasores saxões abaixo da linha imposta pela muralha de Alexandre. Isso rendeu até filmes, mas o verdadeiro triunfo dessa historia foi inspirar autores como Bernard Cornwell a escrever sua trilogia sobre o Arthur. Uma novela que merecia uma minisérie, como já aconteceu com seus textos sobre um soldado inglês de nome Richard Sharpe.
Minha admiração por autores me levou a ler outros trabalhos, não mais vinculados somente à lenda arturiana, mas não por isso menos interessantes. Meu lado humanístico tinha acordado para a vida.
Meu blog começou faz pouco tempo, com a consciência vida da observação de que muitos blogs não seguem a linha do "meu pequeno diário de segredos adolescentes", mas aproveitam a facilidade de uma interface amigável para colocar conteúdo de muito valor cultural. Opiniões divergentes geravam debates muito mais maduros do que as idiotices que me levaram a aborrecer o Orkut eu suas comunidades sem sentido. Ainda assim, o mérito do Orkut é divulgar blogs e localizar pessoas com interesses parecidos, mas foi-se a época na que compensava dedicar um tempo a ele. O ponto de encontro do momento são os blogs (ao contrario do que todos os jogadores de Second Life afirmam).
Namorei a idéia de criar um site ou blogar ao respeito das lendas arturianas quando percebi como todo o conhecimento que ganhei nesses anos estava espalhado. Era uma idéia bem interessante escrever tudo em um lugar só, e poder vincular uma história com a outra, dando no fim uma amarração coerente na historia toda. Assim, depois de um tempo olhando a evolução da web para o que conhecemos hoje, que decidi começar com Camelot or What, e até agora, posso me considerar um blogger satisfeito com o resultado.


O que tem um peso enorme neste blog e que o diferencia de outros é o esforço de pesquisa em meios variados para dar uma visão geral do assunto, sem cair na armadilha de escrever um monte de chatice. Quero trazer a lenda arturiana de maneira leve, que sirva como entretenimento nas horas vagas de quem cai no blog, seja por acaso ou indicação. Logicamente, o maior elogio que um blog pode receber, e ver comentários aparecendo e visitas se repetindo. Isso empolga, e faz deixar de lado qualquer preguiça.
Aos que tem blog, vai a pergunta: como começaram seus blogs?

A Távola Redonda

Puxa... ninguém disse nada mesmo hein? Eu falando na semana passada que os artefatos míticos terminavam no último post, e ninguém para lembrar da távola redonda? Tudo bem, eu esqueci também, hehe...

A Mesa Está Servida...

A tal de távola redonda conhece duas definições. A mais comum e conhecida é a clássica de uma mesa redonda, de diâmetro considerável, onde todos os grandes cavaleiros de Camelot se reuniam ao chamado do Rei Arthur para debater as questões de importância. A mesa tinha este formato para que ninguém possa se considerar mais ou menos importante conforme sua distância da cabeceira da mesa. Mesmo assim, teve uma cadeira que ficou vaga, a famosa cadeira perigosa, que expliquei no post anterior.
A segunda definição, menos conhecida, diz que a Távola Redonda não era somente uma mesa, mas uma ordem da cavalaria, a mais elitista dentro das muitas em Camelot.

Eram os mandamentos dentro da Ordem:

  • Nunca saquear ou assassinar
  • Sempre rejeitar a traição
  • Não ser cruel, e ter piedade para quem pedir por ela
  • Socorrer mulheres, damas e viúvas
  • Nunca forçar mulheres, damas e viúvas
  • Não se envolver em brigas tolas de amor ou por bens
Temos que admitir que a metade delas são plausíveis de interpretação maliciosa, mas na época em que foram escritos estes mandamentos, as pessoas não tinham segundas intenções, ou não sabiam disfarçar direito. Ah, saudade da idade média...

Históricamente falando...

A távola redonda teve sua origem lá pelos idos 1155, o "Roman de Brut" de Wace foi um texto, basicamente uma releitura do clássico primeiríssimo texto arturiano, de Geoffrey de Monmouth. Neste livro, Wace escreveu que a mesa tinha esse formato para manter a posição de todos os cavaleiros como iguais, sem distinção entre eles. Neste texto foi também contada a história da origem da mesa.

