Passou na TV!

O post da semana passada trouxe muitas lembranças, coisas como por exemplo jogar videogame tomando achocolatado. Lembrei das tardes, de amigos, e lembrei da TV; lembrei dos desenhos que assistia. Alguns gostava mais, outros menos, mas tinha meus desenhos de carteirinha. Nessa lista, acho que o desenho que mais gostei da minha infancia foi o Robotech; aqui andou passando em um canal de cabo, o Locomotion, que mudou de nome e hoje é o Animax.

Teve outros desenhos que curtia bastante, e saí na caça de alguns episódios na internet para matar a saudade e trazer à tona mais lembranças. Mas a minha supresa foi descobrir que estes desenhos também falaram do Rei Arthur, mesmo nos contextos mais impossíveis.

Trago a vocês um par de exemplos que encontrei; alguém consegue lembrar de algum outro?


Transformers: S02E24: A Decepticon Raider in King Arthur's Court


Por essa acho que não esperavam, né? Aliás, o Starscream não presta mesmo, acho que por isso é tão engraçado. É quase o Agostinho da grande familia, só que vilão.

Thundercats: S01E51-53: Excalibur


O Mummra é um dos meus vilões favoritos da infância. Uso ele como exemplo de certas coisas até hoje... como certas criaturas que vemos por aí até hoje e que não perceberam que estão mais para múmia que para aparecer na TV ou fazer shows por aí. Voltando ao assunto, nem lembrava mais deste episódio, e está cotado como um dos melhores da série.

G.I.JOE: S01E35: Excalibur


Eu não curtia muito o G.I.JOE, mas assistia de vez em quando. O que lembro bem é da quantidade de brinquedos que lançaram na época: eram arminhas, carros, tanques, helicópteros... um bocado de coisa que achava muito bacana, afinal, quem não gosta de brinquedos?

E vocês, lembram de algum outro cameo do Arthur e companhia? Bom feriado, e até a semana que vem!

Ranting e Bits Épicos


Press "A" to Continue


Os que me conhecem sabem que curto muito videogame, ou como fala quem não entende muito da coisa, joguinhos de computador. Os tais "joguinhos" geralmente levam anos de desenvolvimento (tirando as palhasadas sofríveis que vemos hoje em formato flash na internet).

Tudo começou com o lançamento de algumas plataformas de jogo bem básicas, que dava para conectar na TV de casa e curtir o tal entretenimento eletrônico, onde posso colocar o Atari 2600 e o Coleco Vision como os primeiros consoles que vi e joguei. Lembro de algumas tardes curtindo River Raider e Adventure acompanhados de o copo de achocolatado e algum biscoitinho.

Nos anos 80 surgiu a possibilidade de ter um computador doméstico, coisa impensável antes dessa década. Digo, quem ia ter um computador em casa? Isso era coisa de cientista. Que cálculo você teria que fazer em casa para precisar de um HC (Home Computer)? Por isso, abençoados sejam os desenvolvedores de jogos, que alavancaram as vendas desses computadores e trouxeram a curiosidade para milhões de lares, onde crianças hoje adultas desenvolveram seus talentos na frente da TV. Os programadores mais experientes e atuais diretores de empresas desenvolvedoras de jogos vem de essa época, jogavam os mesmos jogos que eu joguei e tem básicamente as mesmas lembranças que eu tenho de como era legal jogar desse jeito.

Nessa mesma década de 80, as desenvolvedoras destes computadores tiveram que tomar uma decisão inevitável: ou continuavam trabalhando com computadores domésticos, ou partiam de vez para a industria do entretenimento, fazendo consoles de videogame. Entenda-se por console a caixa sem teclado, apenas joysticks, e sem possibilidade de programação pelo usuário. Estes consoles teriam como uso primário e fundamental os jogos. Era um modelo arriscado, afinal era de certa forma "a volta ao Atari". Mas quem fez essa aposta acertou, e assim surgiram Nintendo, Sega, e outras que entraram na jogada mais tarde. Até mesmo empresas que se dedicavam puramente a software acabaram investindo nesse nicho mais tarde (como a Microsoft com seu XBox), ou pessoas que eram completamente alheias a esse ramo (como a Sony, com o seu Playstation).

