Natal

Hoje foi um dia bem cheio, cheio de preparativos! A ceia de Natal será aqui em casa, e caprichei no cardápio. Faz tempo que cozinho, e não é por me gabar, mas cozinho muito bem na opinião de todos os que experimentaram. Assim, dessa vez, o jantar é por minha conta!

Logicamente, passei um tempão na cozinha, e ainda devo ficar um bom tempo. Enquanto fico mexendo nas panelas, mergulhado nos aromas dos pratos ficando prontos, quero desejar a todos meus leitores um ótimo Natal, rodeado de pessoas queridas; e para quem não puder comemorar, fico na torcida para que logo possa re-encontrar seus familiares, amigos e gente querida.

Beijos, abraços e muito carinho para todos os que não posso cumprimentar pessoalmente, e deixo meu desejo de vê-los prontamente!

Bom Natal para todos!

Lord Of The Owls

Faz tempo né? Venho de um par de semanas bem cheias de eventos especiais. Meu reencontro com meu sobrinho Daniel, o que rendeu ótimos dias recheados de saídas, música e muitas risadas. Foi na semana de férias com ele, específicamente na terça-feira 7/12, que fiz minha já tradicional maratona dos filmes do Senhor dos Anéis, especificamente a versão platina do diretor, que é eterna. Bom, não exatamente eterna, mas só de filme dá 12 horas. Regularmente, uma vez por ano, junto uma galera em casa para ver os 3 filmes do Peter Jackson na sequencia, tudo no mesmo dia, com as óbvias pausas para conversar, comer e etc.

Tá bom, eu sei.. é uma coisa bem nerd, mas curto pra caramba, então vou continuar fazendo! Acho os filmes espectaculares, e cada vez que assisto percebo um novo detalhe. É incrível reencontrar esses personagens todos uma vez por ano, rir das mesmas piadas, se emocionar com as mesmas cenas de ação. E a cada ano, as pessoas que participam comigo dessa experiência mudam, seja por compromissos particulares que não coincidiram com a data, ou qualquer outra coisa.

Este foi o primeiro ano que caiu de fazer o evento no meio da semana (aproveitando as férias), e também a primeira vez que vejo do lado de alguém da minha familia pré-era-brasiliensis. Foi interessante porque o Daniel, embora entenda bastante bem, ainda não consegue pegar tudo em inglés, e o primeiro dos filmes somente tem legenda nesse idioma, portanto volta e meia fazia algumas pausas para explicar o que me perguntava, ou mesmo coisas que eu sei de cor que são importantes na história para entender depois. Os outros dois filmes da trilogia tem legendas em espanhol, portanto a partir do segundo filme pude ficar apenas assistindo.

Durante as cenas, sempre surgem debates sobre a personalidade dos personagens, ou as manjadas piadinhas já conhecidas de cada cena. Isso tem um charme inigualavel, é como ouvir teus avos contando a mesma historia, e fazendo as mesmas piadinhas. E por isso, nesse dia, J.R.R Tolkien é nosso vovozinho mais querido, que lê de novo, e de novo, e de novo a mesma história pra gente.

Com suas conquistas e erros, gosto muito do Tolkien. É um exercício de constancia e disciplina ler seus livros, já que a quantidade de nomes, personagens e lugares é tão abundante (fora os idiomas inventados) que requer muita dedicação para chegar ao final da história. Não são livros para ler rápido, com a ansiedade que é lida uma novela qualquer. Por exemplo, lembro que li o Código Da Vinci em 3 dias, na tela do notebook... já do Tolkien não consigo ler um poema no micro que tenho que parar e começar de novo.

Todo esse universo criado por Tolkien se apoia muito em lendas antigas, especialmente celtas. Há muitas histórias sobre objetos mágicos, especialmente anéis e caldeirões (e DUVIDO que alguém lembre DESTE POST!). Como tudo é cíclico, a riqueza literária da Terra Média criada por Tolkien serviu de inspiração a outros, que com o tempo pegaram as mesmas idéias (ou quase as mesmas) e deram sua própria leitura.

Um dos casos mais recentes que tive chance de ver foi o filme "A Lenda dos Guardiões". OK, são corujas, eu sei. E são 15 livros, e não 3, quer dizer, um livro em 3 partes. Mas, salvando esses detalhes, é fácil ver as semelhanças em pontos importantes da história:
  • Duas jovens e inocentes corujas (ou hobbits..) são levadas para longe da sua terra.
  • O vilão da história, segue a linha do Dark Lord. Até no visual levado ao cinema ficaram bem parecidos.
  • Duas corujas fazem uma viagem onde encontram outras corujas com diferentes talentos, que acabam se juntando para formar uma sociedade que levará a cabo a tarefa de chegar em determinado lugar. Forma-se assim, a sociedade do an.. eh, perdão, no filme dos guardiões o grupo das corujas não tinha nome, que eu lembre.
  • Nessa viagem fantástica, onde o grupo enfrenta a fúria do clima, acabam chegando a uma terra onde os elfos, (digo, as corujas mais elevadas espiritualmente) que moram no alto das árvores sagradas.
  • Perto do meio da história, descobrem que um antigo e épico herói na verdade ainda está vivo, e bem perto deles.
  • O herói da história resolve uma situação impossível jogando fogo em uma coisa. No outro, jogaram uma coisa no fogo. Dá quase na mesma, né?

Piadas à parte, "A Lenda dos Guardiões" é um filmão, e vale a pena assistir. Mas não era disso que eu queria falar exatamente; o que quis mostrar é como a lenda celta e nórdica inspirou Tolkien, que por sua vez vem inspirando tanta gente. E como era inevitável, Tolkien está influenciando as mais novas lendas arturianas, e assim o ciclo recomeça. 
Já faz um par de posts que venho falando do seriado Merlin, e foi olhando o site oficial que me veio a idéia deste post. No menu dos personagens, é possível conhecer todos os heróis e vilões que apareceram no seriado ao longo das 3 temporadas. E foi assim que cai nesta foto:
 

Estes são os Cavaleiros de Medhir. Casualmente, são 7 cavaleiros que foram seduzidos pelo poder de um feiticeiro, e agora o servem cegamente. Isso me lembrou imediatamente dos Nazgûl, os 9 reis corrompidos pelo poder do Anel Único, e sob o domínio do Sauron. Olha só:



Que por sua vez, guardam um parecido (embora mais distante) com as corujas do mal do filme:



Coincidência? Não... acho que não.

E assim voltamos ao começo de tudo, as lendas celtas deram de beber a Tolkien, quem depois deu de beber a tanta gente que até as corujas viraram orcos, elfos, hobbits e outros, e finalmente voltou para a lenda arturiana. E de vocês, quem lembra de outras obras influenciadas pelos textos do Tolkien? Comentem!

Até o próximo post!

Lulu e eu

Finalmente, os ensaios e horas na frente da batera tiveram que enfrentar o público. Hoje foi a apresentação da escola "Musica e Cia" no bar Ton Ton em Moema, e todos os alunos (me incluindo) tiveram a chance de mostrar o que aprenderam. Assim, foi minha vez de tocar em frente a outras pessoas.

Rola um nervoso, claro, mas acho que a melhor definição é adrenalina. Bate forte, mas no instante que sentei na batera, olhei para as peças, os tambores e os pratos e disse para mim mesmo, "isso tudo aqui eu conheço.. estou na minha praia". E assim, o público presente, principalmente formado por parentes e amigos dos alunos e professores, curtiu, dançou e cantou dois sucessos do Lulu Santos. Fiz meu melhor esforço para não assassinar "Toda forma de amor" e "Um certo alguém", e gostei muito do resultado. O mais empolgante foi o público gritando na troca das músicas; foi o único momento em que percebi essa galera toda. Depois, ao ver o vídeo, vi que foi o tempo inteiro!

Para quem foi e para quem não foi, quero compartilhar o vídeo. Espero curtam tanto quanto eu curti tocar!



De novo, obrigado a todos os que me deram a maior força!

Bom, hoje não rola post, estou comemorando!

Merlin da BBC - O Mito Renovado

O seriado Merlin, produzido pela BBC de Wales, está na sua terceira temporada. Até agora, é a temporada que mais estou gostando; o roteiro é mais criativo, os personagens estão mais maduros e mais ricos em caráter, e sem dúvida a produção ganhou um incentivo econômico para esta temporada, que reflete na renovada qualidade dos cenários, iluminação e edição. A post-produção é definitivamente mais caprichada que mas edições anteriores; os monstros estão menos falsos, e sua colagem com o cenário ficou menos tosca. Mas, por cima de tudo, a série está bem mais divertida e interessante de assistir.

Sem mudar seu foco no público infanto-juvenil,a série se renovou. Finalmente temos uma Morgana declarada vilã, vingativa e dissimulada. Ao mesmo tempo, Merlin, como héroi e salvador da pátria, é cada vez mais decisivo no desenrolar das histórias, e o melhor, sem apelar ao repetitivo recurso do "olha, descobri esse feitiço novo que vai resolver tudo", como acontecia a cada episódio nas temporadas anteriores. Os episódios estão menos previsíveis, o que captura o interesse.

