Hoje vou contar uma lenda dentro da lenda. Quero compartilhar com vocês a história da cruz do Rei Arthur, e do seu túmulo em Glastonbury.
Segundo os textos de Gerald de Wales, o Rei Henry II enviou uma mensagem para os monges de Glastonbury pouco antes da sua morte em 1189, especificando o local do túmulo do Rei Arthur. Ele teria obtido esta informação de um bardo galés.
Os monges escavaram no cemitério da abadia (supostamente baseados nesta informação do Henry II), e encontraram um tronco de árvore esvaziado que abrigava dois corpos. Tiveram que cavar uns 5 metros até achar os corpos, mas o que chamou a atenção foi uma placa de pedra tombada, encontrada por volta dos 2 metros de profundidade. Esta placa aparentava ter ficado em pé, e caído para sua frente. Ao virar a placa, viram pregada nela uma cruz de chumbo, com a inscrição:
HIC JACET SEPULTUS INCLYTUS REX ARTHURUS IN INSULA AVALONIA
É. Aqui jaz sepultado o ilustre (famoso, renomado) Rei Arthur na Ilha de Avalon. Quem estava com ele no túmulo? Guinevere.
Houve várias outras versões da história após ésta, com maior ou menor grau de detalhes. Há pelo menos 5 versões diferentes do texto da cruz, só para dar uma idéia. Esta inconsistência nos leva a pensar em uma coisa só: foi blefe. Mas, quem faria isso? E por quê?
Segundo os historiadores, tudo pode ter começado nas mãos dos monges de Glastonbury. Razões não faltavam:
- A igreja da abadia, provavelmente a maior e mais gloriosa que já houve na Inglaterra, foi destruída em um incêndio em 1184, menos de 5 anos antes da descoberta.
- A grande atração dos peregrinos, a antiga igreja (datada de séculos antes da abadia), também sucumbiu no incêndio.
- O maior benfeitor da igreja era Henry II (agora falecido), e o novo rei, Richard, estava muito mais interessado em gastar seu ouro nas cruzadas do que na abadia.
Como já contei em outras ocasiões, a lenda diz que Arthur não morreu. Para nós é fácil desconsiderar essa história, mas a sociedade do século 12 era muito crédula, e apegada a cultura popular, lendas e crendices. O mais surpreendente é que ninguém, em momento algum, tenha proclamado ter achado o túmulo, mesmo em uma lenda que já datava de 7 séculos (se consideramos o Arthur histórico, textos de Gildas e etc.).
Sabendo desta necessidade imediata de dinheiro, a morte do benfeitor e a índole duvidosa dos monges para fazer o que eles achavam uma boa causa, não requer muito esforço para sacar que de fato tudo pode ser armação. Mas, se essa fosse a situação, os monges teriam pronta uma campanha de propaganda para aumentar o fluxo de visitas; mas o que vemos na história é uma sucessão de revisões, e até de mudanças no texto da cruz. Na última delas, até diz que está enterrado com sua segunda esposa Guinevere. Os monges teriam feito que todos contassem a mesma história, não é?
O fato é que não ocorreu a tal publicidade extra, nem tampouco há registro de mais visitas na abadia, ou da mesma ser mais importante depois da descoberta. Glastonbury simplesmente continuou sendo o que era, uma abadia.
Os corpos foram colocados em outro túmulo, dentro da nova Igreja da Nossa Senhora, terminada 1186. Depois da descoberta em 1190, nada se falou da descoberta ou dos corpos até 1278, quando Edward I quis dar um espaço mais apropriado, fazendo um altar e caixão de mármore, sob o grande altar, com a cruz exposta para que todos pudessem vê-la.
Nada se soube dos corpos, mas provavelmente não sobraram da destruição ocasionada na dissolução da abadia nas mãos de Henry VIII em 1539. Misteriosamente, a cruz conseguiu sobreviver, e chegou a aparecer descrita e ilustrada na livro de história britânica por William Camden em 1607. A última informação sobre a cruz é de começos do século 18, nas mãos de William Hughes, oficial da catedral de Gales.
De lá pra cá, ocorreram numerosos casos de pessoas falando que acharam a cruz, mas todos se provaram farsas. Um dos mais recentes é de 1981, durante a dragagem de um lago em Middlesex, perpetrada por um ex-membro da sociedade de cultura britânica.
A cruz original era verdadeira? Provavelmente nunca saberemos. Mas que deu que falar, ah se deu...
Nota: Este texto foi baseado na informação publicada pelo British History Club.
Segundo os textos de Gerald de Wales, o Rei Henry II enviou uma mensagem para os monges de Glastonbury pouco antes da sua morte em 1189, especificando o local do túmulo do Rei Arthur. Ele teria obtido esta informação de um bardo galés.