Tem uma história muito legal por trás da evolução dos consoles e dos próprios jogos, histórias que espero não se percam no tempo. Ainda bem que com a internet, tem muita gente escrevendo coisas parecidas à que escrevi acima :-)

Tem uma coisa só que me revolta, e fiquei contente de ver que tem muita gente que compartilha esse pensamento: a arte de jogar anda um pouco esquecida. Nessa sede absurda de fazer dinheiro de qualquer jeito, surgiu uma tendência de "idiotizar" os jogos. Tem uma leva gigantesca de jogos que são planamente idiotas, simplesmente muito fáceis, ou que nada tem a ver com jogar videogame. São empreendimentos puramente comerciais, sem outro objetivo que fazer grana. Não tiro deles o fato de muitas vezes serem divertidos, mas videogame não é só diversão, é também desafio. E especialmente, criatividade.

Leio vários blogs através de RSS, e um dos que curto bastante (mesmo com a baixa frequência que publica) é o VGCats. A idéia desse blog é sobre dois gatos que jogam videogame, e o autor coloca estes gatos dentro dos jogos em situações totalmente absurdas. É um humor muito azedo, e reconheço que não é para qualquer um. Tem algumas piadas em particular que ultrapassam o limite do bom senso e podem considerarse de péssimo gosto, mas eu acho renovador ou mesmo refrescante ver gente que não se importa com isso, que não liga para moralismo chato, e que usa a internet para usufruir da liberdade de expressão. E cada vez que foram massacrados nos comentários, simplesmente vieram com um balde de água ainda pior na próxima edição. Bom a questão é que o post desta semana no VGCats falou exatamente do que comentava acima, de como os jogos estão idiotizados, e me deu a idéia para postar esta semana.

Vi muitos jogos onde quando aparece uma cena de ação e tem que apertar um determinado botão ou fazer qualquer ação, aparece essa ação na tela. Digo, qual a graça se não posso sequer descobrir o que tenho que fazer? Esse tipo de jogo limita a experiência a apertar botões, e jogar é muito mais do que isso.

Eu lembro muito bem que me juntava para jogar com amigos, e a grande maioria dos jogos eram para jogar em conjunto. Tenho verdadeira saudade da tela dividida. Hoje, quem quer jogar a dois tem que combinar, e cada um vai para sua casa para jogar online um contra o outro. A exceção a isto são os jogos de luta e de esportes, mas hoje nem mais os jogos de corrida usam tela dividida. E como fica quando você quer juntar gente na tua casa para curtir uns jogos?

Hoje tem uma leva de jogos que não são exatamente jogos, são algum outro tipo de diversão eletrônica que rola usando os consoles existentes e controles específicos, desenvolvidos apenas para esses jogos e que não servem para nenhum outro. Exemplo: Guitar Hero, Rock Band, Screen It, Lips... Para mim, por mais que ache extremamente divertidos, não são jogos. São imitações de coisas que poderiamos fazer na vida real, como tocar guitarra, participar de uma banda, uma gincana de perguntas e respostas ou karaokê, respectivamente. E posso garantir para vocês que não tem a menor graça de jogar sozinho. Quer dizer, a verdadeira diversão desses jogos é o fator social, juntar a galera para jogar e dar risada. O jogo não é divertido, o divertido é o sarro de fazer isso entre amigos.

Bom, dei meu rant, e desviei totalmente do assunto que ia postar hoje... vamos voltar ao ponto.

Up, Up, Down, Down, Left, Right, Left, Right, B, A, Select, Start

Quem segue o blog deve lembrar que joguei o Dark Age of Camelot durante quase dois anos. Era ótimo ver um jogo bem feito, que respeitou o legado arturiano e se valeu dele para criar un jogo sensacional. Mas o DAoC não foi o primeiro jogo baseado em lendas arturianas; nossa querida Camelot tem inspirado os desenvolvedores de jogos desde o começo, e vou compartilhar com vocês um curto passeio por alguns desses jogos. Nem de perto pretende ser uma lista completa, mas apenas um passeio do que considero criatividade sobre um mesmo assunto.

