Sessão Especial - Tristão + Isolda (2006)

Ha! Acharam que tinha esquecido? Tem mais um monte de filmes arturianos para comentar, só que quis fazer uma pausa nos posts para não ficar muito monótono. Afinal, meu blog não é sobre cinema, né?

Li o livro (como disse no post anterior), e dei de cara com uma história de paixão sufocante com final triste. Um livro curto, direto, sem enrolação, com mocinhos e vilões bem definidos. Um conto interessantíssimo, e na minha opinião de leitura obrigatória. Podem encontrar este livro em diversos formatos no arquive.org, através deste link.

Assisti o filme ontem, com o intuito de poder comparar com a história que tinha acabado de ler. Tenho que admitir: o livro é bem mais interessante, e não tinha percebido isso quando vi o filme primeiro. Não tinha me mancado de certos detalhes; algumas diferenças saltam à vista, enquanto outras, mais sutis, afetam menos à interpretação do conto. Vou contar várias coisas da trama, mas não conto o final. Já avisados do spoiler, vamos aos fatos:

A grande sacada do livro é conhecer um Tristão destemido e esperto. Sabia manipular as regras e as pessoas; era ardiloso, sem perder a bondade com isso. No filme, não mostra a mesma habilidade pessoal para lidar com as pessoas, mas ainda é um bom lutador.

No livro Tristão mata um dragão na Irlanda, e como prêmio recebe Isolda; ele não a quer para si, tanto é que Isolda o odeia por afastá-la da sua terra. Ele a leva para o Rei Mark, que ao casar com ela selaria um acordo com a Irlanda, e poderia garantir a paz entre os reinos. A criada Bragnae preparou um elixir de amor, que Isolda beberia junto com o rei Mark para que ambos se apaixonassem perdidamente; assim ela não sofreria, mas seria feliz na terra distante. Por um engano, Tristão e Isolda beberam o elixir durante a viagem de navio, e caíram de amores antes de que Isolda fosse desposada por Mark.

Enquanto isso, no filme vemos que Tristão conquista a mão de Isolda em um torneio, mas o trelelê deles vem de muito antes. No filme, eles se conhecem e ficam íntimos quando ela cuida do ferimento envenenado dele pela espada de Morholt, o guerreiro capanga do rei da Irlanda. Neste amor não há pócima misteriosa nem elixir, apenas encanto de juventude.

Afinal, James Franco e Sophia Myles fazem um baita casal. Acompanhando estas palavras, os wallpapers do filme, para alegrar os hormônios.

Essa é a principal diferença entre o livro e o filme, na minha opinião: a falta do elixir, que é o ponto de pivô principal do livro. Mas, o que seria dos contos medievais se não tivessem tantas versões diferentes, não é?

Fora isso, temos outras diferenças vem fortes entre as versões. O Rei Mark conhece Tristam quase que ao acaso no livro, mas no filme eles já vivem juntos como família desde o começo, e é criado como filho. Falando no Mark, ele fica maneta nos primeiros 10 minutos de filme, enquanto no livro isso não ocorre em momento nenhum. Aliás, a gente nem fica sabendo que fim leva o Mark. Uma coisa que respeitaram no filme: o coração do Mark. É um bom homem, em todos os sentidos. Nem Isolda, que é obrigada a querê-lo, consegue odiá-lo.

O amor de T+I leva os países à guerra no filme, enquanto no livro é apenas argumento de intriga para deleite de quatro cavaleiros que querem ver o Tristão se ferrar, apenas por ser o queridinho do Mark. É claro, estes quatro cavaleiros se ferram no fim.

Os finais dos contos são muito diferentes. Os dois tristes, mas o do livro me abalou. Me deixou pensando na vida por um tempo, pensando em como as coisas acontecem. Fiquei com pena do Tristão, das Isoldas da vida dele, dos seus amigos, do Mark, da Bragnae. No fim, o livro que era pra ser direto, bruto, acabou virando uma baita história, uma lição de vida.

Não percam.

Até a semana que vem!

Tristão e Isolda - estudando...

Tenho em mãos o livro "Tristão e Isolda" de Joseph Bédier. O particular deste livro é o trabalho literário do autor para elaborar o conto; sim, a palavra correta é elaborar.