Estava Merlin sem fazer nada, sem aprontar, e de puro tédio foi bater papo com Uther-Pendragon, futuro pai do Arthur. Contou para ele a historia da Ultima Ceia, e ao descrever a mesa.. falou da mesa redonda, deixando os discípulos como iguais. O Rei mandou construir esta mesa, e a entregou como presente para o Rei Leodegrance de Cameliard, futuro pai da Gueinevere. Uns bons anos depois, a mesa foi o presente de casamento entre Arthur e Gueinevere, que trouxe a mesa novamente para Camelot. Foi Merlin também que criou a cadeira perigosa, que poderia ser ocupada somente pelo mais puro dos cavaleiros (that means Galahad, pra que não leu o post anterior).

A Dança Das Cadeiras

A criatividade dos diferentes autores sobre a távola redonda é tal, que a variação na quantidade de lugares é digna de inquérito. Vejam só:

  • 13, no Didot-Perceval (1225)
  • 50, no "Merlin" de Robert de Boron (1195)
  • 60, no "Ly Myreur des Histors (1350)
  • 130, no "A Lenda do Rei Arthur", balada Inglesa de séc. 16
  • 140, em "Erec" e "Iwein" do Hartmann von Aue (séc. 12)
  • 150, no "Lancelot" do período Vulgato (1220)
  • 250, no "Merlin" do período Vulgato (1225)
  • 1600, no "Brut" de Layamon (séc. 12)
  • 12, segundo a Marion de Marion e Sua Vida
Sim, perguntei para a Marion, afinal todo mundo tem direito de opinião. A questão é que uma mesa circular com capacidade para umas 30 pessoas já tem 6 metros de diâmetro, o que torna inviável pensar em qualquer conversa civilizada. É, sem Messenger, ICQ ou GTalk fica difícil...
Mesmo assim, existiu uma távola redonda, uma obra de arte da marcenaria.

A Verdadeira Távola Redonda

Castelo de Winchester. Um grande salão, admirável na sua arquitetura, tem na parede central uma grandiosa mesa redonda, pendurada na parede. Esta mesa possui inscritos os nomes dos cavaleiros nos seus respectivos lugares. Diz a lenda que os nomes, escritos em ouro, são obra de um feitiço de Merlin, e estes nomes mudavam conforme os ocupantes da mesa.
Eis os nomes:

  1. S(ir) galahallt Sir Galahad
  2. S(ir) launcelot deulake Sir Lancelot
  3. S(ir) gauen Sir Gawaine
  4. S(ir) p(er)cyvale Sir Percival
  5. S(ir) Iyonell Sir Lionel
  6. S(ir) trystram delyens Sir Tristan
  7. S(ir) garethe Sir Gareth
  8. S(ir) bedwere Sir Bedivere
  9. S(ir) blubrys Sir Blioberis
  10. S(ir) lacotemale tayle Sir La cotemal tail
  11. S(ir) lucane Sir Lucan
  12. S(ir) plomyd Sir Palamedes
  13. S(ir) lamorak Sir Lamorak
  14. S(ir) born de ganys Sir Bors
  15. S(ir) safer Sir Saphar
  16. S(ir) pelleus Sir Pellinore
  17. S(ir) kay Sir Kay
  18. S(ir) Ectorde marys Sir Ector
  19. S(ir) dagonet Sir Dagonet
  20. S(ir) degore Sir Degore
  21. S(ir) brumear Sir Brunar
  22. S(ir) lybyus dyscovy(us) Sir Guinglain
  23. S(ir) Alynore Sir Alymore
  24. S(ir) mordrede Sir Modred
Foi em 1976 que um estudo sério sobre a idade desta mesa teve inicio, usando técnicas como idade do carbono en raio-x. A descoberta deste estudo questionou até o que ja era sabido ou escrito sobre a mesa como tal. Originalmente, acreditava-se que esta mesa foi construida em 1463, e pintada em 1522 para o Rei Henrique VIII. Mas os estudos em carbono e sobre carpintaria da epoca revelaram que na verdade esta mesa foi feita por volta de 1270, no começo do reinado do Rei Eduardo I. Coincidentemente, o rei passava nessa epoca por um interesse enorme nas lendas arturianas, ao ponto que foi uma das pessoas presentes durante a abertura do túmulo encontrado em Glastonbury, que "seria" do Rei Arthur. Esta mesa foi provavelmente usada muitas vezes durante os torneios promovidos pelo rei, chamados na época de távolas redondas.