Atari 2600: O Console

Encontrei dois títulos que quero compartilhar do console que para mim foi o pioneiro dessa historia toda. O Atari 2600 foi um console bem limitado em recursos, embora ele foi o precursor de um bocado de tecnologias usadas até hoje, e dono da maior lista de copyrights de idéias, entre elas "mover um objeto na tela usando um joystick", ou "juntar pixels para representar caracteres". O hardware de 1976 era bem limitado, com apenas 128 bytes de RAM. Quer dizer, o parágrafo acima não cabe na RAM de um atari. Mas ainda assim serviu de base para aprender a explorar ao máximo essas limitações, e fazer alguns joguinhos até que interessantes.

Atari 2600: King Arthur

O jogo tem básicamente duas fases, dentro e fora do castelo. O lance é desviar dos fogos dos dragões, e pegar os objetos. Idéia simples, mas nem por isso fácil de jogar. Bons reflexos são fundamentais.

Atari 2600: Sir Lancelot

O herói dos heróis do mundo arturiano também teve sua homenagem, neste caso cavalgando um pegaso (unicórnio alado) e enfrentando dragões em pleno ar. Os gráficos eram até que elaborados, com detalhe para o penacho no capacete do Lancelot.


Sega Genesis: O Console

O Sega Genesis foi o representante de 16 bits da Sega, e ainda trouxe a revolução de permitir diversos adaptadores, como o X32 que adicionava chips de 32 bits, ou o Mega CD, que adicionava um leitor de CD para jogos ainda maiores que os que cabiam em um cartucho.

Sega Genesis: The Legend of Galahad

O filho de Lancelot foi o protagonista de um jogo muito bonito, um clássico jogo de plataformas onde na minha opinião o maior destaque foi a música: complexa, elaborada, e cheia de nuances.
O jogo ainda incluia a participação de Vivian, a dama do Lago nos "cutscenes", onde explicava cada missão. As missões geralmente envolviam pegar um objeto em uma ponta do cenário, e voltar para a outra ponta para usá-lo.

Super Nintendo: O Console

A Nintendo também teve seu console de 16 bits, e foi uma evolução digna do seu console anterior, o NES, que fez um sucesso estrondoso. O SNES trouxe uma nova riqueza de cores e sons, e junto a uma capacidade muito maior, permitiu o lançamento de títulos bem elaborados.

SNES: King Arthur & The Knights of Justice

Em um enredo bem "sessão da tarde", o Rei Arthur e seus cavaleiros são congelados por Morgana, e Merlin decide usar sua magia para trazer do futuro um time de jogadores de futebol americano, onde o líder deles é justamente um tal de Arthur King. O jogo começa em Camelot, onde os agora cavaleiros ganham armaduras, e o jogador escolhe 3 membros para formar uma equipe para a primeira missão.


O objetivo é juntar 12 chaves, uma para cada cavaleiro, e usá-las no fim para liberar o verdadeiro Rei Arthur do feitiço. O engraçado deste jogo (pelo menos para mim) é que um dos cavaleiros se chama Wally, modestamente.

Na imagem ao lado eu, quer dizer, o Wally veste sua armadura verde, com escudo luzindo uma águia azul.

O jogo me pareceu muito bacana, mesmo para o pouco que joguei para poder comentar; quem sabe dedique mais um tempo a ele e volte a escrever sobre essa experiência de 16 bits.

SNES: King Arthur's World

O jeito mais fácil de explicar este jogo é dizer que se trata de um jogo de estratégia que usa um mecanismo de control muito semelhante o do Lemmings. Aos que nunca jogaram Lemmings, primeiro vou dizer que perderam de jogar uma das coisas mais divertidas que já foi feita em termos de videogame, e em segundo lugar, consiste em controlar um monte de unidades, soldadinhos ou como quiser chamar dando ordens simples, como andar, atacar, parar.

