Fazendo Escola

Quem lembra do post sobre o carnaval que escrevi no ano passado?

Então, eu falei primeiro. E o Arthur está cada vez mais pop. A escola de Samba Portela usou como enredo do seu desfile de 2009 o amor, e escolheu ninguém mais e ninguém menos do que o Rei Arthur para formar sua comissão de frente... Quem diria?

Esta participação especialmente medieval aparece até no samba enredo. Olha só o comecinho:

Brilha Portela! Das trevas renasce o amor...
Doze cavaleiros se uniram
Um rei a lealdade conquistou
Lendas do povo europeu
Feitiços, mistérios, magia
A lua vem beijar o astro rei
A noite se encontra com o dia
Lágrimas, nos olhos do imperador
Na Índia, o palácio da saudade
Mãe África Negra! O amor cruza o mar!
Liberdade!



Tá. África e Índia foram os badalados da vez, que quase todas as escolas falaram; e no "amor cruza o mar" temos o "naveguei" de outros anos. Sim, porque em 2006 todas as escolas tinham "naveguei" na letra, ou quase. Ano que vem devem falar dos fenícios de novo, só para matar a saudade.

Bom, de um jeito ou outro, meus parabéns aos autores do samba, Ciraninho, Wanderley Monteiro, Diogo Nogueira, L. C. Máximo e Júnior Escafura (quanta gente...), e ao carnavalesco pela idéia; vai minha gratidão por um desfile tão legal. Vai a dica: espiona meu post do ano passado. Quem sabe não curte a idéia...

Aliás, no site da Portela tem uma sinopse bem bacana do enredo. Vai o trechinho do meu interesse:

Dizem que na Idade das Trevas, quando o homem ainda vivia na obscuridade, entre as mazelas da guerra e epidemias que varriam o solo europeu, um rei deu tudo de seu. Demonstrou que o amor a seu país e à sua gente era mais importante que a própria vida. Ensinou que o homem depende da honra para atingir seus ideais e foi glorificado pelos poderes de uma espada, no silêncio dos séculos adormecida.

Diante de Sua Majestade curvaram-se doze cavaleiros que juraram eterna lealdade, defendendo o Rei e o Estado. Lendas de aventuras e heroísmo circulavam por todos os povoados, perpetuando a coragem e o estoicismo através de gerações medievais. Feitos de bravura e resignação tornaram-se uma tradição, sinônimos de verdadeiras provas de amor.

Era assim que a vida se construía. Cada degrau da escadaria guardava uma página de magia e um "quê" de bruxaria. E um feitiço impediria que a noite se encontrasse com o dia...

A comissão de frente mostrava Arthur e doze cavaleiros: o trono de onde Arthur contempla tudo vira a távola redonda, símbolo da união e igualdade. E o ator que interpretou o Arthur não foi qualquer um: O Thiago Soares é o primeiro-bailarino do Royal Ballet de Londres, e veio a convite do coreógrafo Jorge Teixeira.

Uma coisa é fato: carnaval não é para ser escrito. É para ser visto e ouvido. Por isso, encerro com um pequeno vídeo, cedido pela Globo em formato de embedded.



Meu MUITO OBRIGADO aos que fizeram este carnaval, a Marion por me ajudar caçando fotos e vídeos na internet, e a vocês por ler e voltar sempre. Aliás, curtiram o carnaval?

Até a semana que vem!


A Demanda do Cavaleiro Verde: Parte 3 e Parte 4

Antes que nada preciso comentar que o post da semana passada foi incompleto; o que não escrevi para vocês é sobre as boas companhias do Gawain. Na lenda arturiana, ele é um "Don Juan", o galanteador por excelência. Ou em termos mais atuais, o xavequeiro.

No castelo onde Gawain se hospedou, tinha várias moças jovens que se interessaram pelo interessante rapaz. Mas a grande sacada da história é que além das moças jovens e bonitas, no castelo também havia uma senhora, uma "old lady" que sentava ao lado do senhor do castelo. O conto não deixa claro o papel desta senhora em relação ao senhor do castelo, se é mulher, mãe, irmã... A questão é que o Gawain trata com respeito todas as mulheres do castelo, desde esta senhora até as mais jovens. E com isso ganha a admiração de todos (e todas).