Agora sim, sem pegadinhas, terminam os posts sobre os objetos míticos; agradeço a todos pela leitura e a quantidade de curiosas visitas durante o fim de semana à espera do post.
Mmm... sobre o que escrevo na semana que vem??


O (Santo?) Graal

Muito bem, muito bem. Fim de semana, todo mundo expectante para ver o que vou falar do Graal, embora a Pedrita tenha roubado parte do meu post, hehe..

Era una vez, hace mucho, mucho tiempo...

Como todos os contos antigos que vale a pena lembrar, vou contar primeiro a versão arturiana da lenda do graal, segundo Chretien de Troyes:

O Santo Graal foi a taça onde Jesus Cristo bebeu durante a última ceia, momento sacro e decisivo como poucos nos Santos Evangelhos. Esta taça foi entregue ao seu sobrinho-neto, Jose de Arimateia, que a usou para recolher o sangue e o suor de Jesus durante a Crucifixão. Aparentemente, Jose de Arimateia foi preso logo depois da Crucifixão, e deixado para morrer em um túmulo semelhante ao usado para os restos mortais de Jesus (basicamente, uma caverna com uma rocha na entrada). Ele foi deixado para morrer, mas o poder do Santo Graal deu sustento para ele durante anos.
Em algum momento, Jose de Arimateia viajou para a Bretanha com sua familia e alguns seguidores, para se assentar em Ynis Witrin (hoje Glastonbury). Mas o Graal não ficou com ele, foi levado para Cobernic, onde ficou sob resguardo dos Reis do Graal em um castelo bem protegido. Os Reis do Graal não seriam outros mais do que os descendentes na linhagem de Jose de Arimateia, filhos da sua filha Anna e o marido dela, Brons.
Siglos depois, a localização do grandioso castelo de Cobernic perdeu-se no tempo.
Na coorte do rei Artur, foi profetizado que o cavaleiro de coração mais puro seria um descendente da linhagem de Jose de Arimateia, acharia o Graal, e este cavaleiro seria o único digno de sentar na Cadeira Perigosa. Piadas à parte, a tal da Cadeira Perigosa era uma cadeira da Távola Redonda que abria um buraco onde sumiam em chamas os indignos que ousassem sentar nela.
Com a aparição de Galahad filho de Lancelot no trono e uma curta porém marcante visão do Graal, começa o que seria a maior empreitada dos cavaleiros da Távola Redonda. Após anos de busca, que teve finalmente o primeiro encontro com o Graal foi Parsifal, (aka Perceval, aka Peredyr), nas terras do Rei Pescador. A história de Parsifal é um livro por si só, mas o que interessa é que ele falhou em perguntar pelo Graal para o Rei. Sua falta de iniciativa fez dele indigno de encontrar o Graal.
Outro cavaleiro que chegou muito perto de encontrar o Graal foi (quem mais) o Lancelot, mas ele foi proibido de entrar no castelo, pois tinha cometido o pecado do adultério (crianças, eis a lição de hoje: todo mundo fica sabendo MESMO, até os que moram num castelo perdido há siglos).
Finalmente, Galahad teve seu encontro com o Graal. Ele era o cavaleiro perfeito, da linhagem de Jose de Arimateia. Este posto era para ser do Lancelot, mas ele pecou... enquanto o filho se manteve puro, e olha que tentação não faltou.
Finalmente, Galahad ficou frente a frente do Graal, e teve a visão do rosto de Deus, visão que nem Moisés teve quando escreveu os Dez Mandamentos, que viu apenas uma rocha ardendo.
Galahad foi recebido diretamente nos Céus, passando para a Vida Eterna do lado do Salvador sem passar pela morte.

In nomine Patris, et fillii, et Spiritus Sancti...