A potência dos consoles de 16 bits já permitiam o desenvolvimento de jogos de estratégia complexos, com múltiplas unidades, e o único pecado deste jogo é a falta de um mouse. Jogar este jogo com joystick é sofrível...

Só para comentar a evolução dos jogos, olhem o detalhe da torre do castelo na imagem ao lado, e comparem com os castelinhos do Atari 2600 acima... melhorou bem, né?



O Brilhante Futuro

O Arthur blogueiro me passou faz um tempinho uma notícia que tinha visto na internet, um lançamento para Wii chamado Sonic and the Black Night. Este jogo é a sequencia do primeiro épico do Sonic, chamado de Sonic and the Secret Rings. Nesta inspiração arturiana, o inquieto e pontudo azul tem a oportunidade de ajudar uma feiticeira chamada Merlina, e para isso ganha as vestes de cavaleiro, e uma espada. Os controles são a parte mais legal, onde o nunchuck controla os movimentos sempre histéricos do Sonic, enquanto o Wiimote serve como espada. Quem for jogar, cuidado com os objetos e outras pessoas por perto. o Wiimote machuca.

Mas o que mais me animou foi descobrir que uma empresa de software húngara (a NeoCore) decidiu fazer um jogo de estrategia com elementos de RPG baseado no universo arturiano, e pelas imagens que vi no site deles está ficando um baita Lord of The Rings. Em poucas gírias, o jogo tá animal. E o melhor de tudo, está previsto para 2009. Só para não me animar depois, vou esperar pelo jogo no primeiro semestre de 2010. E por um jogo assim, troco de PC facinho facinho. Esta obra de arte se chama "King Arthur - The Wargame", e podem conferir mais detalhes no link acima. Termino o post com telas do jogo (clicar nas imagens para ampliar):

Mapa e Tela de Objetivos.


Amanhecer em Camelot.


Os Cavaleiros do Rei.

Só tenho uma palavra para vocês: Promete. Confiram o vídeo no site, com imagens reais do jogo, e pasmem.

Até a semana que vem!

The Arthur Companion

Blogar no fim de semana do feriado dá uma preguiça... vou deixar um comentário curto sobre o que estou procurando no momento, se acho mais informações que valham a pena trazer para o blog escrevo ainda no feriadão.

Já comentei para vocês sobre o baralho de RPG que comprei, o Camelot Legends. Desta vez estou caçando um livro, que embora não seja uma referência 100% serve para puxar assunto: o guia de RPG chamado "The Arthur Companion".

Este livro é, básicamente, um dicionário sobre a lenda arturiana. Ele menciona personagens, lugares e eventos, para servir de fundamento particularmente aos jogadores de RPG de mesa; a questão é que o livro ganhou dimensão maior ao usar referências conhecidas como os textos de Malory (na versão de Caxton, que é a que eu uso também) e algumas coisas do Chrétien.

Encontrei algumas críticas meio fuleras sobre o livro. O que colocam como principal defeito é ter usado como referência uma única fonte, e como isso não servir como verdadeiro guia dentro do mundo arturiano; mas eu acredito impossível consultar absolutamente todas as referências cabíveis, ainda se consideramos a diferença entre o Arthur lendário em todas suas fases (Nennius, Boron, Malory, Chrétien e tantos outros) e o Arthur histórico, já tão comentado em documentários recentes sobre as excavações em Tintagel e outros pontos da ilha británica.

Eu acho que o barato da lenda é esse, que dependendo quem você for ler, é possível encontrar outras versões do mesmo conto. O Rei Arthur já apareceu em textos como herói de cada ponto na Inglaterra, até de lugares que estiveram em guerra uns com os outros! Todo mundo precisa de um herói, uma referência, e o ideal arturiano de nobreza tem uma empatia que o torna fácil de cair na simpatia dos reis históricos, fazendo Arthur seu parente distante, parte da linhagem do seu próprio sangue. Assim, mito, lenda e realidade se misturaram muito, particularmente nos textos como o de Nennius, que mencionei acima, e em outro post.