Falando em interesse, o site oficial tem um joguinho "escondido" no logo do Merlin. Ao passar o cursor do mouse no logo, aparecem 6 caracteres rúnicos, a idéia é passar o mouse por cima deles (sem clicar), e iluminar três caracteres na sequencia correta. Ao acertar alguma das combinações, o site revela algum segredo, como imagens de bastidores, vídeos ou mesmo receitas para truques de mágica. Entre os mais legais que consegui descobrir, está o mapa de Camelot e o título de nobreza de Lancelot; para quem quiser tentar sua sorte, vai o link:


Na semana conto um pouco mais sobre os personagens, seguindo a idéia sobre um comentário que a Rê deixou no blog faz um tempinho.

Até daqui a pouco!

Camelot TV

Faz tempo né? Estas semanas fiquei trabalhando em uma proposta bem diferente para o blog; espero que curtam tanto quanto eu curti ao fazer.

Sempre fui muito curioso por edição de vídeo. Nunca fiz isso de forma profissional, embora já arrumei muitos vídeos para outras pessoas, e perdi a conta da quantidade de fitas VHS que passei para DVD. Teve uma oportunidade que filmei um casamento, e fiz a edição final e produção do DVD; esse creio foi um dos meus melhores trabalhos; foi muito divertido ver o resultado final.

Desta vez, decidi brincar um pouco com uma idéia que mistura o blog e video; foi uma forma de juntar muitas coisas que gosto de fazer em uma coisa só. Assim, a lenda arturiana, livros, vídeo e brincadeiras viraram este post.

Sem mais introduções, vai o primeiro episódio do Camelot TV!





Até o próximo post!

A vez do Gildas

Gildas. Falei dele quando escrevi sobre o começo ou surgimento da lenda arturiana, falando sobre as possíveis origens ou vertentes que levaram ao nascimento do personagem, do mito e que inspiraram o Geoffrey de Monmouth.. No último post sobre este assunto falei do Nennius, mas temos ainda a opinião do revoltado e ranzinza Gildas.

Encontrei algumas referências dele no site do David Nash Ford sobre Gildas, mas o que me incomodou foi ver tanta informação sobre quem foi o Gildas mas nada que pudesse confirmar; e quando é assim, prefiro não abusar da sorte e confiar apenas na informação que consigo corroborar com mais de uma fonte. Embora o blog seja um hobby, levo o assunto muito a sério, e por isso chegou onde chegou, não é?


O Gildas, junto ao Nennius e ao Bede, fecha a trilogia de autores que contaram o começo e fim da Bretanha, e deixaram os únicos registros escritos que sobreviveram até hoje sobre essa época tão antiga e tumultuada. Gildas tem no seu currículo o texto chamado "de Excidio et Conquestu Britanniae", ou em outras palavras, "Sobre a Ruina e Conquista da Britania". Gildas não era propriamente um historiador, e por isso seu texto é principalmente uma reclamação, um protesto sobre a conduta dos líderes da Bretania, que na opinião dele causaram a falência do reino e sua conseqüênte queda perante os saxões. Em resumo, uma choradeira só.

O texto é enorme, por isso vou me ater apenas aos parâgrafos que remetem à parte que nos interessa. É curioso ver que não há menção alguma do Arthur, mas as batalhas aparecem claras no texto, assim como os eventos descritos pelo Nennius. Ao ler o texto sobre o Gildas escrito pelo David Nash Ford, descobrimos que pelo jeito havia uma bronca entre o Arthur e o Gildas, e isso pode justificar a total ausência do nome; mas, eu creio que pelo jeito revoltado do Gildas, ele teria preferido falar mal em vez de não falar nada. Bom, seja como for, vamos ao texto, nos parâgrafos 23 ao 26, conforme a tradução do Medieval Sourcebook:

23: Then all the councillors, together with that proud tyrant Gurthrigern [Vortigern], the British king, were so blinded, that, as a protection to their country, they sealed its doom by inviting in among them (like wolves into the sheep-fold), the fierce and impious Saxons, a race hateful both to God and men, to repel the invasions of the northern nations. Nothing was ever so pernicious to our country, nothing was ever so unlucky. What palpable darkness must have enveloped their minds--darkness desperate and cruel! Those very people whom, when absent, they dreaded more than death itself, were invited to reside, as one may say, under the selfsame roof. Foolish are the princes, as it is said, of Thafneos, giving counsel to unwise Pharaoh. A multitude of whelps came forth from the lair of this barbaric lioness, in three cyuls, as they call them, that is, in three ships of war, with their sails wafted by the wind and with omens and prophecies favourable, for it was foretold by a certain soothsayer among them, that they should occupy the country to which they were sailing three hundred years, and half of that time, a hundred and fifty years, should plunder and despoil the same. They first landed on the eastern side of the island, by the invitation of the unlucky king, and there fixed their sharp talons, apparently to fight in favour of the island, but alas! more truly against it. Their mother-land, finding her first brood thus successful, sends forth a larger company of her wolfish offspring, which sailing over, join themselves to their bastard-born comrades. From that time the germ of iniquity and the root of contention planted their poison amongst us, as we deserved, and shot forth into leaves and branches. The barbarians being thus introduced as soldiers into the island, to encounter, as they falsely said, any dangers in defence of their hospitable entertainers, obtain an allowance of provisions, which, for some time being plentifully bestowed, stopped their doggish mouths. Yet they complain that their monthly supplies are not furnished in sufficient abundance, and they industriously aggravate each occasion of quarrel, saying that unless more liberality is shown them, they will break the treaty and plunder the whole island. In a short time, they follow up their threats with deeds.

Não vou traduzir tudo, por causa da extensão do texto, mas começa assim:

Então todos os conselheiros, junto ao orgulhoso tirano Vortingern (o rei bretão), foram tão cegos que selaram sua ruina ao convidar para proteção do seu país os ferozes e ímpios Saxões, uma raça odiada tanto por Deus quanto pelos homens, com o intuito de repelir as invasões das nações do norte. Nunca houve nada foi tão prejudicial para nosso país; nada fora tão desafortunado. Qual palpável escuridão envolveu suas mentes, escuridão cruel e desesperadora! 

Fica óbvia a opinião do Gildas sobre os reis da Britania, especialmente o Vortigern. Nisso, o Nennius tinha exatamente a mesma opinião; há um concenso entre os autores sobre a responsabilidade do Vortigern ao permitir a entrada dos guerreiros saxões nas suas terras.

A descrição dele sobre os bárbaros é muito, muito revoltada. Os chama de lobos, filhos desgarrados, bocas de cachorro (o que na época devia ser um insulto), traidores, e claro, bárbaros. A bagunça começa com a chegada de 3 barcos de guerra, eles se instalam no norte do país, e com o sucesso mais e mais barcos chegam, povoando a região. Vortigern os recebe bem, enxergando neles poderosos aliados para repeler outras forças invasoras, sem cair na ficha de que estava recebendo seus invasores com sua melhor comida e bebida. Chegou um ponto onde as bocas para alimentar eram demais, e como Vortigern não tinha mais recursos para manter esse povo todo tranquilo, os invasores decidiram partir para a invasão mesmo, roubando e assaltando na medida que avançavam no território.

24: For the fire of vengeance, justly kindled by former crimes, spread from sea to sea, fed by the hands of our foes in the east, and did not cease, until, destroying the neighbouring towns and lands, it reached the other side of the island, and dipped its red and savage tongue in the western ocean. In these assaults, therefore, not unlike that of the Assyrian upon Judea, was fulfilled in our case what the prophet describes in words of lamentation: "They have burned with fire the sanctuary; they have polluted on earth the tabernacle of thy name." And again, "O God, the gentiles have come into thine inheritance; thy holy temple have they defiled," &c. So that all the columns were levelled with the ground by the frequent strokes of the battering-ram, all the husbandmen routed, together with their bishops, priests, and people, whilst the sword gleamed, and the flames crackled around them on every side. Lamentable to behold, in the midst of the streets lay the tops of lofty towers, tumbled to the ground, stones of high walls, holy altars, fragments of human bodies, covered with livid clots of coagulated blood, looking as if they had been squeezed together in a press; and with no chance of being buried, save in the ruins of the houses, or in the ravening bellies of wild beasts and birds; with reverence be it spoken for their blessed souls, if, indeed, there were many found who were carried, at that time, into the high heaven by the holy angels. So entirely had the vintage, once so fine, degenerated and become bitter, that, in the words of the prophet, there was hardly a grape or ear of corn to be seen where the husbandman had turned his back. 

Chora Gildas, chora... Aqui conta a massacre do povo bretão, e faz citações ao Livro das Lamentações (da Biblia, beleza?)

25: Some, therefore, of the miserable remnant, being taken in the mountains, were murdered in great numbers; others, constrained by famine, came and yielded themselves to be slaves for ever to their foes, running the risk of being instantly slain, which truly was the greatest favour that could be offered them: some others passed beyond the seas with loud lamentations instead of the voice of exhortation. "Thou hast given us as sheep to be slaughtered, and among the Gentiles hast thou dispersed us." Others, committing the safeguard of their lives, which were in continual jeopardy, to the mountains, precipices, thickly wooded forests, and to the rocks of the seas (albeit with trembling hearts), remained still in their country. But in the meanwhile, an opportunity happening, when these most cruel robbers were returned home, the poor remnants of our nation (to whom flocked from divers places round about our miserable countrymen as fast as bees to their hives, for fear of an ensuing storm), being strengthened by God, calling upon him with all their hearts, as the poet says,--
"With their unnumbered vows they burden heaven,"
that they might not be brought to utter destruction, took arms under the conduct of Ambrosius Aurelianus, a modest man, who of all the Roman nation was then alone in the confusion of this troubled period by chance left alive. His parents, who for their merit were adorned with the purple, had been slain in these same broils, and now his progeny in these our days, although shamefully degenerated from the worthiness of their ancestors, provoke to battle their cruel conquerors, and by the goodness of our Lord obtain the victory.

