Aula de História
O assunto desta semana gira em torno a tudo o que se refere a castelos. Por isso, vamos nos ambientar primeiro com um pouco de história, para depois entrar na questão épica da coisa.
Os castelos sempre tem chamado a atenção de crianças e
adultos; afinal, era o lar de reis e rainhas, príncipes e princesas e seus cavaleiros. Os contos infantis andam de mãos dadas com o medieval; os castelos sempre foram um cenário recorrente, com donzelas de longos cabelos prisioneiras em torres, bruxas com espelhos falantes, e palco de danças onde se encontram sapatinhos de cristal e feras com louça dançante.
A Disney traduziu estes contos para uma linguagem animada, visual e musicalmente esplêndida. Nesta tradução foi incorporada a imagem do castelo medieval, com torres altas de tetos cônicos e bandeirinhas coloridas. O exemplo mais massivo desta visão aparece nos castelos dos parques temáticos.
O velho Walt (nem eu nem o de Lost, o Disney) não se inspirou em um castelo antigo para fazer os dos seus parques; na verdade ele seguiu a mesma idéia de um jovem rei alemão, que fez um castelo novo só para ele com cara de antigo e o resultado foi tão espetacular que Disney usou esse castelo como modelo base para os seus. Ainda vou falar desse rei e seu castelo dos sonhos.
Os castelos desempenharam diversas funções durante sua existência. No começo, as fortificações serviram de proteção para a familia real durante os periodos de guerra. Eram fortalezas desenvolvidas para suportar investidas ferozes, enquanto mantém uma vida quase normal para seus hóspedes. Tirando a primeira linha de defesa (arqueiros, caldeirões com oleo quente e outras sutilezas) o castelo fornecia abrigo para "as oligarquia das elite" como também os plebeus que se encarregavam dos mantimentos. Pode parecer tiránico, mas as pessoas que conseguiam ficar por perto dos poderosos (mesmo que seja para os serviços mais básicos) garantiam a segurança deles e de suas familias, ficando dentro dos muros.
Com o fim dos sitios aos castelos, os mais afastados perderam sua função ou se transformaram em pequenas guarnições militares, enquanto outros com localização avantajada se converteram em residência de verão de reis ou príncipes. O conceito de castelo/palácio não serve aos objetivos de proteger a vida nem os bens dos seus ricos proprietários, serve apenas para moradia de luxo. Muitas propriedades foram chamadas de castelos por albergar governantes, sem lembrar em nada o formato de castelo que conhecemos. Um ótimo exemplo disto são os castelos franceses, entre eles o Louvre (hoje transformado em museu).
Verdade/Mentira
Então... Disney fez o desenho do seus castelos se inspirando no visual
do castelo
Neuschwanstein, na Alemanha. Tive a oportunidade de visitar este castelo duas vezes até hoje, a última delas faz bem pouco tempo, nas semanas de férias. Visitem o
velho blog da Marion para ver um pouquinho mais do lado lúdico do passeio, sei que vão gostar. Este castelo foi construído por ordens do jovem rei Ludwig II, conhecido como o rei louco pelos gastos exorbitantes que ocasionou ao reino da Baviera. Ele morreu sem sequer usar seu castelo de sonhos como moradia; ele foi afastado do cargo de regente da Baviera alegando sua saúde mental, e curiosamente no dia seguinte ao seu afastamento acharam seu corpo morto por "afogamento" em um lago bastante raso.
O castelo é um legado ao bom gosto do rei, que construiu no século 18 um castelo com visual medieval em um local impressionante, mas sem abrir mão do conforto nem dos seus gostos pela cultura e arte. As salas do castelos são ricamente decoradas com cenas de peças teatrais e grandes operas,
lendas gregas e contos de Shakespeare. No quarto particular do rei, a decoração e até a mobília homenageia o conto de Tristão e Isolda. As lendas arturianas são revisitadas com a história do Perceval contada nas paredes e no teto do salão principal.
É um castelo belíssimo, candidato ao estranho concurso das 7 Maravilhas Modernas que aconteceu faz pouco, mas...
Mas, é um castelo "estético". Ele não tem nenhum tipo de defesa; é uma representação puramente poética do que seria um castelo medieval, porque a crua realidade é que esse castelo seria facilmente invadido.
Em outra oportunidade fui até Salzburg na Austria, cidadezinha do Mozart. Além do nome ilustre, esta cidade me esperava com um castelo monumental, e o mais interessante, um castelo de verdade.
Este castelo passou por varias reformas na medida que seus ocupantes trocavam, com o que a arquitetura dele é bastante particular, mas em todos os casos é estritamente funcional. Muros, torres de defesa, novos muros, interligações entre os prédios foram incorporadas cada vez que a necessidade apertava, como foi no caso de refugiar mais pessoas ou estocar munição.
Com a vinda da pólvora, mais reformas. Este castelo foi o único que vi na minha vida com marcas de bala de canhão nos muros, arquibancadas de tiro e um acesso complicadíssimo se quem está dentro decidir que você não deve entrar. Este castelo tem por nome Festung Hohensalzburg (Fortaleza Alta de Salzburg).
Este castelo guarda uma história bem pitoresca: durante um dos tantos sitios
(sitio: ato de fechar todas as saídas de uma fortificação para evitar a fuga do seus ocupantes) os moradores da cidade pediam a renuncia do arcebispo, refugiado no castelo. Eles sabiam que cedo ou tarde teria que ceder, porque os mantimentos acabariam e o arcebispo se veria forçado a aceitar as condições do povo. A coisa ficou feia e após algumas semanas, sobrou apenas uma vaca. Como isto não era de conhecimento público para quem estava do lado de fora, o arcebispo teve uma idéia bastante inusitada: mandou um criado passear com a vaca por um dos corredores altos, de onde todos os cidadãos abaixo podiam vê-la. No dia seguinte, pintaram a vaca de preto (passaram carvão na coitada), e passearam de novo pelo corredor alto com ela. Mais um dia, e pintaram a vaca de branco. Depois, de cores misturadas.
O povo se convenceu de que o castelo estava muito bem abastecido, e que o sitio era inutil. Sim, o plano deu certo, e em homenagem à vaca que salvou o arcebispo a mesma nunca foi abatida, e uma estatua da vaca existe até hoje no patio do castelo.
E Camelot?
Quando comecei a escrever sobre este assunto, logo percebi que teria que separar o post em vários menores. Vontade de colocar tudo como um post único não faltou, mas estive tão ruim esta semana no quesito saúde que não tive nem condição de pesquisar e pensar em como iria compor o blog, quanto menos para escrever. Confesso, escrevi este post meio que às pressas, mas prometo completar o resto do assunto no que vai da semana. Até o próximo fim de semana o assunto muda, mas por enquanto vão ter que me aturar falando de castelos!!!