Bom, voltando ao livro que estou buscando, é da autoria de Phyllis Ann Karr, autora de outros trabalhos sobre a "materia da Britania". A segunda edição do livro foi publicada pela Green Knight Publishing em 2001, e dá para conseguir algumas edições do livro pelos sites de fora que todo mundo já conhece.

Bom se acho alguma coisa sobre o conteúdo do livro que possa comentar, escrevo disso até o fim do feriado, senão, bom feriado pra cês e até a semana que vem!

Ah, Mulheres... e seus castelos

Achei o castelo, e não foi no google maps. Embora para ser sincero, até que poderia ter achado no google maps mesmo; o tal do castelo das mulheres não é outro que o castelo de Edinburgh.

O assunto é extenso, mas melhor assim; tenho muita coisa para contar hoje. Claro que não li tudo hoje nem muito menos pesquisei apenas hoje, mas foi o trabalho de uma semana. Espero curtam ler como eu curti escrever, onde tinha horas que ria sozinho...

Achei!

(Tirado do "Eleven Old French Narrative Lays") Edinburgh foi reconhecido logo cedo como o Castelo das Mulheres, tanto é assim que em 1142 o rei David da Escócia começou a utilizar este nome, Castrum ou Castellum Puellarum nos seus mapas em vez de Edenburge.
O Castelo das Mulheres foi mencionado por Geoffrey de Monmouth no Historia Regum Britanniae (classicão arturiano de 1135), e por Wace na sua tradução deste trabalho, no Roman de Brut:

E el mont Agned chastel fist / Qui des pucelles ad surnun.

O castelo teve upgrade para a categoria "lendário" nas mãos de Geoffrey, ao colocá-lo no papel de um lugar místico, ou mesmo como refugio, como apareceu nas continuações do Perceval (Wally explicando: O Perceval de Chrétien de Troyes ficou inacabado pela morte do autor, e outros escreveram vários finais. Esse conjunto de obras é conhecido como "Perceval Continuations"). O castelo aparece também no Le Bel Inconnu, Fergus, Yder, e no Queste del Saint Graal.

(Tirado agora do Sir Gawain) Inicialmente, é interessante perceber que o nome do castelo onde a dama é mantida refém é Castellum Puellarum (Castelo das Mulheres), que é um nome antigo de Edinburgh, como aparece nos documentos de 1142 (e assim Wally prova que consulta mais de uma fonte!). Edinburgh era a capital de Lothian, onde Loth e Anna governavam. Isso fez Anna a "Lady of Lothian", que em outras histórias aparece como Morgain, ou mesmo Morcades. A confusão entre estes personagens fez com que o conto da dama sitiada no castelo (o conto lindo, aliás), que originalmente era da Morgain, foi transferido para Anna, ou até mesmo para a mãe de Gawain, da qual nem se sabe o nome. Chegou a tal ponto que Morgain e Anna já foram identificadas como mães de Gawain.

Um tal professor Loomis escreveu um artigo para a Sociedade de Antiquarios da Escócia em 1955, onde se fala um pouco mais de evidências da relação entre Edinburgh e o Castelo das Mulheres. Vou copiar apenas um trecho que achei bacana. Ele se baseia no Lai de Doon do século 13, que identificou o Chateau des Pucelles como Daneborc, um nome antigo de Edinburgh. Olha só:

Nós sabemos que a senhora do Castelo das Mulheres era Morgana a Fada. Também sabemos que teve vários amantes e pelo menos dois maridos, dos quais um deles era o rei Lot de Lothian. Como rainha de Lothian, Morgana podia se hospedar em vários castelos com suas damas de companhia, mas nenhum seria mais apropriado que a fortaleza de Edinburgh. Considerando sua relação com Lot, e questão de lógica que Edinburgh e o Castelo das Mulheres se tratam do mesmo lugar.

No Conto do Graal de Chrétien, Gawain visita novamente um tal de Castellum Puellarum onde ele encontra Igraine e Morcades, e também sua mãe e avó, e resgata todas elas. Um pouco mais adiante no mesmo texto, Perceval (o herói do conto) resgata uma dama chamada Blanchfleur do castelo Belrepair, castelo que aparece no Enfances de Gauvain e nos textos posteriores em Inglês de Arthour e Merlim como o castelo onde Morgana se hospeda para dar a luz.