O país foi desolado, de costa a costa, até que um herói surgiu no meio do povo, chamado de Ambrosius Aurelianus. Este nome já conhecemos melhor, vimos em outros carnavais... É a versão mais próxima que temos do Arthur "histórico", um comandante de batalhas. Aqui sinto uma pontada de satisfação, até porque o nome Walter significa "comandante de batalhas". Isso é o lado bom; o lado ruim é que o nome é de origem germânica, o que me coloca do outro lado da batalha, mas tudo bem, fazer o quê..



26: After this, sometimes our countrymen, sometimes the enemy, won the field, to the end that our Lord might in this land try after his accustomed manner these his Israelites, whether they loved him or not, until the year of the siege of Mount Badon [Note: Giles translates "Badonici montis" as "of Bath-hill"], when took place also the last almost, though not the least slaughter of our cruel foes, which was (as I am sure) forty-four years and one month after the landing of the Saxons, and also the time of my own nativity. And yet neither to this day are the cities of our country inhabited as before, but being forsaken and overthrown, still lie desolate; our foreign wars having ceased, but our civil troubles still remaining. For as well the remembrance of such a terrible desolation of the island, as also of the unexpected recovery of the same, remained in the minds of those who were eyewitnesses of the wonderful events of both, and in regard thereof, kings, public magistrates, and private persons, with priests and clergymen, did all and every one of them live orderly according to their several vocations. But when these had departed out of this world, and a new race succeeded, who were ignorant of this troublesome time, and had only experience of the present prosperity, all the laws of truth and justice were so shaken and subverted, that not so much as a vestige or remembrance of these virtues remained among the above-named orders of men, except among a very few who, compared with the great multitude which were daily rushing headlong down to hell, are accounted so small a number, that our reverend mother, the church, scarcely beholds them, her only true children, reposing in her bosom; whose worthy lives, being a pattern to all men, and beloved of God, inasmuch as by their holy prayers, as by certain pillars and most profitable supporters, our infirmity is sustained up, that it may not utterly be broken down, I would have no one suppose I intended to reprove, if forced by the increasing multitude of offences, I have freely, aye, with anguish, not so much declared as bewailed the wickedness of those who are become servants, not only to their bellies, but also to the devil rather than to Christ, who is our blessed God, world without end. For why shall their countrymen conceal what foreign nations round about now not only know, but also continually are casting in their teeth?

Gildas coloca a batalha de Monte Badon como a mais decisiva batalha dentre todos os confrontos com os saxões; somente depois desta batalha foi declarado o fim da guerra, e o país lentamente prosperou, com o trabalho dos que sobraram. Nas palavras do Gildas, "cada um conforme sua profissão". Mas, com o tempo, as pessoas que vivenciaram a ruina da Britania envelheceram, enquanto os mais novos somente conheceram uma Britania mais rica e próspera. Assim, o lamento do Gildas continua, onde os jovens não dão valor às conquistas e lutas dos seus antecesores.

Até aqui vai minha leitura do Gildas, mas o texto se propaga por longos 110 parágrafos como os que mostrei. Pode até ser que venha ler todos, mas decidi condensar por enquanto apenas aos que nos interessam como curiosos sobre Arthur e suas boas histórias. Vejo no Gildas alguém que precisava contar o que sabia, dentro da parcialidade da sua opinião, mas ao mesmo tempo esse estilo de escrita é característico do medievalismo, e de longe não é exclusividade dele. Digamos, o discurso revoltado era a maneira de chamar a atenção, de trazer para si os olhares. Esse recurso medieval nos persegue até hoje, na política e mais ainda na religião; quem não viu algum padre ou pastor gritando para seu público? Assim, Gildas captura a atenção da platéia, e nos leva da mão pela história da Britania, ou pelo menos, a história segundo ele.

O texto na íntegra encontra-se aqui. Ou, caso queiram comparar com o texto em latim, segue este link.

Bom, agora só faltou Bede... Vou caçar os textos dele, para terminar de formar o comparativo entre os textos. Até o próximo post!

Variedades

Faz um tempo que não escrevo nenhum post pessoal, daqueles onde conto um pouco o que venho fazendo. Por estarmos em clima de feriado, decidi escrever um post mais pessoal. Temos tempo para falar das lendas, elas não vão sumir de uma semana para a outra, né?

Não é nenhuma novidade hoje, mas caso alguém não saiba ainda, venho fazendo aulas de bateria desde fins de fevereiro deste ano. Essas aulas tem servido muito para melhorar minha coordenação, meus reflexos, minha memória, mas principalmente o meu humor. Procuro ser sempre uma pessoa tranquila, viver sem passar estresse aos outros, e sem dúvida a bateria tem se mostrado um hobby fantástico para tirar a cabeça do dia-a-dia.

Todo mundo tem obrigações, e tenho me policiado muito para que essas obrigações não tirem de mim o que chamo de tempo livre. Meu tempo livre nunca está livre de fato; sempre tenho outras coisas para fazer. Mas, em geral, procuro que esse tempo rinda o bastante, e faço um resumo mental do que fiz nesse tempo livre para não ficar com a sensação de não ter feito nada. Pessoalmente, acho triste quando alguém diz que não fez nada no final de semana; prefiro respostas como "tirei o atraso dos seriados e dvds que tinha para assistir", ou "comecei a ler o livro que ganhei faz uns 3 anos", ou mesmo "meti a cara na cozinha e arrisquei uma receita nova que encontrei na internet". Tudo isso cai para muitas pessoas na categoria do "não fiz nada", mas no fundo não percebem quanto fizeram. E perdi o foco do que ia contar, vamos voltar.

Beleza, falei da bateria, e com isso posso contar que nesta semana me juntei a uns colegas de trabalho que tem uma banda para um ensaio. Ficamos 3 horas tirando som, fazendo bastante barulho e curtindo a companhia. É claro que musicalmente estou apenas começando, e tenho um longo caminho até chegar no nível que meus colegas estão hoje, mas mesmo que seja devagar eu chego lá. Sou bem persistente com as coisas que gosto, e sem dúvida a bateria só tem me trazido coisa boa.

Tenho um hobby bem mais antigo que a bateria: videogames. Tive minha fase de jogar no PC, depois  no xbox (o primeiro) e mais recentemente num xbox360, mas sempre fui um jogador de PC. A principal diferença entre um e outros está nos jogos; os consoles são ótimos para alguns jogos, enquanto outros somente tem nicho nos PCs.

Acontece que meu computador ficou velho demais para os jogos atuais, então decidi tirar a mão do bolso e investir em novo hardware. Sou muito criterioso com meu dinheiro, particularmente com valores altos, e por isso passei um bom tempo estudando antes de montar a máquina. É, quem gosta de jogos pra valer normalmente monta seu próprio computador, garimpando cada peça até juntar o melhor que puder pela grana que pode gastar. Minha máquina (ou "rig", como chamam lá fora) ficou assim:

Processador: Intel i7 870 Quad-Core (2,93 MHz), Socket 1156
Placa Mãe: Intel Extreme Series DP55KG
Memória: 8GB (2x 4096MB Corsair 1333 XMS3 CL9)
Vídeo: Zotac GeForce 470 GTX 1280MB 
HD: 2x Seagate 500GB (Stripe/Raid0), 1x 1000GB Samsung EcoGreen
Blu-Ray/DVD LG CH08NS
Fonte Corsair 650W PFC Ativo

É, eu sei, para quem não manja sobre o assunto é um monte de siglas e nomes sem sentido, mas para quem conhece tem muita coisa interessante. Se acertei nos meus palpites, não vou precisar gastar de novo por um bom tempo.

Ficar apenas falando (ou escrevendo neste caso) fica meio chato, assim que vou compartilhar com vocês o processo todo. É, cada vez que me meto nessa de trocar as entranhas do computador, registro tudo!

Antes de começar, fiz uns estudos de performance dos discos que tinha na máquina, para decidir como iria configurar na nova. Usei um programa bem conhecido, o HD Tune, que gera uns gráficos bem claros para comparar um disco com outro. Se alguém tiver interesse nesses dados, me avise que mando!

OK, é de conhecimento público que em casa tem gatos. E gatos são curiosos. Assim, montar o PC foi um desafio, por questões óbvias. Aqui o comitê decisor avaliou as características técnicas da fonte.


A fonte veio com um excelente acabamento, apropriado para a faixa de preço. Ainda assim, gosto mais do acabamento da minha fonte anterior, que permite retirar os cabos que não estão em uso; nesta fonte da Corsair, a solução é amarrar os cabos para que não atrapalhem o fluxo de ar do gabinete. Para minha surpresa, uma sacolinha preta de tecido com o logo da Corsair veio como brinde, encapando a fonte.




