Sessão Especial - As Brumas de Avalon

Sim, sei que estou devendo. Eu postava mais seguido, sem falhar um final de semana. Mas nem sempre as coisas são como a gente quer... Minhas desculpas aos que ficaram esperando por um post neste tempo todo. Por isso, como este post é longo, decidi postar hoje mesmo, no fim da sexta-feira, para dar mais tempo a quem quiser ver.

Seguindo com a série de posts sobre filmes arturianos, hoje trago para vocês a minha experiência assistindo o filme "As Brumas de Avalon", pouco tempo depois de terminar de ler os livros, e com a história na cabeça. Vamos lá!

A frase da vez:

What you know about Arthur, Lancelot, Guinevere and the evil sorceress Morgain Le Faye are lies. I know, because I am Morgain Le Faye.

As mudanças ao livro são bem evidentes, gritantes até, mas para dar agilidade à trama. Um exemplo disso é a menção às tatuagens de dragão nos braços, que no livro tem muito significado, porém no filme servem apenas para uma referência vaga. Outra coisa bem diferente ao livro são as cenas de batalha, que no filme são bem detalhadas; no livro é apenas um "foi lutar e voltou". O filme ganha muito com as batalhas, fica mais rico, e imprime velocidade que falta ao texto.Gostei muito do momento em que conhecemos o Uther. Ele é bem toscão, medieval mesmo, sujão, como os saxões que enfrenta.

Sobre as atrizes: gostei muito das interpretações. A inveja da Morgause é espetacular. A criança que interpreta Morgana novinha é de tirar o fôlego, de tanta credibilidade. Convence mesmo. Tem um rosto que passa toda a inocência da infância, e ao mesmo tempo uma tristeza no olhar, como a dos adultos que já passaram pelas amarguras da vida. Olhar de sabedoria, de experiência. Mudando de assunto, uma pergunta que não quer calar é: Por que Uther ficou em Cornwall depois de casar com Igraine, quando poderia ter ido para Camelot?

Falha nossa: Quando Vivian e Morgana chegam nas fronteiras de Avalon, os barqueiros surgem da névoa. Que eu lembre, eles somente podem entrar ou sair com uma sacerdotisa, certo? Não tinham que estar esperando na beira do lago?

O filme nos apresenta uma Vivian bondosa, maternal, diferente ao livro. Ela é muito boa com Morgana, como uma mãe compreensiva. Angelica Houston está impecável neste papel, imponente como a verdadeira dama do lago.

Lancelot.. Estava demorando para aparecer. O sonho úmido de toda mulher. Longe de qualquer agressividade ou aspereza que podemos esperar de um guerreiro medieval capaz de derrotar hordas de saxões, o Lancelot do filme é "o" cavaleiro, o galã, de barba feita e sorriso matador. Forte, másculo, sob medida, etc, etc..

Uma coisa que achei esquisitinha é o fato de Morgana ser uma mulher bela, até mais do que Guinevere. No livro, para quem não sabe, ela é baixinha, feinha, desleixada, e por isso chamam ela de Morgana das Fadas, porque parece com um tal de povo das fadas (anões do bosque, bixo-feio).

Inesquecível: a cara de tacho da Morgana quando vê como Lancelot perde interesse por ela ao ver a todopoderosa e megacasta Guinevere. Inveja é uma m....

Proibido para menores, que nada; a cena do Astado (onde rala e rola tudo) acontece com as pessoas vestidas. Nada de mostrar a pele onde o sol não bate.

Mudança do livro e espoiler, no filme eles transam em silêncio, e saem a cova como desconhecidos, sem se falar. Já no livro, depois do ato eles se falam e ela percebe que ele é Artur, seu irmãozinho. Bang, incesto.

Em.. ehem.. no filme, o jovem Arthur defende Uther em batalha. Que eu lembre, eles não se conheciam, afinal, Merlin o levou quando criança... mas tudo bem.

Pegando carona na cena anterior, Arthur é manipulado por Vivian para pegar Excalibur em um momento de vida o morte, de desespero. No filme, a cena é bem mais sacra, cerimonial. Não entendi muito bem a razão dessa edição, assim como a anterior.

VIDEO: Vejam só o sentimento de Morgana ao se ver manipulada. Essa cena me arrepia.



Coisa bonita de ver: O encanto de Accolon ao ver Morgana, e a amizade instantânea entre Morgana e Guinevere. Exatamente como no texto original.

O reencontro (finally...) de Morgana e Lancelot é tenso, e falam de um bocado de coisas que acontecem no livro. Pena que não ocorreram no filme, né? Como por exemplo a ficada dos dois em Avalon.

VIDEO: Surubinha real. Olha só e me diz se o Artur do filme não é um pastelão.



Lembrei de uma coisa, aliás... somente depois desta cena que surge o fanatismo da Gui por religião. No livro isso está presente desde sempre.

Err.. O fato pelo qual Morgana vai parar em Gales é um pouco diferente. No filme é uma confusão por não falar nomes, enquanto no livro foi uma decisão ciente do Artur para afastar Morgana de Camelot.

Acho que não falei disso ainda, mas o Merlin do filme é apenas isso, Merlin. Nada de bardos, nada de Taliesin, de Kevin, de arpas... tanto é assim que Merlin morre de velho, e pronto. Acabou-se.

E chegamos a Mordred. Nada se diz sobre a infância dele, que já era bem agitada; os poderes dele deixavam todo mundo preocupados, sem muita certeza do que esse moleque esperto ia virar.