Da literatura antiga sobraram apenas frangalhos, e entre esses resquícios descansa um dos contos mais conhecidos: o de Tristão e Isolda. Ele foi um best seller do passado. Entre retalhos de um texto e outro, o conto sobreviveu em duas vertentes diferentes, uma de Thomas (que não é Malory) e outra de Béroul; existem também partes do conto de autores anônimos, mas que pelas frases podemos identificar como parte da mesma história, incluindo textos que se repetem na tradução.

Com esse conteúdo assim espalhado, quem quer contar (ou recontar) a história de Tristão e Isolda tem duas opções: pegar o texto de Thomas e anônimos, ou ficar somente com o que sobrou do Béroul. A vantagem do Thomas é que o texto está praticamente completo, porém são traduções de outros idiomas e com isso perderam a poesia. Já no Béroul, o texto está incompleto, mas por ser no original se tem a beleza dos refrões e a musicalidade da poesia original. Eis que Joseph Bédier, como poeta que era, escolheu o segundo caminho, mais difícil porém com recompensa maior. Quem já leu as crônicas de Arthur por Bernard Cornwell sabe do que estou falando, de como uns poucos retalhos de história podem render um ótimo texto.

A leitura deve ser rápida, mas quero ler ANTES de rever o filme homônimo para comentar apropriadamente, coisa que não consegui fazer no primeiro post do filme. Portanto, me aguardem...

O que posso contar até agora do livro: É surpreendentemente direto. Cru, eu diria. Entre um conto e outro, encontramos apenas um parágrafo descrevendo o nexo entre uma história e outra, e após essa curta introdução apresenta a história do conto. Passa muito a impressão de texto feito para entreter, para ser contado na roda de amigos, e onde todos dariam palpites; quase como são as novelas hoje em dia, onde todo mundo, quem vê e quem não vê, conhece os personagens e passa sua opinião.

Tristam and Isolde, Pintura de Edmund Blair Leighton (1853-1922). Saca só a cara de chavequero do Tristão, a cabecinha cheia de idéias da Isolda, e o coitado do Rei Mark se mancando da situação. Não tinha como terminar bem...

Outro aspecto que revela a crudeza do texto é a falta de romantismo, pelo menos do romantismo entre dama e cavaleiro. Esse elemento foi introduzido na história nas versões anteriores; não estou dizendo que Tristão e Isolda a Bela não se amem, mas no texto o Tristão não aparece recitando hinos de amor para Isolda, nem Isolda declama odes ao vento pelo amor de Tristão. Na verdade, eles passam mais tempo xingando o fato de ter bebido o elixir no barco (que os deixou apaixonados), do que celebrando o amor deles. Se amam, mas sofrem.

Estou gostando do livro. Tem um reflexo imortal de humanidade, a essência de sentimentos tão humanos que existiram desde sempre. É isso que faz desses contos simplesmente eternos.

Até a semana que vem!

Play Time

Como disse logo no meu primeiro post no blog, o rei Arthur é pop. Ele está presente na vida de todos, em maior ou menor medida; além dos livros e filmes e teatro, encontramos ele nos lugares mais inusitados (senão, vejam só o post da semana passada).

Mas para os que já foram crianças, estão na casa dos 30 e tantos e viveram sua infância no Brasil, a história foi ainda mais viva. Essas crianças compartilharam suas brincadeiras com Arthur, Perceval, Merlin... Quem de vocês lembra disso?

Ar-tur

A primeira vez que ouvi falar deste simpático robozinho foi da Marion, ao ver fotos dele neste blog. Achei fotos muito bacanas dele em outro site; alguém ainda tem um desses? Achei o máximo as instruções, como não usar na água. Coitado.
Pelo que vi, o mecanismo era bastante simples; ele conseguia andar reto para frente, e girava somente para um lado ao fazê-lo andar para trás. Fazia uns beeps, e tinha a mão no formato para segurar alguns objetos, como papel enrolado ou outras coisas leves e maleáveis.

Claro que o bichinho é bem datado, e reflete muito bem o que no imaginário popular enxergávamos como robô. Olhos grandes que acendem, anteninhas, corpo tubular, nada de joelhos ou cotovelos, e o computador da frente com botões coloridos e unidade de fita aberta.

Acho que o que mais me surpreendeu do brinquedo era seu tamanho. Era enorme! Imagino o embrulho de uma caixa de natal com ele dentro. Devia deixar histérico qualquer um... Que ansiedade para saber o que era o pacotão!