Aqui, as comprinhas. Sabem identificar tudo? Parte comprei fora, parte aqui, e algumas coisas já tinha. Decidi reaproveitar o gabinete, que é muito bem ventilado e está em bom estado ainda,  e também os discos. Para aumentar a capacidade, comprei um HD extra de 1 Terabyte, que uso principalmente como backup dos dois existentes de 500 GB. Fiz essa configuração porque os dois discos antigos, quando combinados como um disco só, funcionam em média um 20% mais rápido que o disco novo.

Agora, a faxina no gabinete. Começamos neste estado:



Agradeço essa nojeira ao nossos patrocinadores: cidade de São Paulo e pêlos naturais de gatos. Depois de algumas crises de espirro, chegamos ao ponto onde a fonte e a placa mãe e o leitor de Blu-ray estão nas suas posições definitivas, junto com as novas ventoinhas.


Agora, um momento tenso: colocar o processador no local dele. Encaixar no slot foi fácil. O dificil foi fechar a tampinha...

 

Aqui, o processador o cooler instalados. Agora só falta mais um par de coisas, e estamos prontos para ligar tudo.


Finalmente, a máquina montada. Ligar a máquina pela primeira vez é sempre um momento tenso; rola uma dúvida na hora se todos os cabos estão conectados, se ficou algum fio desencapado que vai dar curto e queimar tudo, se todas as coisas que você comprou são de fato compatíveis entre si e vão se dar bem, sem brigas...

Tudo (ou quase tudo) deu certo na primeira tentativa, e com isso a caveira desenhada na placa mãe (coisa exclusiva das placas da série Extreme da Intel) ligou e piscou seus olhos. Halloween on demand.

 
Na foto acima dá para ver como o acabamento da placa de vídeo (em preto) é espelhado, e reflete o resto da placa. Estou pensando em uma reforma mais séria, como abrir uma janela na lateral da máquina só para ver o interior da máquina, porque ficou tudo muito organizado, muito clean. Tem poucos cabos à vista, apenas os necessários, e ainda assim os cabos que aparecem são coloridos, o que enfeita ainda mais o visual.


Nesta última foto vemos tudo já conectado. Enfim, tudo isso para dizer duas coisas:

- Estou de máquina nova
- Não vai ter post hoje, pelo menos não no sentido clássico.

Faltam uns pequenos detalhes por arrumar, mas nada que impeça a máquina de funcionar. Quero reduzir um pouco o barulho das ventoinhas (é só colocar um feltro nas ventoinhas), e checar os cabos dos botões da frente (power, reset, led do HD, etc.). 

Estou bem contente com a máquina nova; tudo o que testei até agora funcionou muito melhor do que podia esperar. Testei alguns jogos e e vídeos, e me admirei com a imagem dos Blu-rays. É realmente incrível, mesmo com filmes mais antigos. Sobre os jogos, é muito legal poder ver o que os desenvolvedores pretendiam mostrar. Poder colocar todos os detalhes no máximo e se encantar com a beleza das imagens é uma coisa mágica.

Bom, o próximo post vai ser arturiano... o de hoje termina por aqui. Até o próximo post!

Nennius

Em um post de 2008 comentei sobre as origens da lenda arturiana, e como ela se misturou com a vida real ao ponto de ganhar espaço na relação de reis legítimos nos livros de história. Nesse post falei de Gildas, Nennius e Bede, três autores que deixaram suas marcas contando o surgimento da Britania e suas idas e voltas com as invasões dos pictos, saxões e tantos outros.

Hoje é a vez de falar de Nennius, a quem dediquei uma das leituras mais demoradas que já fiz. O texto é antigo, pesado em alguns trechos, mas dá recompensas para aqueles que não desistem e vão até o fim dele.

Nennius foi um monge galés, que viveu por volta do ano 800. Foi uma pessoa muito instruída, ao ponto de descrever o alfabeto bretão, que ganhou o nome de alfabeto Nenniano. Devemos a ele um dos textos mais ricos sobre os acontecimentos históricos da Britania, sob o título de Historia Brittonum.

Sem mais delongas, apresento o protagonista de hoje: Nennius.

May, therefore, candour be shown where the inelegance of my words is insufficient, and may the truth of this history, which my rustic tongue has ventured, as a kind of plough, to trace out in furrows, lose none of its influence from that cause, in the ears of my hearers. For it is better to drink a wholesome draught of truth from the humble vessel, than poison mixed with honey from a golden goblet.

"Seja, portanto, mostrada franqueza onde a elegância das minhas palavras for insuficiente,  e que a verdade desta história, onde minha rústica língua ousa se aventurar como o arado fazendo sulcos, nada perca da sua influência por esta causa nos ouvidos dos meus ouvintes. Porque é melhor beber uma mistura saudável de uma vasilha humilde, do que veneno misturado com mel em um cálice de ouro."

-Historia Brittonum de Nennius, 800 d.C.

Achei fascinante essa introdução. Tanto é assim, tão inspiradora, que usei como introdução no meu livro. É.. o livro finalmente começou. Mas isso fica para conversas entre amigos, por fora do blog.

O texto do Nennius se propõe contar toda a história da Britania, desde o começo da vida nas ilhas até os dias contemporâneos ao autor. Quando digo começo da vida, é isso mesmo que estão entendendo: os pergaminhos misturam religião, lendas, mitologia e história como se fosse tudo parte do mesmo contexto. Assim, vemos o surgimento de Roma através de Rómulo e Remo alimentados pela loba, encontramos Noé e seus filhos povoando o mundo, e germânicos que incluem os primeiros deuses na sua linhagem. Toda essa mistura contada como a mais pura verdade. Ao menos, era a realidade da época, e quem somos nós para argumentar o contrário, não é? Tudo isso é história, ao menos para Nennius.


Um dos maiores protagonistas do texto é Saint Germanus, ao qual se atribuem os mais diversos e mirabolantes milagres. Chuva de fogo nos infiéis, bezerros que aparecem inteiros ao dia seguinte depois de virar churrasco, e outras proezas religiosas dignas de um herói. É inevitável sorrir ao ler essas coisas, e encontrar descrições tão semelhantes nos textos do Bernard Cornwell. Me divirto muito porque vejo o que inspirou esses autores que tanto gosto, e entendo ainda mais como eles constroem as histórias pegando retalhos espalhados na literatura antiga.

Li o Historia Brittonum com bastante ansiedade, esperando o encontro com o Arthur pseudo-histórico;  levou uma eternidade até chegar nele. Chegando ao fim do texto encontramos os capítulos onde finalmente lemos o nome do Arthur, no papel de comandante de batalha. Específicamente, nos blocos 50 e 56:

50. St. Germanus, after his death, returned into his own country. At that time, the Saxons greatly increased in Britain, both in strength and numbers. And Octa, after the death of his father Hengist, came from the sinistral part of the island to the kingdom of Kent, and from him have proceeded all the kings of that province, to the present period.
Then it was, that the magnanimous Arthur, with all the kings and military force of Britain, fought against the Saxons. And though there were many more noble than himself, yet he was twelve times chosen their commander, and was as often conqueror. The first battle in which he was engaged, was at the mouth of the river Gleni. The second, third, fourth, and fifth, were on another river, by the Britons called Duglas, in the region Linuis. The sixth, on the river Bassas. The seventh in the wood Celidon, which the Britons call Cat Coit Celidon. The eighth was near Gurnion castle, where Arthur bore the image of the Holy Virgin, mother of God, upon his shoulders, and through the power of our Lord Jesus Christ, and the holy Mary, put the Saxons to flight, and pursued them the whole day with great slaughter. The ninth was at te City of Legion, which is called Cair Lion. The tenth was on the banks of the river Trat Treuroit. The eleventh was on the mountain Breguoin, which we call Cat Bregion. The twelfth was a most severe contest, when Arthur penetrated to the hill of Badon. In this engagement, nine hundred and forty fell by his hand alone, no one but the Lord affording him assistance. In all these engagements the Britons were successful. For no strength can avail against the will of the Almighty. 

Neste texto encontramos Arthur como o herói da parada; o texto já começa com "Foi então que o magnífico Arthur..". Ele liderou 12 batalhas ao lado dos reis da Britania e seus comandantes de guerra, vencendo e repelindo os saxões. A maior batalha de todas é a última, a de Monte Badon, onde segundo o Nennius " novencentos e quarenta cairam pela mão dele, sem ninguém além do Senhor no seu auxilio". E termina com "Em todos estes encontros os Bretões tiveram sucesso. Porque não há força que prevaleça contra o desejo do Todo Poderoso".  Palavra de Nennius, minha gente. 

Pensa só em liquidar 940 inimigos sozinho. É um número meio cabalístico, não é? Por não dizer exagerado. Por mais que as armaduras do século 5 não passavam de algumas camadas de couro sobrepostas ao gibão, ainda é um esforço incrível para erguer uma espada ou um machado de guerra e trucidar centenas de pessoas. É apenas um palpite, mas acho que o número está um pouco inchado. Vamos ao bloco 56.