Agora sou eu quem fala, sem referências: o conto de amor entre Brancaflor e Perceval é lindo mesmo, e é o mesmo conto que mencionei acima. Vou falar alguma hora dele, preciso ler de novo.

Agora vamos ao que interessa, o papel lendário do castelo! Vou me basear nos textos de Malory, por ser o material ao qual tinha mais fácil acesso tanto para leitura como para pesquisa, tanto em papel quanto digital.

O Escudo de Galahad
Livro XIII, Capitulo 9 em diante

Depois do surgimento de Galahad no lance do assento perigoso e a busca do Graal como consequencia da visão do mesmo na távola redonda, os cavaleiros partem cada um para um canto. Galahad chegou na abadia branca após 4 dias cavalgando sem encontrar nenhuma aventura.Nesta abadia encontrou o Rei Bandemagus e Uwaine, que estavam lá pela aventura do escudo: um escudo que homem nenhum poderia erguer por cima da cabeça sem se machucar gravemente, morrendo em 3 dias. Eis que oportunamente o Galahad estava sem escudo, e decidiiu pegar logo este escudo. Afinal, cavaleiro perfeito é para essas coisas, esnobar dos outros por exemplo.

O tal escudo era branco, branco como neve segundo o conto, e no meio dele havia uma cruz vermelha. Foi assim que esta imagem cristã foi associada ao Galahad, reafirmando a teoria do cavaleiro perfeito, e o único que encontraria o Graal.

Não vou nem entrar nos detalhes exagerados clássicos da influência da Igreja na lenda arturiana, mas basta dizer que a cruz vermelha foi pintada com o sangue que escorria do nariz do Jose de Arimateia quando estava no leito de morte. Ve-se-pode-uma-coisa-dessas.


Ao Castelo!
Livro XIII, Capitulo 14 em diante

O título deste capítulo é curto e singelo como os outros:

HOW SIR GALAHAD DEPARTED, AND HOW HE WAS COMMANDED TO GO TO THE CASTLE OF MAIDENS TO DESTROY THE WICKED COSTUM.

É bem spoiler, mas nos contos arturianos não rolam surpresas, afinal, quantas vezes já foram contadas? Bom, o Galahad partiu para onde as aventuras o levassem, e acabou chegando a um lugar "ou" castelo chamado Abblasoure. Juro pra vocês que no conto diz exatamente isso: lugar ou castelo. Aí o Galahad viu que não se rezava missa (coisa meio impossível na época), então procurou até achar uma capelinha que estava ruindo, e entrou nela pra rezar. Nela, enquanto estava choramingando porque não tinha escutado missa, ouviu uma voz que disse para ele: "Vá até o castelo da damizelas, e acaba com o costume esquisito". Pelo menos, é o que entendo por wicked costum, que é o nome do capítulo.

Aí ele cavalgou um pouco, onde encontrou com algumas pessoas que lhe disseram para não ir no castelo, que ia morrer, etc, etc, é que tinha 7 cavaleiros que agora mantinham um costume impróprio. Ele foi assim mesmo, deu uns berros, lutou com todos e os perseguiu até entrar atropelando no castelo mesmo, e foi lutando com todos, liquidando um a um; os que não conseguiu matar fugiram.

Dentro do castelo veio uma moça que trouxe um berrante de mármore, que ele assoprou, e foi ouvido em duas milhas ao redor do castelo. Logo depois chegou um padre, que contou para ele a história direito: 7 anos atrás, chegaram estes 7 cavaleiros, que por cobiça mataram o duque Lianour (governante dessas terras) e seu filho mais velho, e tomaram para si o castelo e as filhas do duque. A filha mais velha teve uma premonição,e falou que eles não ficariam muitos anos, e seriam abatidos por um cavaleiro só. Por este motivo, os cavaleiros trancaram o castelo e não deixaram nunca mais entrar cavaleiro nenhum, e aquele que tentasse era morto mesmo antes de chegar na entrada. E assim que barbarizaram forçando todos os moradores do castelo a roubar e pilhar, pois não sobraram cavaleiros para impor a ordem. Sem homens para entrar, apenas as mulheres entravam, mas sem sair mais do castelo. E assim o castelo ganhou o nome de castelo das mulheres, porque devorava para si toda mulher que passase por seus portões.