Parte 3

Para ser sincero, não entendi muito bem esta parte. Rolam alguns costumes medievais meio esquisitos, não fica claro se são apostas entre pessoas, se são bençãos, jeitos de homenagear ou sei lá o quê, mais rolam uns beijinhos entre homens no cangote, e convenhamos, é esquisito. Quem quiser ler no original vá em frente, até mando os arquivos se quiser.

O que posso contar da história é a parte interessante: neste capítulo Gawain tem que se decidir entre o amor cortês e os deveres do cavaleirismo. Enquanto o senhor do castelo parte para a caça todos os dias, Gawain permanece no castelo, e é acordado todos os dias por uma jovem que se encanta por ele. Eles trocam belas palavras, muitas gentilezas, mas ela queria mais; a moça pergunta para ele por qual motivo ele ainda não falou de amor.

Não foi cafajestagem, mas ele não queria se comprometer para vê-la sofrer com sua morte. Ele duvidava que tivesse como sair com vida do encontro com o Cavaleiro Verde, e por esse motivo não achava nobre de parte dele se comprometer de qualquer forma com a moça que tão gentilmente se dedicava a ele.

Na última manhã, ela pede para ele um presente, um símbolo de afeto, e pede para ele uma das suas luvas. Ele disse que não seria correto ele andar com sua armadura incompleta, mas que voltaria para entregar sua luva se tivesse sucesso no encontro com o Cavaleiro Verde; e por outro lado, disse que somente poderia entregar sua luva como presente se ela também entregasse algum presente para ele, como era o costume. Ela tenta dar um anel, que ele rejeita (se não quer compromisso, é claro que um anel não ia querer). Ela oferece então um lenço de seda, que ele também rejeita; mas ela insiste, explicando que não é apenas um lenço; o cavaleiro que o carregasse com ele não poderia ser ferido de forma alguma, sem importar o tipo de golpe que recebesse. Olha só que presente conveniente...

Bonito né? Dá para comprar neste link.

E assim, ele se paramenta como cavaleiro, encomenda sua sorte a Deus e se manda para a capela verde. Com o lenço verde como cinto.
Mais no próximo capítulo... Que segue abaixo.

Parte 4 (Final)

Gawain parte com a ajuda de um servente que prestou ajuda para colocar a armadura; os dois partiram do castelo, cavalgaram pela montanha, até um ponto onde o servente pediu para Gawain desistir da empreitada. Falou do tamanho do homem que ficava na capela, e como não poderia vencé-lo. Mas Gawain foi em frente, até chegar a um lugar medonho: era um pântano onde o lodo borbulhava, cercado de neblina e grandes rochas, e no fundo aparecia uma caverna.

Gawain percebeu a roubada onde estava se metendo. Disse para si mesmo, "esta deve ser a capela onde o capeta reza...", e logo depois disse em voz alta, "Ow, se tiver alguém aí, pode vir que tô aqui, viu?"

O Cavaleiro Verde apareceu, machadão em mãos. E falou para o Gawain que estava contente por ver que ele tinha vindo para cumprir sua promesa. Disse também para tirar o capacete, se ajoelhar e mostrar a nuca.

O Cavaleiro levanta o machado, e quando está descendo, Gawain desvia. O cavaleiro fica furioso e diz que se ele fosse Gawain nao teria desviado, e que estava mentindo. Que nao era digno. Ficou com cara de malucão, e deu um empurrão no Gawain, so que desta vez Gawain não se mexe. E diz que está pronto, embora a cabeça dele não possa voltar ao seu lugar. E não se mexe mais.

O Cavaleiro levantou novamente o machado, e desceu velozmente, mas o machado só fez o corte ao se apoiar na pele, sem afundar mais. Apenas o peço do machado foi todo o golpe que Gawain recebeu e ganhou um corte pequeno na nunca, que sangra e escorre entre seus ombros, manchando a neve de sangue.

Gawain pula ao ver o sangue, pega o capacete, pega seu escudo e espada, e vira para o cavaleiro, falando que a divida estava quite, e que se atacasse de novo iria se defender.

O Cavaleiro Verde abaixa o machado, se apoia nele e fica olhando para Gawain, divertido. Fala que a brincadeira de fato estava quite, e que podia ficar tranquilo que mais nada cobraria dele.