 56. At that time, the Saxons grew strong by virtue of their large number and increased in power in Britain. Hengist having died, however, his son Octha crossed from the northern part of Britain to the kingdom of Kent and from him are descended the kings of Kent. Then Arthur along with the kings of Britain fought against them in those days, but Arthur himself was the military commander ["dux bellorum"]. His first battle was at the mouth of the river which is called Glein. His second, third, fourth, and fifth battles were above another river which is called Dubglas and is in the region of Linnuis. The sixth battle was above the river which is called Bassas. The seventh battle was in the forest of Celidon, that is Cat Coit Celidon. The eighth battle was at the fortress of Guinnion, in which Arthur carried the image of holy Mary ever virgin on his shoulders; and the pagans were put to flight on that day. And through the power of our Lord Jesus Christ and through the power of the blessed Virgin Mary his mother there was great slaughter among them. The ninth battle was waged in the City of the Legion. The tenth battle was waged on the banks of a river which is called Tribruit. The eleventh battle was fought on the mountain which is called Agnet. The twelfth battle was on Mount Badon in which there fell in one day 960 men from one charge by Arthur; and no one struck them down except Arthur himself, and in all the wars he emerged as victor. And while they were being defeated in all the battles, they were seeking assistance from Germany and their numbers were being augmented many times over without interruption. And they brought over kings from Germany that they might reign over them in Britain, right down to the time in which Ida reigned, who was son of Eobba. He was the first king in Bernicia, i.e., in Berneich.

Aqui encontramos o Arthur já descrito como Dux Bellorum, ou comandante de batalha. A influência cristã do Nennius fica mais evidente ainda, ao comentar que na oitava batalha os Bretões massacraram impiedosamente os Saxões graças a uma imagem da Virgem Maria que o Arthur carregou no ombro durante toda a batalha. Opinião pessoal, não acho que associar um santo a uma guerra seja uma idéia válida, mas era a visão da época. Na verdade, até hoje a humanidade briga por religião, e mata em nome dela. Para mim é uma coisa abominável. Mas, voltando ao texto, sinceramente acho muito improvável que Arthur fosse cristão. Não condiz com a época, e muito menos com a região. Nem os romanos do século 5 estavam inteiramente catequisados, ainda rolavam cultos aos deuses romanos e sua mitologia. Se bobear, tem isso até hoje, mesmo com as figuras imponentes do Papa, o Vaticano e sua investidura romana. Mas viajei demais, vamos voltar ao Nennius.

Como era de se esperar, a esta altura do texto o total de mortos pelo Arthur aumentou para 960; podemos pensar que o texto está errado, ou que o Arthur ainda estava lutando e por isso o número aumentou em 20 mortos em apenas uns parágrafos. Acho que estavam se esforçando para chegar em 1000, mas acabaram os reforços dos saxões e a batalha teve que parar. Ainda assim, eu faria um antidoping no Arthur.

O pergaminho se perde um pouco aqui em genealogias e lugares, e finalmente encontramos uma última menção no bloco 73 sobre algum Arthur, que não sabemos se é o Dux Bellorum ou outro Arthur homónimo. Seja como for, ele deixou sua marca. Bom, não foi bem ele, foi o cachorro dele. Olha só:

73. There is another marvel in the region which is called Buelt. There is a mound of stones there and one stone placed above the pile with the pawprint of a dog in it. When Cabal, who was the dog of Arthur the soldier, was hunting the boar Troynt, he impressed his print in the stone, and afterwards Arthur assembled a stone mound under the stone with the print of his dog, and it is called the Carn Cabal. And men come and remove the stone in their hands for the length of a day and a night; and on the next day it is found on top of its mound.
There is another wonder in the region which is called Ercing. A tomb is located there next to a spring which is called Licat Amr; and the name of the man who is buried in the tomb was called thus: Amr. He was the son of Arthur the soldier, and Arthur himself killed and buried him in that very place. And men come to measure the grave and find it sometimes six feet in length, sometimes nine, sometimes twelve, sometimes fifteen. At whatever length you might measure it at one time, a second time you will not find it to have the same length--and I myself have put this to the test.

Foi assim que apareceu o nome de Cabal, que em outros textos aparece como Cavall, e o cachorro do Arthur ganhou nome. Sobre o filho do Arthur chamado Amr e seu túmulo retrátil, não tinha lido nada antes, para mim é novidade. Já vi que minha viagem para Inglaterra e Gales vai incluir uma fita métrica na bagagem.

Querem ler mais? Curiosos como texto original? Podem encontrar o texto na íntegra e alguns outros detalhes nestes links:
 

Ainda não pensei no post da semana que vem. Alguma sugestão? Comentem!

Até o próximo post!

Camelot 3000 - Agora Tupiniquim

Galera, post rápido enquanto não termino del ler o "Historium Britannae" no original... Essas coisas demoram!

Acontece que a Panini (aquela do album de figurinhas do mundial, sabe?) lançou em setembro a versão brasileira da edição de luxo do Camelot 3000. Linkei o post que escrevi sobre o gibi, para quem estiver perdido sobre o assunto. Mas, como quase ninguém clica nos links vou comentar brevemente; é um gibi onde o Arthur volta no ano 3000, no momento em que o planeta é invadido por alienígenas. Assim, a lenda da volta de Arthur toma forma, e a távola redonda é novamente convocada, agora com novas pessoas que se descobrem os antigos cavaleiros.

Tudo contente fui ver onde vendia o tal livro, e vi que por enquanto somente dá para comprar online pela Livraria da Folha. Preço: 82 reais, porém com um desconto que fica 65 reais. Prazo de entrega: 11 dias úteis, onde consta um texto que depende do fornecedor. Aí eu disse pra mim mesmo, "Como assim?" Já tive experiências péssimas onde os sites vendem coisas que não tem no estoque, mas assim é ridículo. Estou pagando pelo direito de entrar na fila, e quem sabe algum dia receber o livro. Nem pensar!

Enquanto divagava, dei uma googlada buscando o livro em outros lugares, mas em um momento caiu a ficha... por se tratar de um livro, posso comprar no exterior, que vem sem impostos! Quanto será que custa? 

O mesmo livro, capa dura, edição especial de 2008 (é, aqui foi traduzido e lançado só agora) custa exatas 25 doletas na Amazon. Acho que demorei uns 35 segundos para iniciar e concluir a compra, com prazo de entrega de 30 dias. Se fizermos a conta, vai dar quase a mesma coisa que os 11 dias úteis da Folha, só que com mais certeza que chega, e ainda no idioma original. As compras que fiz na Amazon foram despachadas na hora, portanto não devo ter surpresas.

Eu acho que poderia ter pesquisado um pouco mais, por exemplo na Alibris, que é um motor de busca em um monte de livrarias de fora, e vende até usado; mas, sinceramente, fica difícil promover a leitura por aqui com preços assim, enquanto achei justo o preço praticado pela Amazon por uma edição de colecionador. Não porque não possa pagar o que a Panini e a Folha querem me cobrar, mas porque meu dinheiro é suado e custa ganhá-lo. Afinal, o livro é o mesmo de fora, só com a tradução. É tão caro traduzir?

Quando chegar o livro tiro fotos e comento por aqui. Enquanto isso, viro meus olhos de novo para o "Historium Britannae"!


Até o próximo post!

Eleições

Bom, teve eleições hoje no Brasil, e como Camelot era uma monarquia aqui não teve eleição. Ainda assim, o fato é que são 10 da noite, e não terminei de ler o texto que estava preparando para postar hoje, portanto vai ficar para o meio da semana, ou como um post mais elaborado para o próximo finde.

Espero que tenham curtido a eleição, e que suas escolhas tenham valido a pena!

Baixando a Fila

Nessa semana terminei de ler o quinto e por enquanto último livro das Crônicas Saxônicas de Bernard Cornwell, intitulado "Terra em Chamas". Já falei desta série de livros algumas vezes no blog, portanto quem ainda não sabe do que se trata poder se informar neste post, e neste também.

Agora comecei minha leitura do Stonehenge, do mesmo autor; vai ser muito interessante ver o que ele construiu em base ao pouco que sabemos sobre essa obra de arquitetura tão antiga e misteriosa. As obras da antiguidade nos surpreeendem, assim como surpreenderam a todos os povos que chegaram antes de nós e que também não conheceram suas origens.

Imaginem só tudo o que a humanidade já imaginou sobre este local mágico. Estas pedras estão lá há mais de 5000 anos... em algum momento, a tribo que ergueu estas pedras sumiu, junto com toda a tecnologia necessária para erguer tais pedras. Sumiu, e levou com ela a sabedoria de olhar as estrelas, e construir um peça de arquitetura capaz de indicar o solstício. Na minha cabeça, uma tribo capaz de construir coisas assim deixaria mais marcas no mundo para encontrarmos como por exemplo outras construções semelhantes ou mesmo casas feitas de pedra, mas nada disso! Se em contrapartida olharmos o Egito, é um país que existe até hoje, com suas monumentais pirâmides. Encontramos no Egito Antigo uma língua escrita por hieroglifos. A desciframos para descobrir grandes nomes de reis e rainhas, tão grandes que ganharam seu espaço na literatura e até no cinema, conquistando novos fãs a cada dia mesmo depois de milênios. Seguindo essa linha, é muito triste não termos absolutamente nenhum registro escrito sobre os criadores de Stonehenge, sobre uma tribo capaz de semelhante compreensão das estrelas e o mundo onde viviam.

