As Lendas Atuais, Para Bem Ou Mal...

ATENÇÃO: este é um blog semanal, portanto não precisam ler tudo de uma vez, hehe.. meus posts serão geralmente longos, portanto aproveitem as divisões de assunto no post para distribuir a leitura durante a semana. Agora sim...

Como continuação ao post da semana anterior, hoje escreverei sobre o que sabemos hoje da lenda arturiana, e que estão fazendo (de bom e de ruim) de uns tempos pra cá.

Com o aumento da curiosidade no assunto, vários pesquisadores fizeram descobertas interessantes, revisando textos antigos , arrumando cabos soltos e até efetuando pesquisas de campo, principalmente grandes canais de TV por cabo conhecidos por seus ricos documentários, como BCC, History Channel, A&E Mundo e Discovery. Com isso, o que era originalmente uma lenda medieval, se revelou uma história bem mais antiga, e com um dedinho de realidade.

No século V d.C. o império romano estava em decadência, e o cristianismo em alta. A "nova" religião ia de encontro ao druidismo e os costumes pagãos; perto do ano 500, o mundo acreditava na segunda vinda de Jesus. Isto na verdade aconteceu de novo em quase todos os anos terminados em dois zeros. Engraçado o cristianismo se revelar tão cabalístico.

Como estava dizendo, o império romano estava em decadência, e perdendo terreno para os invasores do momento (afinal, Roma também invadiu até onde pode). Com isso, os representantes romanos espalhados no mundo conhecido começaram a recuar para Roma capital, deixando para trás as conquistas. Além de suas casas, eles deixaram um legado enorme nos não-romanos: estradas, cultura militar, organização, vida civilizada ou organizada hierarquicamente. O recuo mais evidente de Roma aconteceu nas ilhas, pois eram os terrenos mais dificeis de se defender. Uma delas foi um terreno bastante extenso, separada da França por apenas o canal da Mancha. Enfim, os romanos deixaram o territorio de Inglaterra / Reino Unido / Irlanda / Escócia para os invasores.

Houve um líder romano nesta ilha, que comandou tropas e defendeu com sucesso por décadas estas terras abandonadas, até um confronto final no Monte Baddon que derivou em uma tregua de práticamente 50 anos. Seu nome: Ambrosius Aurelianus. Lembra alguém?

A partir do século V, começaram a aparecer muitos escritos feitos por homens religiosos (entre eles o texto mais antigo pertence a Gildas) , e evidências misturando a realidade com a lenda começam a vir a tona de maneira drástica. Apenas um exemplo: segundo a lenda Arthur nasceu em Tintagel, na Cornualha. Escavações feitas na Cornualha revelaram que um nobre viveu na cidade por volta do século V, e entre outras coisas que demonstravam tratar-se de uma pessoa da nobreza (vasilhas de ceramica fina), acharam uma laje de pedra com uma assinatura de quem solicitou a construção: Artognou. (Ulha!)

Estas historias mais recentes provocaram uma revigorada no interesse na figura do Rei Arthur, e com isso começa a segunda parte do post:


Arthur é Pop


Como disse acima, tivemos uma enxurrada de informação que se revelou faz pouquíssimo tempo (menos de 5 anos), e o resultado foi uma mistura de coisas boas e outras que gostaria de esquecer. Então, vamos à lista (e curtam os links!):

Livros - Bons exemplos

A trilogia do Bernard Cornwell composta pelos livros "O Rei do Inverno"/"O Inimigo de Deus"/"Excalibur" é uma obra empolgante e merecidamente premiadissima pela crítica. Pegando apenas uns fiapos de história, o autor nos conta a história de Arthur, um homem que por acaso se vê na posição de líder dos bretões. Um homem simples sem ambição, de coração puro e decidido. Acompanhamos a historia pelos olhos de Derfel Cadarn, um jovem adotado por Merlim e que também por acaso acaba ficando perto de quem se rebelou um lider nato mesmo a contragosto. São 3 livros cheios de detalhes e personagens interessantes como poucas vezes tive oportunidade de ler. Não cai em clichés nem segue o ponto de vista tradicional; é delicioso descobrir os personagens conhecidos em papéis inusitados.
Outro texto fantástico é o da Marion Zimmer-Bradley, "As Brumas de Avalon", que rendeu uma produção preciosa para televisão. Conta desta vez a lenda tradicional que todos ouvimos falar, mas desde um ponto de vista femenino. Não vemos o Arthur, o Lancelot, o Gawain ou Galahad como protagonistas, as protagonistas são as mulheres, especialmente Morgana.