Os monges escavaram no cemitério da abadia (supostamente baseados nesta informação do Henry II), e encontraram um tronco de árvore esvaziado que abrigava dois corpos. Tiveram que cavar uns 5 metros até achar os corpos, mas o que chamou a atenção foi uma placa de pedra tombada, encontrada por volta dos 2 metros de profundidade. Esta placa aparentava ter ficado em pé, e caído para sua frente. Ao virar a placa, viram pregada nela uma cruz de chumbo, com a inscrição:
HIC JACET SEPULTUS INCLYTUS REX ARTHURUS IN INSULA AVALONIA
É. Aqui jaz sepultado o ilustre (famoso, renomado) Rei Arthur na Ilha de Avalon. Quem estava com ele no túmulo? Guinevere.
Houve várias outras versões da história após ésta, com maior ou menor grau de detalhes. Há pelo menos 5 versões diferentes do texto da cruz, só para dar uma idéia. Esta inconsistência nos leva a pensar em uma coisa só: foi blefe. Mas, quem faria isso? E por quê?
Segundo os historiadores, tudo pode ter começado nas mãos dos monges de Glastonbury. Razões não faltavam:
- A igreja da abadia, provavelmente a maior e mais gloriosa que já houve na Inglaterra, foi destruída em um incêndio em 1184, menos de 5 anos antes da descoberta.
- A grande atração dos peregrinos, a antiga igreja (datada de séculos antes da abadia), também sucumbiu no incêndio.
- O maior benfeitor da igreja era Henry II (agora falecido), e o novo rei, Richard, estava muito mais interessado em gastar seu ouro nas cruzadas do que na abadia.
Como já contei em outras ocasiões, a lenda diz que Arthur não morreu. Para nós é fácil desconsiderar essa história, mas a sociedade do século 12 era muito crédula, e apegada a cultura popular, lendas e crendices. O mais surpreendente é que ninguém, em momento algum, tenha proclamado ter achado o túmulo, mesmo em uma lenda que já datava de 7 séculos (se consideramos o Arthur histórico, textos de Gildas e etc.).
Sabendo desta necessidade imediata de dinheiro, a morte do benfeitor e a índole duvidosa dos monges para fazer o que eles achavam uma boa causa, não requer muito esforço para sacar que de fato tudo pode ser armação. Mas, se essa fosse a situação, os monges teriam pronta uma campanha de propaganda para aumentar o fluxo de visitas; mas o que vemos na história é uma sucessão de revisões, e até de mudanças no texto da cruz. Na última delas, até diz que está enterrado com sua segunda esposa Guinevere. Os monges teriam feito que todos contassem a mesma história, não é?
O fato é que não ocorreu a tal publicidade extra, nem tampouco há registro de mais visitas na abadia, ou da mesma ser mais importante depois da descoberta. Glastonbury simplesmente continuou sendo o que era, uma abadia.
Os corpos foram colocados em outro túmulo, dentro da nova Igreja da Nossa Senhora, terminada 1186. Depois da descoberta em 1190, nada se falou da descoberta ou dos corpos até 1278, quando Edward I quis dar um espaço mais apropriado, fazendo um altar e caixão de mármore, sob o grande altar, com a cruz exposta para que todos pudessem vê-la.
Nada se soube dos corpos, mas provavelmente não sobraram da destruição ocasionada na dissolução da abadia nas mãos de Henry VIII em 1539. Misteriosamente, a cruz conseguiu sobreviver, e chegou a aparecer descrita e ilustrada na livro de história britânica por William Camden em 1607. A última informação sobre a cruz é de começos do século 18, nas mãos de William Hughes, oficial da catedral de Gales.
De lá pra cá, ocorreram numerosos casos de pessoas falando que acharam a cruz, mas todos se provaram farsas. Um dos mais recentes é de 1981, durante a dragagem de um lago em Middlesex, perpetrada por um ex-membro da sociedade de cultura britânica.
A cruz original era verdadeira? Provavelmente nunca saberemos. Mas que deu que falar, ah se deu...
Nota: Este texto foi baseado na informação publicada pelo British History Club.
Até a semana que vem!
4 comentários:
Será que alguém prova a existência ou não de Arthur antes da gente morrer? :)
O rei Edward é sucessor do Alfredo, que aparece nas Crônicas Saxônicas? O filho dele era Eduardo, mas eu não lembro o ano e acho que 1278 é muito pra ele ainda estar vivo...
Nã, deixa assim!!! Que não demonstrem nada!!
Sobre tua pergunta histórica, andei checando o britannia.com. O rei do meu post (que fez o altar de mármore para os restos do Arthur) foi Edward I reinou de 1272 até 1307, é foi quem derrotou William Wallace (aka Mel Gibson).
Por outro lado, o rei saxão dos livros é Edward the Elder (900-924), filho de Alfred the Great (871-900). Tem uns 300 anos de diferença entre eles :-)
Agora deu um nó na cuca... Quem foi a primeira esposa de Arthur?
Err.. ótima pergunta Mara... O Bernard Cornwell faz uma referência obscura sobre dois filhos de Arthur por fora do casamento, mas de onde tirou isso, aí tenho que investigar!
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