Os saxões passaram pela mesma desilusão, com ainda menos respostas do que a gente. Ao vermos os reinos de Wessex, da Mércia, Anglia Oriental e Nortúmbria (os 4 reinos que finalmente formariam Inglaterra), encontramos um povo precário. Pessoas que sobrevivem como podem, criando gado e enfrentando invernos cruéis. Desenvolveram um talento extraordinário na navegação, requisito obrigatório pelas características do local, mas não eram capazes de explicar como apenas 300 anos antes os romanos construiram estradas, casas de banho e belíssimas construções, com colunas monumentais e pisos de cerâmica com intrincados desenhos. Os saxões moravam em cabanas ou mesmo choupanas de madeira, e seus castelos também não passavam de fortalezas de madeira, com piso de palha que fedia e tinha que trocar constantemente. Muitas construções saxãs reaproveitavam  as ruinas das mansões romanas, como por exemplo em Lundene (que mais tarde seria Londres). Ainda assim, os tetos eram feitos de palha e madeira, com todos seus defeitos. Os saxões deviam olhar para as construções romanas, admirá-las, e se perguntarem por quê eles não eram capazes de trabalhar a pedra da mesma forma. Para eles, os romanos só podiam ter a ajuda dos deuses para conseguir aquilo.

Hoje, mesmo fazendo prédios incríveis, túneis que atravessam montanhas ou passam por baixo do mar, e até pontes suspensas capazes de atravessar as margens de qualquer rio, continuamos nos admirando com Stonehenge. Esse é um lugar que não perco de ver. Mas, por enquanto, vou ter que me conformar com ler o livro do Cornwell... Quem tem vontade de ler mais um pouco sobre Stonehenge pode ler outros posts, como este daqui e este outro.

Até o próximo post!

Bricolage

 O termo bricolage vem do francês, e se usa para descrever aquelas atividades de construir ou transformar coisas para uso pessoal a partir de sobras, retalhos e material bruto. Tem um pouco a ver com artesanato, só que a diferença é o tom pessoal.

Quando era criança gostava bastante de bricolage. Acho que todas as crianças devem gostar, afinal, o primeiro que aprendemos na escolinha é colar papel, pintar, desenhar, e montar coisas com nossas mãos. Muitas vezes pegava as caixas que sobravam dos remédios para fazer brinquedos; forrava com papel, cortava os quadrados onde iam as janelas, pegava uns botões ou cortava círculos com a sobra dos quadrados das janelas e colava no lugar das rodas, e pronto, tinha um caminhãozinho, uma kombi, ou o que viesse na cabeça.

Foi por volta dos 8 a 10 anos de idade que ganhei um kit de tijolinhos, como se fossem da lego, só que nacional, que na livre tradução chamaria de "meus tijolinhos". O kit estava inteiramente focado a construir casas, sobrados e etc, e por isso vinha com janelas, portas e telhas já prontas. O telhado eram duas láminas de papelão forradas em plástico com uma dobra no meio, como se fosse um livro de capa dura porém sem nenhuma página. Brinquei muito com esse kit; de criança tive bastantes problemas de saúde, e por isso não brincava muito na rua, ao menos não tanto quanto outras crianças. Não posso reclamar, me diverti muito e aprendi muita coisa também. Explorei muito minha criatividade, e com o tempo o kit que era para fazer casas via nascer carrinhos, aviões, ou coisas mais complexas como um parquinho com direito a carrousel, ou um taxi espacial. Foi meu jeito de ter todos os brinquedos caros que via nas propagandas, e ainda com o gostinho de saber que fui eu mesmo que fiz. 

O legal é que minha criatividade não se limitava aos tijolinhos, e assim com a habilidade manual ganhei talento para mexer com ferramentas, e foi questão de tempo para que fizesse alguns brinquedos de madeira. Lembro muito bem de uma fase onde gostava de brincar de guerra, talvez pela quantidade de filmes e seriados da época onde todo mundo atirava em todo mundo e ninguém se machucava. Fabriquei uma espingarda com sobras de madeira e ferro, e embora era muito feia e tosca eu achava idêntica aos filmes. Depois desmontei e virou lenha, por decisão minha mesmo. A madeira estraga, e usei os ferros em outros brinquedos, e as vezes para consertar coisas de fato.

Hoje vivemos num mundo muito conveniente; práticamente tudo o que podemos precisar e o não precisamos já foi inventado, e tem alguém vendendo barato, tão barato que nem compensa pagar os componentes para fazer. Mas, mesmo assim, ainda tenho meu fascínio por bricolage, e volta e meia me pego fazendo alguma coisa aqui em casa. As vezes é simples, como fazer um ajuste em uma tomada ou um cabo que não está certo, e as vezes é tão complexo quanto fazer uma gaveta para um móvel que não tem nenhuma (e adaptar as portas, ferragens e etc). Eu sei que quando falo de mim fujo um pouco do propósito do blog, mas neste caso há uma razão para contar isso tudo.
 
 Há um par de semanas encontrei o blog de uma garota que gosta de jogar videogames, chamado Whisky Tango Foxtrot (é.. atenção à sigla). Neste post ela conta que um casal de amigos tiveram filhos, e ela decidiu dar um presente bem nerd/geek para as crianças, mas que ao mesmo tempo fosse bem de criancinha. Assim, decidiu usar suas habilidades com a tesoura, comprou uns tecidos muito bacanas, e fez duas mantinhas super especiais para as crianças. E quando vi o tecido, pensei como são sortudas essas crianças lá fora. Olha isso:


Os motivos do desenho são todos relacionados à lenda arturiana. Se clicam no desenho, vão poder ver em mais detalhes nomes como os de Lancelot, Guinevere, Merlin, a espada na pedra, a távola redonda, os castelos e locais onde todas as histórias acontecem. E assim essas mantinhas juntaram duas coisas que fazem parte da minha vida: a lenda arturiana e bricolage.

Tem gente muito habilidosa, e que fez da bricolage uma profisão, ou mesmo um hobby levado muito a sério. Acho que o caso mais radical que já vi é o Volpin Props, que faz fantasias e armas de videogames e seriados, com um grau de realismo espantoso. Quem gosta de videogame e cultura pop, com certeza vai gostar das criações nesse blog.

Talvez seja minha vez de fazer alguma coisa arturiana. Me inspirar nos dois blogs que comentei, e fazer uma fantasia bem feita, uma espada ou alguma coisa parecida. Imagina só, uma réplica da távola redonda no meio da sala, hehe!

Vocês curtem bricolage? Gostam de fazer suas próprias coisas? Arrumam ou consertam coisas nas suas casas? Comentem! 

Até o próximo post!

Querem ouvir um conto?

Enquanto esperamos pela volta dos seriados que já conhecemos e outros que ainda devem começar, fui checar algumas datas e eis que hoje recomeça o seriado Merlin, pelo menos lá fora. O site do seriado tem ótimas fotos do elenco, organizadas tanto pelo nome do personagem quanto pelo nome de alguns episódios. Quem gostou ou gosta do seriado, não custa nada dar uma visitinha e olhar o que tem por lá.

Foi navegando no site que encontrei um link sobre lendas antigas de Wales na BBC, mas com um detalhe: tudo é contado em desenhos e joguinhos, completamente modelado para crianças. Há belíssimas histórias, como a de Sabrina, que é o nome latino de Severn. Severn é um rio que aparece direto nas lendas de Wales, e assim nas histórias celtas e arturianas. Entre os joguinhos, dá para brincar de montar uma torre, justo por cima dos dois dragões da lenda do rei Vortigern. Lembram? Nesse joguinho minha torre ficou com 26 metros até ruir. Querem tentar e ver que tão alta fica?

Mas, de todas as histórias, creio que a que tem os desenhos mais bonitos é a do casamento de Guinevere com Arthur. Lembra muito os contos antigos, aqueles contos de livros de folhas grossas que vi na minha infância. Foi muito bom folhear esse conto, ao ponto que esqueci por um  bom tempo que estava vendo isto na tela do computador. Quem é ou foi criança, com certeza vai sonhar também com esse conto.

Estas histórias todas são inspiradas de leve nas tantas e tantas histórias do Merlin. Não é a intenção ser fiel aos contos como são conhecidos; apenas se inspirar nas mesmas para contar mais uma nova versão. Afinal, com personagens tão ricos e um mundo tão cheio de aventuras, quem resiste criar sua própria história?

Para todos os que ainda são crianças sonhadoras em algum canto, não percam o site e passem por lá.

Até o próximo post!

Skoobando

Há muito, muito tempo, a Rê tinha comentado no seu blog da época (o Darkflame, hoje extinto) sobre uma rede social chamada Skoob. A idéia por trás desse site e registrar todos os livros que que você já leu, vai ler ainda, largou no meio, etc..

Já com os livros na sua estante virtual, é possível gerenciar detalhes como em qual página parou a leitura, fazer anotações sobre o ponto onde chegou para poder acompanhar depois, ou mesmo dizer se o livro foi ou está emprestado, se quer trocar ou vender, ou se faz parte dos seus favoritos.

Na época tinha me cadastrado, mas o site era bem ruimzinho e não dava para gerenciar quase nada. Mas, esses dias recebi um aviso sobre um sorteio de um iPad pelo site, e como bom curioso fui e me cadastrei de novo; sim, de novo, porque nem lembrava do site. A minha surpresa foi que melhorou bastante, e mesmo com bastantes bugs por corrigir já  é bem mais interessante e principalmente mais útil que a primeira versão que vi.