Livros - Mau Exemplo

Sim, mau exemplo com maiúsculas. Um pseudo-metido a escritor-pesquisador-oportunista pega o que é "in", e escreve um texto cretino, copiando partes daqui e de lá, cria um personagem ficticio situado no passado para colocar a culpa nele como autor dos textos, e escreve uma porcaria que te deixa com odio até a próxima encarnação. Este idiota tem por nome Allan Massie, e fujam dos textos dele. Teve a desfaçatez de escrever sobre o Rei Arthur assim que apareceram estes textos novos, e fez a mesma mXXXX com Alexandre o Grande na época do filme, e a mesma coisa com os gladiadores romanos quando saiu um filme que (o casualidade) se chama "Gladiador". Não se deixem enganar por este patife, até eu escrevo melhor e assumo a culpa do que escrevo, não jogo a responsabilidade em um personagem inventado.

Filmes
Bons ou maus exemplos, acho que cada um tem seu público, portanto vou me limitar a um "gostei" ou "não gostei", e dando meus motivos para tal. Ordem cronológica inversa:


King Arthur (2004)

Este filme foi o primeiro em mostrar a visão do Arthur como líder romano - apoiando-se nas descobertas recentes. Como filme não empolga, mas tem cenas que justificam assistir pelo menos uma vez, entre elas uma batalha no gelo e a provocação prévia à batalha entre Arthur e o líder dos saxões. O filme peca em muitas coisas (e feio), mas vale pelas cenas que comentei. Assistam e opinem.

Lancelot - The First Knight (1995)

O Céus... o almofadinha do Richard Gere fazendo um Lancelot medonho, Sean Connery como um Arthur caduco mas casado com uma Gueinevere improvávelmente jovem demais. tudo bem, Sean Connery já fez Arthur no teatro, mas a diferença de idade do triângulo amoroso é gritante demais até para lenda. Odiei.

Excalibur (1981)

Agora sim.. Este é "o" filme por excelência. Caramba, foi feito faz mais de 25 anos e ainda se sustenta como o melhor filme baseado nos textos de Malory. Personagens e interpretações admiraveis. Somente lamento o capacete do Merlim, mas dá pra relegar considerando que foi feito nos 80's.


Sword in the Stone (1963)

Quem diria, o filme mais antigo da lista é um desenho animado da Disney. Para mim, tem o mesmo cheiro dos outros filmes musicais da Disney, dos quais a Dreamworks tira sarro de maneira sensacional desde o primeiro Shrek. Falando nele, no Shrek 3 contamos com a presença de um Arthur mirim.



Sarro

Decidi colocar o resto do "material" nesta categoria, porque se apega ao Arthur para nos fazer rir, e tenho que admitir que conseguem isso genialmente. Sem ordem específica:

Monty Phyton and the Holy Grail (1975)

A genialidade do conjunto de humoristas do Monty Phyton brilha neste filme, com coelhos assassinos, rixa entre franceses e ingleses, um cavaleiro negro a prova de qualquer duelo, discussões sobre gaivotas e côcos migratorios e buscas épicas. Vejam. Chorem como eu chorei de rir com os cavaleiros que falam "Niii". Este filme rendeu um musical, chamado "Spamalot". Quem já viu o filme ou teve a sorte de ver o musical, curta o jogo online!!!

Pé na Jaca (2007)

Vergonhosa novela nacional que pegou emprestados os nomes da lenda arturiana. Nojenta. Nem vou colocar link, não estão perdendo nada. Essa coisa ao lado era o que chamaram de Arthur. Imagina o resto...


Desenhos animados

O Arthur foi inspiração para vários desenhos animados, entre eles:

Rei Arthur e os Quadrados Cavaleiros da Távola Redonda

Desenho animado de 1966, tosquinho e do qual a Marion se lembra até hoje. Somente lembro de uns bonequinhos muito mal desenhados, que somente andavam de lado. Parecia animação feita em papelão.


King Arthur Anime

Não faço idéia como achei isto.. mas a trilha de som é imperdível. Um clássico nipônico que nada deve ao Mazinger-Z, Speedo-Lacel ou Ultlaman.