Por outro lado, estamos quase no fim do filme e Vivian ainda está viva, tão viva que mata Morgause e morre nas mãos de Mordred. Isso sim é completamente diferente, tanto que Morgana nem virou dama do lago...

Entre outras coisas, nem falaram do povo das fadas, nem do graal..

Finalmente, Excalibur retorna para Avalon, mas de um jeito um pouco diferente. Tanto é assim, que no filme foi usada quase que como chave para entrar em Avalon, mas a idéia não foi ruim.

E no fim mesmo do filme e do livro, Morgana encontra a deusa, não com toda a riqueza do livro, mas quase.

Qual será o próximo filme, hein??


Sessão Especial - Excalibur

Chega hoje a vocês a segunda edição do sessão especial. Para quem perdeu o da semana passada, a idéia é falar sobre os diversos filmes já lançados sobre a lenda arturiana, com o olhar particular que tenho para as coisas e a base de conhecimento que trago da lenda.


A edição de hoje tem a sorte de trazer a vocês o filme "Excalibur", de 1981. É claramente o melhor filme sobre a lenda arturiana que caiu nas minhas mãos. Este filme teve como base os textos do Malory, e consegue contar a história de cabo a rabo. Desde os começos onde Uther faz Arthur em Igraine, até a barca de Avalon levando Arthur para o além. Todos os pontos cruciais da história foram retratados. O nascimento de Arthur, a espada na pedra, a coroação, o encontro com Guinevere, casamento, Lancelot, Morgana, a ruina, o graal, e até Perceval.

A fita (ô palavra véia...) mostra a direção impecável do John Boorman ao longo de 140 épicos minutos, e uma lista de atores de nome bem conhecido; é até engraçado descobrir o Gabriel Byrne no papel do Uther, Liam Neeson como Gawain, e Patrick Steewart como Leodengrance. Mas a coincidência mais engraçada é Guinevere. Nossa querida, safadinha Guinevere. Ela foi interpretada por Cherie Lunghi, quem uns bons anos mais tarde interpretaria Stephanie, a cafetina do seriado "Diario de uma garota de programa". Toma essa.

Vamos às pérolas do filme:

Uther, o cabra macho. Ou o macho alfa, como diria uma amiga. É a testosterona de armadura medieval. Como ele mesmo disse logo no começo do filme, "TALK?!? TALK IS FOR LOVERS!!!"
Um bom exemplo da sua personalidade surge na mesma noite onde por fim conseguiu o tratado de paz com Gorlois, o próprio Gorlois organiza um festim, e pede para sua mulher dançar para os convidados. Foi questão da jovial Igraine dar duas voltinhas com a saia que o Uther começou a gritar "EU DEVO POSSUIR ESSA MULHER!! EU DEVO!!!". Gesto inadequado de um comensal na casa do anfitrião, se referindo a sua cónjuge.
Mas no fim das contas, ele é um personagem quase que teleguiado pelo Merlin, para propósitos digamos, mais nobres.

Falando em Merlin, ele dá a nota, e é o destaque em todas as cenas onde aparece, apenas encontrando páreo nos seus encontros arrebatadores com Morgana. Mas Morgana sempre roubou a cena... O Merlin nesta versão veste um capacete prata, que lembra desenhos animados de super heróis dos anos 60. Mais precisamente os vilões. Mas o destaque do Merlin não é o visual, são as falas. Algumas delas tem entonação de vendedor de pamonha, mas é legal ver a cara de confusão das pessoas en volta do mago enquanto ele fala. Como se ninguém entendesse do que ele está falando em absoluto...

Dá para entender o trauma da Morgana. Além de ter poderes de ver o futuro e outras cositas más, teve um momento nada fofo na sua infância ao assistir de camarote o Uther traçando sua mãe Igraine. De armadura. Com a idade, ela somente ficou mais e mais ardilosa.

O encontro da Gui com Arthur é bem bacana, bem construido, convincente. Assim como o encontro do Arthur com Lancelot, e o de Lance com a Gui. Tudo plausível, humanizado.

O sentimento confuso da Guinevere en relação ao Lancelot aparece no rosto de ambos. A indecisão do Lancelot, a perda de chão dele é visível, evidente. Ele nem quer freqüentar Camelot, para evitar encontros que possam abalá-lo.

Mas quando esse encontro entre eles finalmente ocorre, é nesse instante que o mundo acaba. Acaba mesmo. Merlin se rende aos poderes de Morgana, e fica preso pela eternidade. Arthur pega Lancelot e Guinevere no flagra, peladões na grama, dormindo de conchinha. Morgana, com os poderes roubados do Merlin, se faz passar por Guinevere e engravida de Arthur, e se revela ao Arthur chamando-o de "irmão" ao pé do ouvido. Tudo na mesma noite.

Dá para entender a ressaca com que Arthur acordou no dia seguinte, e ao ver seu mundo caindo, ele entendeu isso como castigo divino e pediu aos seus cavaleiros que partam em busca do Graal. Com isso, o filme emenda a história do Perceval, e mostra gradativamente o fim da távola redonda.

Já no fim, temos o último encontro entre Arthur e Guinevere (ela já no convento), e a batalha final dele com Mordred, onde ambos são feridos mortalmente. Para coroar o filme, Excalibur é devolvida à Senhora do Lago, e Arthur parte para Avalon na barca com as sacerdotisas.

Épico, como deve ser. Alguma crítica ao filme? Acho que a parte da busca do Graal ficou descuidada. Não faz muito sentido vendo apenas o filme, e pode ficar maçante ao pensar em um filme de 140 minutos. De resto, é uma peça e tanto!

Até a semana que vem!