Percival - O Gênio

Deste nem a Marion nem a Sugar lembram, mas alguém talvez lembre... O Percival era a versão evoluída do Ar Tur, com um visual mais moderno, e mais inteligente (em termos, claro). Ele podia responder perguntas simples (sim e não), e ainda tinha um jogo Genius na cabeça dele. Também podia carregar coisinhas, e devia com certeza ser um dos brinquedos mais caros da época, o sonho de consumo de muitas crianças.

O computador de etiqueta na frente dele também era mais moderno, com um bocado de luzinhas coloridas indescifráveis. A cabeça dele já tem um formato mais abstrato, que não lembra um rosto, pelo menos não tão óbvio como no Ar Tur.

O botão central me lembra muito o timer do tanquinho de lavar roupa que minha mãe usava quando eu era criança.

Sinceramente não lembro ter visto nenhum destes brinquedos em terras argentas. Lembro de outros robôs, bem menores, para brincar na mesa, que andavam, atiravam foguetinhos e abriam portinhas secretas no peito para mostrar o interior, como se fosse uma janela. Mas desses, nenhum tinha identidade ou nome, era apenas o "robô com luzinhas que atira coisas". Nisso, o Ar-Tur e o Percival ganham deles de longe!

Merlin

O Merlin não entra na categoria de robôs, porém foi um brinquedo da mesma época. A Marion chegou a brincar com um de uma prima dela, e lembra que era muito bacana. Para quem quiser matar a saudade, tem um Merlin virtual para rodar no micro aqui. Ou ainda, jogar pela internet neste daqui.

O formato dele lembra um telefone, e tinha 6 jogos simples. Gosto de pensar nele como precursor dos tabuleiros de Tetris que todo mundo viu nos camelôs na rua, aqueles de 1000 jogos em 1. A diferença do Ar Tur e o Percival, este é sim um brinquedo importado. Merlin, The Electronic Wizard, ganhou o prêmio de 1980 de melhor brinquedo da associação de fabricantes de brinquedos dos Estados Unidos, vendendo mais de 2 milhões de consoles.

Assim como os anteriores, era movido com um bocado de pilhas, era barulhento, piscava e fazia a invejinha de quem não tinha...

Tem mais?

Curiosamente, nenhum destes brinquedos fez a menor referência à origem dos nomes; de onde saiu a idêia de chamá-los Arthur, Percival ou Merlin? Teve outros brinquedos que seguiram esse embalo? Por quê justamente brinquedos eletrônicos ganhariam estes nomes?

Minha teoria: alguém foi o primeiro por gostar mesmo, e o resto copiou. Vejamos o Ar-tur, que suponho seja o mais antigo. Nos idos anos de 1977, o cinema conheceu Star Wars, e com isso dois robôs extremamente carismáticos: C3PO e A2R2. Nos países de fala hispana, o segundo ficou conhecido como AR-TU-RI-TU, por causa da pronûncia (errada) do inglês. Daí para virar Arturito (Arturzinho) foi moleza.

Sabendo este detalhe, será que o Ar-Tur tem relação com A2R2, do Star Wars? E será que o Perceval e o Merlin entenderam errado, e o Ar-Tur não tinha nada a ver com o Rei Arthur?

Hein?

Quem quiser conhecer outros robozinhos de brinquedo, encontrei este site com um monte de primos do Ar Tur, se divirtam!

Até a semana que vem!


Scali.. what?

Para os que acreditavam que seria difícil superar o post da semana anterior, tenho uma revelação. Nunca, nunca acreditem que chegaram no ápice de um determinado assunto. Sempre tem um que vai superá-lo.

Eis que depois de virar a sexta-feira no trampo, trabalhar o sábado e o domingo inteiro, chego em casa e relaxo no sofá. Marion vem com uma revista na mão, e diz que tinha algo na revista para me mostrar, e buscou a página. Quando vi o conteúdo dessa página amarela gritando nos meus olhos, eu soube imediatamente que a terra tremeu em Avalon, e o Rei Arthur acordou da morte para se vingar. Saca só o sacrilégio:


Alguém consegue chutar a relação entre a imagem e o nosso mais amado personagem dos tempos antigos? A roupinha de rei e o mosquito derrotado na ponta da espada, tudo bem, mas foi no nome do produto que se revelou a verdadeira origem do mal.

Scalibor. O fim dos carrapatos.

Salve-se quem puder. Arrependei-vos, infiéis!!! O fim está próximo!!!

OK, passou. Semana que vem tem mais! Até! Bom Feriado!