Os ataques foram feitos com um machado sem corte, e como resposta à provocação de ter recebido os beijos da mulher dele. Sim, a tal donzela que ficava se engraçando com ele era na verdade a mulher do cavaleiro verde, e somente estava brincando com ele para descobrir para o próprio marido se o Gawain era um cavaleiro digno.

Por causa do lencinho que ele carregava que sabia que a mulher falava a verdade, e por causa do mesmo lencinho que o Gawain tomou a cacetada final que cortou a pele na nuca.

Gawain ficou enfurecido e envergonhado, com o rosto vermelho do sangue que subiu para a face. Se sentia um trouxa, para dizer a verdade. O fizeram de trouxa.

Ele disse: você é a perdição da virtude, porque teus atos mostraram minha covardia. Devolvo a tuas mãos este falso lenço mágico, que me envergonha como cavaleiro, e desonra as qualidades que um verdadeiro cavaleiro deve ter. Fui covarde e indigno, e não enfrentei teu desafio com a coragem que devia.

O verdao disse: perante dessa confissão, somente posso te absolver de todos teus pecados até hoje; sairás daqui como um homem limpo e puro que nunca conheceu pecado algum, como no dia que fostes nascido. Sobre o lenço verde decorado de ouro e pedras preciosas, o levarßs e guardarás contigo, como lembrança deste dia e como prova da tua aventura na capela verde. Podes voltar para meu castelo, onde farás as pazes com minha esposa e seréis recebido com grande festa.

Gawain disse: Eu agradeço, mas não voltarei para vosso castelo. Encomendai minhas saudações a vossa esposa e as outras damas, que foram tão gentis que nunca homem algum teria suspeitado de armação alguma. Assim como Adão foi enganado por uma mulher, e Salomão por muitas, e mesmo Sansão teve sua senteça em mãos de uma mulher, eu sinto-me menos culpado por ter caído na armadilha. Eu levarei o lenço comigo, não como prêmio em ouro e pedras, mas como lembrança da minha fraqueza. Ele me lembrará da debilidade da carne, e onde tiver que dar provas com minhas armas, me lembrará de ser antes que tudo humilde. Somente uma coisa te peço: que me digais vosso nome, e nada mais perguntarei.

Bernlak de Hautdesert é como sou chamado nestas terras. Morgana a Fada mora no meu castelo, e não há ninguém tão orgulhoso que ela não possa aplacar. Aprendeu as artes da feitiçaria com Merlin, e ele mesmo virou sua vítima. Foi ela quem me mandou para a corte de Arthur para amedrontar Guinevere. Morgana é filha da duquesa de Tintagel, quem depois desposou o Rei Uther. Ela é meia-irmã de Arthur, e também vossa tia. É ela quem conhecestes como a velha senhora que mora no meu castelo, portanto vá visitá-la e leva alegria para ela.

Gawain rejeitou mais uma vez o convite, se despediu do cavaleiro verde, e voltou para a corte de Arthur. Nela contou o que aconteceu para todos, e mostrou a cicatriz no seu pescoço; todos os cavaleiros festejaram e riram com ele pela história, e desde então todos vestiram um cinto verde, em homenagem à aventura de Gawain.

Assim termina a história... e bom carnaval para todo mundo!

A Demanda do Cavaleiro Verde: Parte 2

Então, a gente largou o Gawain com o machado na mão e um monte de sangue verde espalhada por aí... Eis que os dias e as estações foram se passando, até que os dias de frio e o inverno chegaram novamente. Gawain se despediu de todos, sem saber qual seria sua sorte ao encontrar o cavaleiro verde, ou mesmo se seria capaz de achá-lo. As pessoas estavam tristes por vê-lo partir, lamentavam perder um cavaleiro tão nobre e valoroso por uma promessa tão boba quanto uma brincadeira de Natal. Mas ele foi embora decidido a encontrar seu destino.

Foi tudo paramentado de armadura completa, e no seu escudo e seu manto luzia um pentagrama dourado sobre fundo vermelho. Era seu símbolo, sinônimo das cinco virtudes de cavaleiro refletidas nele (que o livro nem faz questão de mencionar...), e na cara interna do escudo tinha a imagem da Nossa Senhora, que lhe dava coragem quando seu escudo era a única proteção.

