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O título deste post corresponde a um número de telefone gratuito nos Estados Unidos: é o telefone do Medieval Times. Já falei do MT em posts anteriores, mas agora posso falar com conhecimento de causa. Não foi apenas por ligar para esse número, mas por fazer a reserva para um jantar em Orlando, exatamente no dia do meu aniversario. E acho bem dificil de superar esse níver!


 
O Medieval Times é uma franquia de castelos espalhada pelos Estados Unidos, onde somos transportados para um espectáculo que transpira medievalismo, no sentido completamente lúdico da coisa. Em outras palavras, o Medieval Times cumpre com a promessa de entreter, de divertir, usando os elementos dos filmes e novelas românticas do medievalismo. A elegância dos cavalos, os cavaleiros nas suas armaduras brilhantes, as bandeiras coloridas, os gritos da torcida, a ferocidade das justas. Assisti aquilo tudo fascinado, com olhos arregalados de quem volta para a infância.

O castelo que visitamos com Marion é o mesmo que ela conheceu anos atrás em outra viagem; o visual do castelo e as bandeirolas nas torres não surpreende muito (provavelmente porque em Orlando tudo é MUITO espalhafatoso), mas rende uma ótima foto, e a surpresa mesmo fica dentro do castelo. Apenas entramos, vemos que todos os funcionários estão fantasiados, sem exceção. Olhamos ao redor nosso, e vemos armaduras expostas. Armaduras que estão à venda, para quem quiser comprar. Não comprei, mas que pensei, pensei.

Retiramos os ingressos, e fomos passear na vila medieval, fora do castelo. Passeio rápido, mas muito interessante e detalhado da época; desde a confeição de roupas no tear até a cozinha de um castelo; desde a arte dos emblemas até o trabalho do ferreiro. Parei um tempo para ouvir o ferreiro contando histórias, explicando como eram forjadas as cotas de malha. Foi pitoresco ouvir tudo, mas foi uma constatação e tanto perceber que eu já conhecia o processo, e o pior, estava louco para perguntar alguma coisa ao cara mas não tinha perguntas. É, a internet tirou o romantismo..

Depois do passeio dos horrores pelos aparelhos de tortura da inquisição espanhola, voltamos ao castelo, e entramos no salão onde ficam as lojas. O salão é indescritível. Ou melhor, eu não saberia descrever, não com o luxo que o Bernard Cornwell ou outros autores o fariam. As grossas vigas de madeira, criando um céu de arcos longos que se cruzam no topo. Entre as tábuas, escudos dos cavaleiros adornam o teto, criando um tapiz colorido de dragões, cavalos e intrincados desenhos de flor-de-lis. Na nossa frente, duas escadas se juntam para formar um terraço, de onde a voz empostada do senescal do rei nos convida à arena. Mas, antes disso, somos apresentados ao Rei e sua Rainha, que participam na nomeação de um cavaleiro.


Este cavaleiro era um jovem rapaz, uma criança apenas, comemorando seu aniversário como eu, e realizando um sonho nas cores e músicas desse mundo de fantasia.

Fomos à arena, onde nossa arquibancada correspondia ao cavaleiro azul. Cavaleiro aliás, que arrancou suspiros da ala feminina. Cabe às minhas leitoras imaginarem o cavaleiro do jeito que quiserem, é mais prático e assim vai agradar a todas. Mas como sei que vão acabar me perguntando mesmo, podem apreciar o jovem de cabelos ao vento na fotinho ao lado.


Ao todo são seis arquibancadas distribuidas nas laterais, o que cria a identificação instantânea com o cavaleiro da sua cor, e anima as torcidas durante o torneio.


É muito divertido torcer pelo cavaleiro da cor da arquibancada onde você está, mas é muito mais divertido ainda torcer contra dos outros. É hilário ouvir a galera gritando BUUUHH cada vez que anunciavam um cavaleiro de outra cor..

Depois de uma encenação onde nos apresentam a história principal, ocorre o torneio de fato. E em bom portugues, é aqui que o bicho pega.


Por mais ensaiadas que sejam as coreografias, ainda assim podem acontecer acidentes. As armas de corte não tem fio, assim como as pontas das lanças, clavas e etc. também estão limadas, mas isso não tira nem um pouco do peso das armas, muito menos seu potencial de fazer estrago. Basta um esbarrão, um tropeço, um descuido, e alguém pode sair MUITO machucado.

Vi sangue na areia. Vi sangue no rosto de um cavaleiro, desenhando um fio vermelho que nascia na cabeça e descia pelo rosto, abrindo em varias trilhas enquanto descia. E não era cenográfico, o cavaleiro tinha se machucado mesmo. Provavelmente, foi algum descuido na queda do cavalo, e deve ter se machucado com o próprio capacete no tombo. Pode ter acontecido em qualquer outro momento, durante os movimentos de batalha na encenação. Mas o machucado era real, tanto que este cavaleiro não voltou no fim da apresentação para receber os aplausos do público. Alguém voltou no cavalo dele, com suas roupas e um capacete fechado, mas definitivamente não era nosso cavaleiro.


Conversei depois com o pessoal das lojinhas fora da arena sobre o incidente e disseram que acontece, eventualmente. As justas e as lutas são brutais, e embora não exista a intenção de machucar, as pancadas são para valer. E eu assino embaixo.

Um episodio à parte  é o jantar. Tudo é servido em pratos de ferro, trazidos na seqüência pelo nosso escravo da vez, já que os garçons se apresentam como "seu escravo pessoal nesta noite". Passamos por uma refeição completa entre pão caseiro, sopa de tomate, frango, costela de porco e batatas no forno, finalizando com um delicioso cheesecake. Nota: tudo servido no mais puro sentido medieval, sem talheres. De certa forma, é libertador comer sem talheres na frente das batalhas. É até dificil imaginar isso de outra forma, jantando com frescuras enquanto a areia voa nos cascos dos cavalos e as farpas das lanças se espalham de encontro aos escudos. Tem que jantar com as mãos mesmo, é para ser assim.
Non Dvcor, Dvco..

Noite fantástica, no amplo sentido da palavra fantasia. Vou lembrar essa noite sempre, na mente, nas fotos, nos vídeos e agora no blog. E nos cavaleiros que me seguiram até em casa.