Mais uma vez, essa maravilhosa historia passada de povo para povo pelos bardos, tem o dedo religioso até a médula, fazendo de uma historia pagã uma historia ainda maior do que a Bíblia. Afinal, quem não sabia ler ia criticar de que forma? Quem tinha a coragem de ser chamado de herege por seguir as tradições druidas?
Vou contar outra historinha, e vejam as semelhanças na busca de uma relíquia sagrada com formato de vaso, que possuía poderes mágicos. Essa menção já aparece no conto do Mabinogion sobre Culhwch e Olwen, mas a história provavelmente melhor conhecida seja a de Preiddeu Annwfn, chamada de Espólios do Outro Mundo, e recontada por Taliesin.
Arthur e seus guerreiros navegaram ao Outro Mundo Céltico para capturar o Caldeirão de Annwfn. Como o graal, o caldeirão era capaz nutrir os necessitados, mas também era profético. Foi encontrado em Caer-Siddi (Wydyr), uma ilha onde ficava um castelo de vidro, guardado por nove ninfas sagradas. Mas os perigos da busca foram demais para os homens de Arthur. A missão foi abandonada, e somente sete dos nove que partiram voltaram para casa.

A Era do Bronze

Camelot não se alimenta apenas de lendas medievais, embora a visão que temos dela seja exatamente essa. A lenda do graal, as espadas, os eventos mágicos, praticamente todos eles são releituras de antigas lendas celtas. As historias celtas sempre estiveram acompanhadas de recipientes mágicos. Os caldeirões celtas eram usados em festividades desde a Era do Bronze. Muitas pesquisas arqueológicas encontraram estes tipos de caldeirões, como o encontrado em Jutland, na Dinamarca, chamado de caldeirão de Gundestrup. Este caldeirão estava ricamente decorado com deidades celtas, e tinha uma capacidade aproximada de uns 120 litros. Isto revelou a importancia dos caldeirões nos cultos religiosos, e seus reflexos nas lendas celtas e posteriormente na mitologia arturiana.
Outro elemento citado com freqüência é a Cornucópia, o Chifre da Abundancia. Um elemento mítico, do qual surgiam iguarias sem fim. Mais uma vez, trata-se de um recipiente do qual surgem alimentos, como nas histórias anteriores. A Cornucópia é figura comum na mitologia greco-romana, normalmente carregada nas mãos de ninfas ou semi-deusas.

No fim, já vimos visões do Graal como uma taça, um caldeirão, em linhas gerais um recipiente sagrado sempre envolvido em buscas.

Tem outras visões ainda mais imaginativas, como a proposta no livro "O código Da Vinci", onde o cálice sagrado seria Maria Madalena . O filme baseado no livro mostra uma cena muito interessante de superposição de imagens na pintura da última ceia do Da Vinci. Gostei muito do Sir Ian McKellen (sim, ele foi nomeado cavaleiro pela rainha da Inglaterra) no papel de historiador. Um dos grandes atores pelos que sinto admiração em praticamente todos seus trabalhos.

A Busca Moderna

Vários lugares são cogitados como o descanso do Santo Graal, cada um com seus méritos. Embora a Igreja Católica não aceite a imagem do Graal como relíquia sagrada, existe uma igreja em Valencia, na Espanha, chamada Capilla del Santo Cálice. Esta capela guarda em seu interior uma taça românica dourada, que afirmam ser a taça onde Jesus bebeu durante a última ceia. Esta peça passou muito perto de ser extraviada nas mãos dos nazistas durante a segunda guerra, na procura de itens de arte e antigüidades.
O contraste de uma peça de ouro ricamente decorada com a prática de humildade e desapego aos bens materiais praticada por Jesus torna simplesmente inacreditável a lenda, mas que a taça é linda, ah, isso é mesmo. Gostaria de visitar para ver de perto.


No cinema, tem algumas referências também; uma das mais divertidas ou entretidas de assistir é a do Indiana Jones. O encontro do caçador de tesouros com o Graal é bem marcante, e muito acertado com o tom do filme, e mais uma vez aparece como doador de dádivas. No filme, Indy tem que reconhecer o verdadeiro cálice entre outras cópias dele, cada taça com suas características bem diferentes uma da outra. Somente os dignos (como Galahad) reconheceriam o verdadeiro cálice.