Galahad perguntou pela filha do duque, mas ela foi morta 3 dias depois que os cavaleiros entraram; eles mantiveram a irmã mais nova, e outras jovens em grande sofrimento. Renderam homenagens à filha do duque, e pela manhã chegaram no castelo Gawain, Gareth eUwaine, e Galahad contou sua aventura, que acabei de contar para vocês.

Gostaram? Agora começa a busca por assunto para o próximo post... Até a semana que vem!


100

O blogger diz que este é meu post de número 100... quem diria? Quem era capaz de dizer que chegaria a 3 dígitos, escrevendo apenas sobre um único assunto?

De certa forma, posso dizer que meu objetivo inicial foi cumprido. Foi atendido. Consegui fazer o que me coloquei como proposta: Oferecer conteúdo em português sobre a lenda arturiana, escrevendo em um estilo totalmente meu. Nada de diálogo acadêmico, nada de bancar pose de querer ensinar. A proposta sempre foi bem clara, e fui fiel a ela, até hoje.

Me orgulho de vários posts, aqueles que levaram tempo lendo e pesquisando. Teve posts aos que dediquei semanas de pesquisa, apenas para poder documentar as razões de tal ou qual personagem dentro da história. Ou mesmo poder colocar pontos de comparação entre vertentes diferentes, como por exemplo adivinhar quantos cavaleiros tinha a távola redonda.

Curti muito pesquisar as imagens de alguns posts, especialmente os manuscritos. Sair caçando parágrafos, buscando evidências de tradução imprecisa, e que podiam alterar a interpretação. Ou mesmo a surpresa de encontrar preconceitos datados da idade média, como a já famosíssima frase "anão filho da p*ta!"

Sendo totalmente honesto, ainda não deu 100 posts, ao menos não para mim.. Porque o fato de ter escrito 100 posts não quer dizer que os 100 tenham conteúdo pra valer; teve uns poucos (menos de 5 eu acho) em que por x motivos não consegui escrever ou estudar, e esses posts acabaram no "enrolation". Por isso, os 100 de hoje significam que escrevi muita coisa, mas especialmente que nesses 2 anos consegui uma constância que implica respeito com o leitor, com o freqüêntador do blog. Porque sem leitores, o blog perde a razão de ser.

Tá, e o post de hoje?

A semana inteira fiquei matutando sobre o que ia escrever, mas nada de vir idéia boa. Tive algumas, mas nada que preste. No sábado por volta do meio-dia, surgiu o assunto: O que era o Castelos das Mulheres?
A lenda arturiana é recheada de locais misteriosos, cenários de aventuras extraordinárias e fascinantes. Os lugares são muitos, passando por reinos como Corwall ou Logres, mas também existem no conto alguns lugares sem muita definição geográfica, como as tantas hermidas e cidadelas.

O castelo das mulheres, ou Castle of Maidens, é um desses lugares que fazem parte do repertório épico de "locações sem local definido", por chamá-las de algum jeito. Este castelo, aparentemente habitado apenas por jovens mulheres reféns, é parte das óbvios obstáculos que o Galahad vai encontrar no seu caminho na busca do graal, mas antes disso ele serve como cenário das proezas em batalha de otros cavaleiros, como Uwaine ou mesmo o Lancelot.

Encontrei um texto bastante longo no Malory, que se estende por capítulos. É claro que não consegui ler esse texto todo, e na verdade nem consegui pesquisar se existem menções anteriores a este castelo, como por exemplo no Chrétien. Mas vamos fazer assim: vou pesquisar direito, ver tudo o que encontro, ler o que precisar durante a semana, e quando tiver tudo claro na cabeça eu conto para vocês o lance do castelo. Só posso adiantar uma coisa: aí tem rolo.

Até a semana que vem!