Ele partiu sozinho, e assim passou todo o tempo. Se hospedava quando podia e da maneira que a sorte providenciava; mas pouco importava onde fosse, nada ele conseguia descobrir sobre o cavaleiro verde. Ninguém para quem perguntava sabia dele.

O inverno chegou, e com ele o Natal se aproximava. Mas por mais que procura-se, nada do Hulk medieval. Enfim, eis que depois de uma prece no desespero, enquanto estava no bosque mais fechado que viu na sua vida, ele encontrou uma trilha. No fim dela, viu uma fortaleza, um castelo; fazia já muito tempo que não encontrava sinais de construções, quanto menos um castelo. Foi até lá, passou a ponte levadiça, que foi recolhida logo após sua passagem. Ele foi recebido com muita alegria, e atendido como o príncipe que era. Teve festas, comemorações, e boa companhia para Gawain.

Finalmente, perguntou ao senhor do castelo sobre a capela verde, e acabou dando sorte; ela era muito perto daí.
Tão perto, que pediram para ele passar o Natal no castelo, e poderia se apresentar no castelo sem atraso no dia e a hora que fosse. Portanto, ele aceitou o convite, e ficou no castelo.

Até aqui a parte 2 da história... Mais na próxima edição.

Até a semana que vem!

A Demanda do Cavaleiro Verde: Parte 1

Spoilááá Brotháááá!!!

Como tantas outras histórias, esta acontece no primeiro dia do Ano Novo. O Rei Arthur juntou no grande salão sua corte para celebrar o grande festim. Na mesa estava Arthur, ao seu lado Guinevere. Do lado da rainha estava Gawain, e ao lado do rei estava Agravain; Agravain e Gawain são sobrinhos de Arthur, cavaleiros que carregam o mesmo sangue real do rei e que honram o sangue com sua valentia e conduta digna de um cavaleiro.

Era nessa época que o rei ouvia a todos os que se apresentassem na sua corte; ouvia as demandas, pedidos e exigências de homens e mulheres. Eram ouvidos pelo rei também os jogos e desafios de um cavaleiro para outro, que animavam ainda mais a festa do Ano Novo com justas e torneios.

O rei esperou para comer até que todos tivessem comida nos seus pratos; como rei ele não precisava fazer isso, mas tal era sua gentileza e boa vontade que honrava e tratava ao seu povo como iguais. Os pratos foram entrando ao som de trompetes, e eram tantos e de tanta boa aparência que os comensais se serviam mesmo antes dos pratos chegarem à mesa.Todos começaram a comer e beber junto com o rei, era uma grande festa.

Eis que de súbito, as portas do salão se abrem de par em par, e um cavaleiro enorme, o maior já visto pelos homens, avançou vagarosamente pelo salão, sem descer sequer da sua montura. Podia se dizer que fosse um meio-gigante, tal a sua altura e largura de ombros. Mas o mais impressionante e chamativo era sua cor verde. Verde era sua pele e suas roupas. Seu cabelo, longo e ondulado era verde, e chegava até os ombros, dando a ilusão de um capuz. Sua barba era também verde e enorme; como se um arbusto tivesse crescido no rosto do gigante. Suas roupas e seu manto tinham detalhes em fio de ouro, desenhos intrincados que destacavam as pedras preciosas no tecido, todas elas verdes. E seu extraordinário cavalo era verde, assim como a crina, que estava trançada com fios de ouro também. Até a sela era decorada com pedras preciosas.

O homem não levava armadura, mas carregava na sua mão um machado gigantesco, ricamente embelezado. O ferro do machado era verde, mas o brilho do gume era dourado. Na outra mão carregava um galho de visco (mistletoe, muérdago... aquele galhinho de Natal, sabe?), verde como nunca fora visto outro igual.

Ele chegou até a mesa onde o rei estava, sem cumprimentar ninguém, mas sob o olhar atônito de todos os presentes. E falou:

- Quem é o dono desta companhia?

As pessoas não conseguiam responder, tamanha a sua surpresa. Mas então o Rei Arthur levantou e diz:

- Caro amigo, seja bem-vindo a este festim. Eu sou Arthur, rei e dono desta companhia que aqui podeis ver. Sois meu convidado neste dia, honrá-nos com vossa presença e apreciai este festim que vos tens pela frente!

