Tristão e Isolda - estudando...

Tenho em mãos o livro "Tristão e Isolda" de Joseph Bédier. O particular deste livro é o trabalho literário do autor para elaborar o conto; sim, a palavra correta é elaborar.

Da literatura antiga sobraram apenas frangalhos, e entre esses resquícios descansa um dos contos mais conhecidos: o de Tristão e Isolda. Ele foi um best seller do passado. Entre retalhos de um texto e outro, o conto sobreviveu em duas vertentes diferentes, uma de Thomas (que não é Malory) e outra de Béroul; existem também partes do conto de autores anônimos, mas que pelas frases podemos identificar como parte da mesma história, incluindo textos que se repetem na tradução.

Com esse conteúdo assim espalhado, quem quer contar (ou recontar) a história de Tristão e Isolda tem duas opções: pegar o texto de Thomas e anônimos, ou ficar somente com o que sobrou do Béroul. A vantagem do Thomas é que o texto está praticamente completo, porém são traduções de outros idiomas e com isso perderam a poesia. Já no Béroul, o texto está incompleto, mas por ser no original se tem a beleza dos refrões e a musicalidade da poesia original. Eis que Joseph Bédier, como poeta que era, escolheu o segundo caminho, mais difícil porém com recompensa maior. Quem já leu as crônicas de Arthur por Bernard Cornwell sabe do que estou falando, de como uns poucos retalhos de história podem render um ótimo texto.

A leitura deve ser rápida, mas quero ler ANTES de rever o filme homônimo para comentar apropriadamente, coisa que não consegui fazer no primeiro post do filme. Portanto, me aguardem...

O que posso contar até agora do livro: É surpreendentemente direto. Cru, eu diria. Entre um conto e outro, encontramos apenas um parágrafo descrevendo o nexo entre uma história e outra, e após essa curta introdução apresenta a história do conto. Passa muito a impressão de texto feito para entreter, para ser contado na roda de amigos, e onde todos dariam palpites; quase como são as novelas hoje em dia, onde todo mundo, quem vê e quem não vê, conhece os personagens e passa sua opinião.

Tristam and Isolde, Pintura de Edmund Blair Leighton (1853-1922). Saca só a cara de chavequero do Tristão, a cabecinha cheia de idéias da Isolda, e o coitado do Rei Mark se mancando da situação. Não tinha como terminar bem...

Outro aspecto que revela a crudeza do texto é a falta de romantismo, pelo menos do romantismo entre dama e cavaleiro. Esse elemento foi introduzido na história nas versões anteriores; não estou dizendo que Tristão e Isolda a Bela não se amem, mas no texto o Tristão não aparece recitando hinos de amor para Isolda, nem Isolda declama odes ao vento pelo amor de Tristão. Na verdade, eles passam mais tempo xingando o fato de ter bebido o elixir no barco (que os deixou apaixonados), do que celebrando o amor deles. Se amam, mas sofrem.

Estou gostando do livro. Tem um reflexo imortal de humanidade, a essência de sentimentos tão humanos que existiram desde sempre. É isso que faz desses contos simplesmente eternos.

Até a semana que vem!

2 comentários:

Marion disse...

Amor, terminei de ler o livro hoje. Me emocionei com o final, fiquei triste mesmo com a morte deles. Triste e sofrida como foi a vida deles.

Tenho que discordar de você, não achei o texto cru e notei sim romantismo nas palavras do narrador. O amor deles é exaltado várias vezes, sempre enfatizando que é um amor tão forte que sufôca e que não os dá paz. Gostei do estilo do narrador, que parece que conversa com o leitor, parece mesmo um trovador contando histórias em uma festa.

O que mais me surpreendeu no livro foi o narrador sempre se colocar ao lado dos amantes, em nenhum momento é citado que os dois são traidores, traidores são os outros que tentam separar o casal! Isso achei curioso, o livro tenta nos mostrar quão puro é inocente o amor dos dois. Eu me encantei com o livro, me encantei com o amor dos dois e também sofri com eles. Que vida dura!

E o Tristão era um galanteador de primeira! :)

Ah, e fiquei com ódio mortal da outra Isolda, a das mãos brancas!

Beijos :)

Wally disse...

Bom, eu não disse que não seja romântico. Mas em comparação com as histórias m&m (medieval e melosa) que já li, o T+I é bem direto ao ponto. Tem uma narrativa de contador de histórias, você se imagina ouvindo o trovador em uma roda de gente, em volta a uma fogueira. Uma boa maneira de ver esse contraste é ler um dos livros do Chrétien... Vai curtir muito também, se apaixonar pelos personagens, e entender melhor o que quis dizer sobre a objetividade do conto.

Beijo!