Chega assim ao fim este post sobre o Cálice Sagrado, encerrando também a seqüência de posts sobre os artefatos mágicos na lenda arturiana. Tenho alguns assuntos em mente para a semana que vem, tenho que decidir ainda sobre qual deles vou falar. Minha única certeza para a semana que vem é que estarei bem ocupado pelo lado profissional, portanto acredito que a escolha estará mais condicionada ao tempo disponível do que à preferência por um assunto em particular.
Por outro lado, estou pensando em um post monstruoso, que pretendo escrever em partes e publicar como um só; esse vai precisar de uma pesquisa mais estruturada, e provavelmente leve alguns meses para concluí-lo.

No meio da semana divulgo o assunto para o finde. Obrigado pela leitura, e ótima semana para vocês!





Caledfwlch

Ué, não ia falar de Excalibur? Então, o título deste post é o nome original da espada, em Welsh. Para quem acha que blog histórico é moleza, tem uma pequena amostra do que estou estudando aqui. Clique quem tiver coragem. Ah, só para sentir a tensão da coisa, quem clicou no anterior pode clicar aqui também.
O nome Caledfwlch pode ser descomposto usando o mesmo termo em Irish, Calad-bolg. Calad=duro, forte / bolg=relâmpago, portanto o nome Calad-bolg significa relâmpago poderoso. Este nome foi traduzido para alguma coisa próxima do inglês como Caliburn por Geoffrey de Monmouth, e o afrancesado Excalibur que conhecemos hoje, provavelmente por mérito do Chretien de Troyes.

A Espada Era A Lei...

Perdi a conta das vezes que expliquei que a espada tirada pelo jovem Arthur da pedra após a morte do Uther nada tem a ver com Excalibur; ela tem sua própria história, vejam só:
Quando falei das malandragens do Merlin, contei um pouco sobre esta espada. A história completa é que Arthur, filho de Uther (mais tarde chamado de Utherpendragon) foi mantido encoberto do conhecimento público. Ele foi criado por Sir Ector, junto com seu outro filho como se fossem irmãos. Arthur era mais novo, e seu irmão queria ser cavaleiro; coincidiu que iam para um torneio quando Merlin fez aparecer a espada na pedra, com a inscrição dizendo que somente quem for digno de governar o reino poderia puxar a espada. Chegando Sir Ector na cidade, percebeu que seu filho mais velho estava indo para o torneio sem espada; Arthur na função de pagem do irmão foi procurar por uma. A cidade estava toda fechada, por causa do torneio. Arthur andou bastante, até que achou (olha só) uma espada largada em uma pedra. Foi encostar a mão que a espada soltou, e levou correndo esta espada para o irmão. Quando viram o irmão do Arthur com a espada em mãos, o jovem mentiu, falando que ele mesmo tinha tirado a espada da pedra. Mas sob o olho crítico do pai, confesou a verdade.


É, vai achando que vai tirar...


A questão é que ninguém botava fé que o jovem Arthur tirou a espada; fizeram ele colocar a espada várias vezes e tirar, e cada vez que a espada tocava a pedra, somente ele conseguia tirá-la de lá. Um a um, os homens se convenceram da indicação, e Arthur foi proclamado rei.
Isto demorou muito tempo; afinal, grandes senhores, reis de outras terras e cavaleiros de muito renome tentaram em vão tirar a espada sem sucesso, e era humilhante ver esse feitio nas mãos de pouco mais que uma criança desconhecida. A revelação final veio do Merlin, ao contar seus motivos em esconder Arthur. A noticia da linhagem de Arthur como filho de sangue de Uther explicava os fatos, e fazia ele digno de ocupar o trono. A espada na pedra era a espada do rei Uther, oculta após sua morte. A espada reconheceu o sangue do Arthur, e cedeu à vontade pura dele de simplesmente pegar a espada, sem a intenção de governar o reino. Esta história foi aproveitada e reciclada em inúmeras formas, até no primeiro volume do Harry Potter (A Pedra Filosofal).
A idéia de tirar a espada de uma pedra acredita-se ter vindo do jeito que as espadas eram forjadas antigamente. Dois moldes de pedra, com o formato de um dos lados da lâmina cada um eram unidos com força e preenchidos por cima com metal derretido. Quando o metal esfriava, as pedras eram marteladas para descolar o metal, e a lámina completa (já com o formato da espada) era puxada por cima. Ainda era preciso dar gume os lados da lâmina, ou como os ferreiros espanhois descobriram mais tarde, aquecer a lâmina e esfriar rápidamente para temperar a mesma, o que deu-se em chamar ferro-duro, mais tarde conhecido como aço.
Mas tudo isso nada tem a ver com Excalibur, ou Caledwlch.