Voltando no passado mais um pouco, escrevi um post em Janeiro de 2008 onde disse que ia deixar um link com os livros que tenho. Tudo bem que a promessa demorou (mesmo?), mas agora por fim posso dizer que existe uma ferramenta onde gerenciar a leitura decentemente. Ainda estou cadastrando um monte de livros, e até mesmo acrescentando livros ao catálogo do site (por exemplo, a edição em espanhol do Senhor dos Anéis). Mas a cada livro que cadastro, a estante fica mais a minha cara, portanto mesmo que me leve algumas horas para caçar a capa certa ou a edição que quero, acho que é tempo bem investido, até porque assim outras pessoas também podem arrumar seus cadastros, não é? Afinal, uma rede social é isso, todos colaborando. Pelo menos no sentido idealista da coisa.

Querem ver minha estante? Saber o que ando lendo, ou o que vou ler ainda? É só passar pelo Skoob e acompanhar! 

Até o próximo post!

Aventuras no Twitter

Oi gente, antes que nada quero agradecer a todos os que estão acompanhando o blog e o twitter do Camelot or What. Sem vocês, não teria a mesma graça!

No caso particular do Twitter, posso dizer que foi ganhando vida própria a cada tweet. Começou como todos, sem saber muito o que dizer; mas o tom imediatista do twitter acabou provocando um desenvolvimento diferente, bem diferente à proposta do blog. Enquanto aqui conto histórias, notícias, leio e comento livros e textos bem antigos, o twitter virou o lar dos personagens da lenda arturiana, porém com uma ótica bem moderna. Quero divertir, fazer rir, e sei que está dando certo.

Gosto de imaginar os personagens vivendo em seu mundinho medieval, na sua idílica Camelot, mas ao mesmo tempo enfrentando alguns problemas do nosso dia-a-dia, se encantando e sofrendo como nós, vendo tv, assistindo jogos de futebol, jogando videogame e por aí vai. Com isso vieram outras idéias, que devo explorar com o tempo.

Cada personagem que (re)inventei no twitter tem fortes traços da sua personalidade literária imbuida. Cada um deles é forte e fraco nos mesmos pontos que nas histórias do Malory, do Chrétien e de outros autores; bebi de várias fontes para modelar a personalidade de cada um. Mas, ainda assim, nunca parei para escrever sobre essas personalidades, sobre o que gera conflito entre eles. O fato é que inventei pouca coisa, apenas encaixei nas personalidades já construidas e muito bem fundadas algumas características que tem mais a ver com nossa atualidade, o que faz que nos identifiquemos mais ainda com um ou outro personagem.

Temos um Rei Arthur, com "h", que fica na dele a maior parte do tempo, sempre atento, sempre ouvindo. É um rei soberano, admirado, e que quando fala o faz depois de muito pensar. Não solta nada ao acaso, não é impulsivo. Não é um rei que fique apenas no seu trono, olhando de cima; participa, e quase sempre para dar fim ao assunto com sabedoria. Forte, justo, um pouco idealista talvez, embora já mais conformado com o nosso mundo. Barba curta, bem feita, e bom o bastante para carregar e usar a espada que lhe fora entregue. Não pretende ganhar em batalha de nenhum dos seus cavaleiros, já que seu lugar não é esse; seu lugar é o de comandante, e como tal, espera que seus cavaleiros também saibam honrar esse título. Por isso, é respeitado, e acima de tudo querido por seus mais fiéis amigos.

Nossa Guinevere é esplendorosa. É uma mulher como não tem outra. Até as pessoas mais desinibidas ficam sem fala perante sua beleza. Uma beleza natural, mas ao mesmo tempo divina. Não são suas roupas, suas jóias, sua tiara que a fazem rainha. Nasceu para ser rainha. Provoca admiração e uma certa inveja das mulheres que não a conhecem, barreira que é quebrada de imediato ao primeiro oi da Gui. Uma simplicidade encantadora, que mostra que o interior é tão belo quanto o exterior. Nossa Gui adora ver novelas, ler o horóscopo, comer mortadela quando ninguém está olhando; gosta de tudo bem limpinho, e isso atrapalha um pouco os passeios a cavalo e as caminhadas nas florestas de Camelot. Não é frescura, mas apenas uma questão de gosto; ela não vai fazer nojinho de cumprimentar os plebéus dos vilarejos, nem de comer ao relento com eles em volta de uma fogueira. Vai rir e dançar com eles, festejar muito, mas chegando no castelo vai lavar o cabelo porque de-tes-ta ir para a cama com cheiro de fumaça. É a nossa Gui, e por isso a amamos tanto.

Entre os que mais amam Guinevere, está Lancelot. O cavaleiro perfeito, ao menos como é visto por todos. Sabem aquele cara que entra e todo mundo fica contente? É ele. Anima qualquer churrasco, faz de qualquer encontro uma festa. Nosso Lancelot tem uma imagem a zelar, e com isso é muito, mas muito preocupado com a aparência, quase como um TOC. Ele espera a hora certa para entrar no salão, para que a luz do sol que entra pela janela faça reflexo nos outros e brilhe até cegar todo mundo; espera para que o vento sopre de forma que sua capa seja uma bandeira flamulante, quase uma moldura dele mesmo. O cabelo sempre encebado, o sorriso de artista dos anos 30, o ouro do cinema. Valente como poucos, é daqueles cavaleiros que topam qualquer missão, sem questionar se é impossível. Ele quer viver suas aventuras, que é o que o fazem se sentir vivo. Admirado e desejado pelas mulheres, mas só tem olhos para Guinevere; isso o faz sofrer, mas ao mesmo tempo o faz ser quem é. Assim, todas as damiselas continuam desejando o cavaleiro perfeito, e ele continua livre, para todas porém para nenhuma. Tem apenas uma pessoa que consegue tirá-lo do sério: Morgana. Basta ela ficar olhando fixo para ele que explode em um "QUE FOI??", o que acaba em risos no salão inteiro, e finalmente com ele rindo também.

Morgana é uma criatura estranha. Não é feia, mas também não é bela. Faz questão de provocar, quer ver o circo pegar fogo, se divertir com o caos. Usa piercing, é tatuada, raspa o cabelo de moicano, faz o que quer para chamar a atenção. No fundo, quer sentir ódio de Guinevere por a inveja horrores, mas Gui é tão boa com ela que a desmonta por completo, e assim viraram amigas. É um contraste e tanto ver as duas juntas; no fundo, é bem possível que somente Guinevere entenda a Morgana, e que a conheça melhor que ninguém. Morgana quer odiar Guinevere, mas não consegue, e assim se deixa levar por essa amizade esquisita que a Gui oferece sem pedir nada em troca. 

Gawain... ah, Gawain. Ele é uma figura. O melhor amigo de Lancelot, e sobrinho de Arthur. É um galanteador, um poeta, um romântico. Ele ama estar apaixonado, mesmo que sua paixão pule de moça em moça. Ele quer amar todas, não por mal, mas por ser doente de amor. Sabe aquele cara que você sempre vê rodeado de garotas, e todas dando risadinha? É o Gawain. Ele gosta de ouvir músicas bregas, qualquer coisa que fale de amor, para bem ou para mal. Canta no chuveiro, desafina pra caramba, e tem a coleção completa das coletâneas de Love Songs no ipod. Mas, como todo barco tem sua âncora, o porto seguro de Gawain é Brancaflor. E finalmente, quando a fase de vida louca do Gawain acabar, será para ela que ele vai voltar. Ele sabe bem disso, e não se decide; quer ser o homem de Brancaflor, é o que mais deseja, mas ao mesmo tempo não sabe como largar sua vida de solteirice. E assim, enquanto não se decide, vai deixando que a vida o leve onde quiser. Por outro lado, Brancaflor sabe que ele vai vir, quando cansar dessa vida; foi com essas palavras que ela o conquistou de vez. Do lado dela, resta a paciência, e a certeza de que é só questão de tempo para ele ficar de vez.

Ainda temos muita gente na história; Kay com seu jeito cavalo de ser, tolerado com carinho e paciência por Arthur, que sabe que no fundo ele é um cara legal. Temos nosso Merlin, inventor, cientista, gênio, velhinho simpático, de riso fácil e sempre com boas histórias para contar. Foi ele que insistiu para colocar tv a cabo no castelo, e é sempre ele que fica antenado no que tem de novo. Foi ele que comprou o primeiro iPad em  todo Camelot, e o primeiro ao ficar chateado quando não abriu flash. Está na fila para comprar o iPhone G4, mas enquanto isso fica usando, com amor e ódio, seu velho N95. Temos um Mordred peçonhento, mas que por enquanto fica pacato, querendo aprontar mas sem conseguir. Ele tenta, mas desta vez, todos sabem que ele é recalcado com a vida, e por isso não vão deixar que ferre com a vida de ninguém. Ele até tenta, incentivado pela mãe, mas não chega muito longe. No fim, ele só quer ser aprovado, reconhecido, ser mais um... só que muito invejoso.

Assim, reis, cavaleiros, donzelas, magos e tantos outros personagens invadem o twitter, comentando a vida como ela é, ao menos da sua perspectiva, desde o olhar do seu castelo nessa Camelot que é moderna e medieval ao mesmo tempo.

Conseguem imaginar estes personagens? Como eles são? Tem acompanhado o Twitter? Me contem!

Até o próximo post!

Wally, o Bardo

O post da semana passada vai ser difícil de superar; fez um baita sucesso! Obrigado a todos os que o visitaram e aos que deixaram seu comentário.