- Agradeço vossas gentis palavras, grande Rei. Vosso nome e o da vossa corte e conhecido até as terras mais distantes, assim como a honra e valentia dos cavaleiros que fazem parte da vossa companhia. Se for vontade de Deus, encontrarei aqui finalmente o que tão longamente procuro sem sorte; procuro pelo cavaleiro que honre meu desafio.

- Meu visitante e amigo, terás aqui quem responda a tua peleja, já que qualquer um dos meus cavaleiros será grato de honrar vossa demanda. Se é justar o que procuras, aqui encontrarás quem faça uma justa e boa batalha.

- Não é por batalha que vim até aqui, mas para propor um pequeno jogo. Eu coloco este meu machado como trofeú, como presente para quem aceitar este meu desafio. Eu desafio a quem tiver a coragem a pegar este machado e me acertar com ele um único golpe; eu não recuarei, mas receberei o ataque de bom grado. Com isso o machado já será dele. Mas existe apenas uma condição: Daqui a doze meses e um dia, no próximo primeiro dia do Ano Novo, eu cobrarei meu golpe. Quem se oferecer, deverá me encontrar nesse dia, e aceitar um único golpe que irei lançar contra ele.

Houve silêncio no salão, o que fez o cavaleiro verde berrar:

- Não há neste salão ninguém capaz de me acertar um único golpe? É tão falsa a coragem dos cavaleiros do Arthur?

Os presentes riram, soltaram gargalhadas. Arthur falou então:

- Meu amigo, seria covarde se aceita-se teu desafio. Não é de cavaleiros enfrentar-se sem defesa; sabei que um golpe de machado acabará com vossa vida.

- Se é assim meu rei, não há com que vos preocuparos, já que o desafio ficará saldado, e o machado será teu.

O rei então se levantou, e foi até o cavaleiro verde. Este desceu do seu cavalo, recolheu seu cabelo, balançou a barba, e entregou o machado nas mãos de Arthur. Nesse momento, Gawain se levantou também, e disse:

- Caro rei, faz pouco tempo que fui nomeado cavaleiro, e sou dos teus cavaleiros o menor. Peço-lhe me permitáis aceitar esta demanda no vosso lugar, porque a demanda é tão simples que eu não seria cavaleiro se não a tomasse para mim. Um rei como vós não merece uma prova tão insignificante.

Outros cavaleiros olharam para Gawain, aprovando sua atitude; o rei então concedeu o machado para Gawain, que chegou até o cavaleiro verde. O cavaleiro então disse para Gawain:

- Não esqueças da demanda. Não a tomes para si se não fores capaz de fazé-la.

O gigante ajoelhou-se, e deixou sua verde nuca ao descoberto. Gawain ergueu o machado, e desceu com tal força e presteza que cortou carne e osso, e o machado desceu até o chão. A cabeça verde rodou entre as pernas de quem estava perto; nesse momento o corpo do cavaleiro levantou-se, e agilmente recolheu a cabeça, segurando-a pelos cabelos. Subiu no cavalo e disse, enquanto o corpo a mostrava para que todos pudessem ouvir:

- Gawain, me encontrarás em um ano e um dia na capela verde; deves procurar pelo cavaleiro da capela, como sou conhecido. Estarei aguardando para saldar minha parte da demanda.

E assim, o corpo fez o cavalo virar, e saiu por onde veio; ninguém soube para que país ele partiu. Gawain entregou ao rei Arthur o machado, que ficou exposto para todos acreditarem na maravilha que acabaram de testemunhar; a seguir, voltaram para seus lugares na mesa, e o rei mandou servir a todos o dobro do que pedissem, para celebrar a proeza que ocorreu na sua corte.

A imagem acima pertence ao manuscrito original, o Cotton Nero, seção 94ab. Não que isso faça diferença, ainda é um spoiler. Ou como disse acima, "spoilááá".

Até aqui a primeira parte da história... Será que Gawain foi atrás, ou amarelou? Qual o shampoo do Cavaleiro Verde? Ninguém ficou com nojinho de ver um decapitado e todos seguiram comendo a churrascada? Hein? Estas e outras perguntas serão respondidas (ou não) no próximo episódio...

Até a semana que vem!