King Arthur Disasters

Gente, o desenho é hilário. Um Lancelot metido a besta, uma Gueinevere que o próprio autor descreve como "a Paris Hilton medieval", um Arthur com confiança e teimosia que só o coloca em enrascadas, e um Merlim que sofre para tirar o Arthur do aperto. Bem divertido.
Tem outros desenhos, mas não consegui achar nomes ou referências , entre eles um que passou na HBO acho que em 2001 ou 2002, feito na França, mas era bem feinho. Se não lembro direito é porque não compensou mesmo.

Outros

Obviamente, um assunto com Arthur dá pano pra manga, como falam aqui. Somente vou mencionar um jogo de tabuleiro que vi na Alemanha no ano passado, e um jogo online que ganhei e somente neste fim de semana consegui instalar para dar uma olhada.

Enfim... sim, depois disso tudo, quem duvida que o Arthur é Pop? Falando nisso, onde vocês lembram de ter visto o Arthur?

Na semana que vem: Merlim? Que Merlim?

6 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo post Wally! Me deixou com bastante coisa para pesquisar, e parabéns pela introdução histórica, ficou excelente!
A única referência a Arthur que me vêm a cabeça depois dessa lista praticamente completa, é um livrinho da Disney, parte de uma coleção de livros infantis que meus pais compraram quando eu era criança. Cada livro tinha 2 histórias curtinhas e uma fita cassete com a narração, e um deles trazia a história A Espada Era a Lei, e buscando no google descobri que é algum tipo de versão literária de Sword in the Stone (não achei foto da capa). Ainda acho que a trilogia de Cornwell é a mais interessante por ser mais "realista" e extremamente detalhada (não é em todo romance que o autor diz que "tal mulher era linda, tinha quase todos os dentes na boca" - se eu não me engano, era assim que ele descrevia a mulher de Derfel). :-)

Wally disse...

Oi Renata! O talento de Cornwell é humanizar os personagens ao ponto de identificarmos neles as caracteristicas que vemos em nós mesmos e nas pessoas que conhecemos. Isso é válido não somente para sua releitura da lenda arturiana, como a trilogia do arqueiro, ou as aventuras de Richard Sharpe.
Não deixa de clicar no zilhão de links, tem a semana inteira para fuçar no post e se divertir com os Arthurs alternativos! O Arthur's Disasters e o video do Arthur Anime são impagáveis.

Andrea disse...

Wally, adorei o apanahdão que você fez, um luxo. meu preferido é o Monthy Python, claro. O bolg tá demais, Bjs

Anônimo disse...

Opa Wally, aqui é o Gabriel, namorado/noivo/marido da Renata. Cara, desde criança sou fascinado por castelos e temas medievais, e não é por menos que Artur sempre foi um ícone nestes assuntos.

Lembrei de um outro achado histórico (é um achado porque ninguém tem certeza) sobre Glastonbury ser o verdadeiro local de Camelot.

Ótimo blog, sempre que eu puder vou dar uma corujada aqui.

Anônimo disse...

sem elenco e direção eu me perco quais dos filmes sobre rei arthur que vi. excalibur eu lembro pelo nome e gostei. vi outro com o clive owen que era bem ruinzinho. não acho ruim as novelas utilizaram histórias conhecidas para construírem suas tramas, só não curto quando na invencionice e colcha de retalhos mostram o quanto são desinformados ou pouco criativos. beijos, pedrita

Wally disse...

Andrea, obrigado! De fato quis caprichar na primeira entrega, estou preparando os assuntos mentalmente para o próximo post. Este blog requer pesquixa braba...
Fala Gabriel! Bemvindo, que bom que curtiu o assunto! Eu ainda vou falar de como entrei nessa barca das lendas arturianas, isso também rende um post bacana. Sim, de fato há pelo menos 5 lugares na Inglaterra que são cogitados como ex-Camelots; Glastonbury se encaixa na descrição geográfica (um morro de onde tudo pode ser visto, e perto de um lago). Venha mais vezes, vou publicar semanalmente.
Pedrita, você viu exatamente os filmes que comentei; eu também acho muito legais as releituras de uma lenda, mas na minha opinião a novela das 7 conseguiu ser igual a todas as outras novelas, e desperdiçou os nomes em personagens que não tinham nada para contar. Não consegui traçar nenhum paralelo entre a novela das 7 e os personagens da historia, nem com toda a boa vontade do mundo... senão com certeza teria falado disso. Mesmo gostando muito da dona Guillotine.