Cal.. Caledw.. Caldfw.. bah, Excalibur...

Excalibur foi um presente da dama do lago para Arthur, com a condição que a espada fosse devolvida quando Arthur não tivesse mais condição de governar o reino. Esta espada somente podia ser portada por um rei que tivesse a benção da Sacerdotisa de Avalon, designado para ser o protetor de toda Bretanha. A dama do lago seria a tal, ao entregar Excalibur para Merlin com a missão de otorgá-la a Arthur. Além da espada, Merlin recebeu também a bainha da espada, que protegeria da morte ao portador.

Tia, manda uma Excalibur, no capricho viu?


Segundo a lenda, Excalibur foi forjada por ferreiros elficos, mas isso na minha humilde opinião já entra na parte escabrosa da lenda arturiana. Tem coisas que prefiro fazer de conta que não li, hehe..

O confronto final entre Arthur e Mordred é a última aparição da espada, após a morte de Mordred, um Arthur agonizante pede para um dos seus cavaleiros (Sir Bedwyr, ou Girflet na versão moderna, ou "Gilfrete" na versão para o português) carregar a espada e lançá-la no lago, para assim cumprir com a promessa de devolver a espada.
Sir Bedwyr achou um desperdício perder uma espada com tanta história, e foi até o lago, mas guardou a espada para si. Voltou até onde o rei. Arthur perguntou o que ele viu, e Sir Bedwyr mentiu falando que simplesmente a espada afundou na agua. Arthur disse:

-Mentes para mim, porque coisas maravilhosas deverias apreciar. Vá, e jogue a espada no lago.

Sir Bedwyr sentiu remorso, e a mesma situação aconteceu. Foi só na terceira tentativa que ele, querendo cumprir o desejo do seu rei agonizante, lançou a espada com todas suas forças ao lago. mas a espada não afundou, ela flutou no ar um palmo antes de encostar na água. A espada brilhou intensamente, e uma mão surgiu do lago, para segurar a espada é brandí-la. A mão desceu e subiu brandindo a espada mais uma vez, até afundar e não ser vista novamente. Foi isto que Sir Bedwyr relatou ao Arthur, e como isso ele finalmente descansou. Inconsciente, ele foi carregado até um pequeno barco, onde as ninfas de Avalon levaram ele através das brumas, e nunca mais foi visto.
Segundo a lenda, Arthur não morreu, mas ele aguarda pelo momento em que seu reino chame por ele novamente na hora da necessidade.

Historiadores e arqueologistas acharam espadas celtas em todos os lagos da Bretanha. Era comum entre os povos celtas lançar as espadas dos seus homens caidos nos lagos, buscando a benção dos seus deuses e querendo assim garantir que as armas chegassem no além, encontrando seus portadores. Esta é a origem mais provável da lenda da dama do lago, como uma imagem das antigas deusas celtas.

Semana que vem: "O (santo?) graal"

(a pedido do público!!!)


Hein?

Aeeeh! Sexta-feira finalmente chegou, e sento para escrever mais um pouco. Foi uma semana na qual escrevi muito, mas por motivos profissionais. Faltou pique na semana para preencher o espaço vago no blog, entre o caos do tránsito e o stress do dia a dia. Mas este blog não é sobre mim, é sobre lendas arturianas, assim que chega de desabafo e vamos ao que interessa. Este post curto e grosso é só para avisar que estou estudando o assunto, e devo escrever entre A-G-O-R-A e amanhã. Mais um pouco de paciência que o poste já chega!
Aliás, como todas as mensagens no post anterior falaram, pediram e se alegraram por mencionar o graal, é obvio que vou falar de outro assunto.. Como sou mau as vezes, né? hehe!
O assunto vai ser Excalibur. Preciso estudar. Até...