Nesta viagem a Munique, consegui aproveitar muito bem o tempo pela noite, graças ao verão européio. Eram 9 da noite e ainda estava claro! Foi uma delícia andar por essas ruas, cortar caminho entre as ruelas menos conhecidas, e jantar nos famosos biergartens espalhados pela cidade. 

Na praça principal e centro turístico da cidade (chamada de MarienPlatz) fica uma construção muito antiga, destruída na segunda guerra e restaurada ao seu visual tradicional: é o prédio da prefeitura, ou Rathaus. Tem uma fachada incrível, atulhada de estátuas, detalhes, contornos e seu famossísimo Glockenspiel; é um símbolo da cidade, e um símbolo do barroco medieval. Tem vários livros que tratam do assunto, mostrando o barroco alemão e italiano, e explicando porquê este prédio é uma referência na arquitetura. Não sou um especialista no assunto, apenas um admirador da beleza desta construção. A foto ao lado mostra a fachada, com o Glockenspiel no meio, a foto abaixo mostra a riqueza de detalhes que comentei acima. Nessa foto, na esquina do prédio, vemos um dragão escalando as colunas, atacando as outras estátuas, que fogem apavoradas pela visão do dragão. Cada vez que vejo isso me encanto de novo com essa cena.

AHHH!!!!

 O prédio segue uma estrutura típica dos castelos, com um grande pátio central e a construção contornando este pátio. Durante o verão este pátio alberga um biergarten, aberto ao público e com mesinhas bastante disputadas. Fui uma noite por volta das 9 e meia, horário que é bem atípico na Alemanha, e para minha surpresa fui atendido na boa, e fiz a minha refeição tranquilo, rodeado de locais e turistas, e circundado pelas fachadas antigas, apenas iluminadas pelo reflexo de luz de cartazes do lado de fora. Uma belíssima noite, comida incrível, antiga como a própria Baviera, e o barroco ao meu redor. E uma sensação longamente esquecida voltou.

Dia e Noite no mesmo Pátio
Alemanha tem um efeito curioso, estranho em mim. Me vi nesse pátio, que durante séculos viu gente passar, no meio aos prédios que remetem tempos já perdidos no medievalismo. Comecei a olhar para as paredes, para as janelas, com mais detalhe. Me senti mais alerta, mais ciente do meu entorno, como se enxergasse além da escuridão por trás das janelas. O idioma alemão, falado nas mesas à minha volta, começou a ficar muito, muito familiar. Dei um pequeno gole na cerveja, apenas para degustar, enquanto olhava. E a sensação foi mais nítida ainda. No meio desse barroco, percebi de vez esta sensação. Eu, de alguma forma, já estive aqui, mas não foi nesta época.

Não acredito em vidas passadas, mas o que sinto é uma sensação bem real, estranha e muito forte. A princípio parece como se alguma coisa estivesse fora do lugar, deslocada. É como olhar para uma prateleira cheia de livros, e tem um livro de ponta-cabeça. Não sei dizer se meu fascínio pela lenda arturiana tem alguma relação com isso tudo, mas no fundo, no inconsciente, é bem provável que tenha alguma relação.

Quero deixar bem claro: eu não acredito que tenha sido um cavaleiro medieval, nem que estive numa parede de escudos, nem nada nessa linha. Não me preocupo com as vidas passadas, se elas de fato existem, apenas com a atual. Tem que ter foco, e não vou gastar meu tempo nesta vida pensando em outras, certo? Mas não posso ignorar a sensação esquisita quando visito alguns lugares na Europa. Por exemplo, na visita do Residenz, não tive essa sensação, nem de perto; mas na Rathaus acontece, e também na igreja da Odeonplatz enfrente ao Residenz. Ao mesmo tempo, isso não me aconteceu no Berliner Dom, que é a igreja mais impressionante que visitei na minha vida.

Um coisa eu sei: no pátio da Rathaus, enquanto comia e bebia, ficou muito claro que tenho que escrever meu livro. Organizar a viagem, visitar Wales, Inglaterra, a França normanda, e fazer um roteiro digno de tudo o que quero deixar no papel.

Tem uma coisa que tem me apavorado um pouco; perdi a conta das vezes que fui para a Alemanha, que entrei e saí da Europa, mas tenho muito receio da minha entrada na Inglaterra. São tantas as notícias de gente deportada no aeroporto, aparentemente sem motivo, que meu receio cresce cada vez que penso nesta cruzada. Talvez deva entrar por outro país como minha sempre receptiva Alemanha, ou mesmo pela França e atravessar o canal, que deve ser uma experiência e tanto. É, cruzar o canal de barco, vendo o mesmo mar que os romanos atravessaram ao encontrar a grande ilha borrifando saxões. Ainda bem que o blog serve para anotar essas coisas!

Conversando com alguns colegas na Alemanha, vi que o livro não vai bastar. Vou ter que filmar. Gravar depoimentos de pessoas do lugar, entrevistar pessoas na rua fazendo perguntas simples sobre as lendas, as histórias. Quero manter o tom mais relaxado do blog, mais pop; ver como as pessoas reagem ao perguntar, e contar um pouco qual a idéia por trás disso tudo. Vai dar um baita trabalho, mas será minha herança para as próximas gerações. Uma cruzada pelas terras do Arthur, com um olhar bem informal.

Já vi que a melhor época para viajar deve ser sem dúvida o verão. Poucas chuvas, dias longos, tudo aberto para visitação. Vou começar a bolar o roteiro, e colocar tudo o que gostaria de ver; depois ordenar de forma que faça sentido, para não gastar muito tempo na estrada; e finalmente, entender o que preciso de papéis, quanto vou gastar, e mais importante, quanto tempo preciso para ver isso tudo. E é claro que conto com a ajuda de vocês! Podem dar pitacos, sugerir assuntos e lugares, comentar coisas que gostariam de ouvir, e por aí vai. Como já disse, vai ser quase um serviço de utilidade pública!

Até o próximo post!

Relíquias

A semana que acabou de passar estive em Munique, Alemanha. Conversei muitas vezes com um colega meu que também costuma viajar a trabalho que de fato nunca sabemos qual será a última viagem para essas terras; cada viagem parece a última, já que com o tempo, a experiência e a mudança nos cargos fica cada vez mais difícil sermos escalados para efetuar uma viagem destas. É lógico que a oportunidade de conhecer outros lugares interessa a todos, e acredito que todos tem que ter a chance de viajar pra fora a trabalho; é uma experiência enriquecedora tanto profissionalmente quanto no lado pessoal. Poder conhecer outras pessoas, outras culturas, ver como teus colegas trabalham ou resolvem problemas em outros lugares abre muito a cabeça, e ao mesmo tempo descobrimos novas comidas, tradições e costumes distantes das nossas. Perdi a conta das vezes que fui para Alemanha, e sempre fico com a sensação de que é a última viagem. Tomara que esteja enganado, como estive em todas as anteriores!

Desta vez, por questões de datas da viagem e dos compromissos, consegui arranjar um pouco de tempo livre durante o dia e com isso pude visitar o Residenz Museum, que fica aberto somente em horário comercial e localizado a poucos quarteirões da Marienplatz. Nas horas que passei nesse museu vi muitas coisas interessantísimas, reflexos de uma época onde reis disputavam territórios, conquistavam lugares e esbanjavam riqueza. Mas o que mais me impressionou da visita foi uma das novas exibições abertas ao público, a das relíquias religiosas.

Para ilustrar o assunto, vou explicar um pouco o por quê da minha curiosidade. Os que me conhecem faz um tempo sabem que sou fã dos textos do Bernard Cornwell, um grande contador de histórias de batalhas relacionadas à Inglaterra. Atualmente estou lendo as crônicas saxônicas, onde com bastante frequência se fala de relíquias religiosas, mas li vários outros textos dele onde também aparecem as tais relíquias. Mas, o que seria uma relíquia?

Dentro da religião católica, são chamados de santas a pessoas que se destacaram no serviço a Deus e às quais é atribuida a responsabilidade ou mérito por milagres. Digamos, se uma pessoa muito dedicada à igreja morre, e outras pessoas pedem em oração que esta alma interceda por elas no pedido, quando este pedido se realiza é se diz que foi o santo que ajudou, ou que intercedeu; se este pedido for impossível de explicar pela ciência ou pela compreensão, é chamado de milagre.

Com o tempo, a igreja católica passou a usar objetos que aparecem na Bíblia como alegorias poderosas, carregadas de energia santa (por assim dizer), que tinham muito valor religioso e com isso eram capazes de obrar milagres poderosos apenas por estarem aí. Um  dos exemplos mais clássico de relíquia religiosa é o Santo Graal, figura central da religiosidade imbuída na lenda arturiana. Na Espanha, existe a Igreja do Santo Graal, onde por trás de um vidro blindado é exibido um cálice, supostamente o auténtico usado por Cristo na última ceia. Assim, com o tempo, outros objetos foram "achados" e devidamente embalados para exibição; a igreja precisava de poder, e com isso a demanda de objetos santos ou santificados aumentou cada vez mais, e assim foram aparecendo coisas como a pena que Noé tirou do pombo ao sair da arca, a palha do presépio onde Jesus nasceu, e coisas no estilo.

Voltando aos santos agora, chegou um momento onde alguém teve a brilhante idéia de usar restos mortais de pessoas santas ou beatas, transformando as corpos destas pessoas em altares deles mesmos. Com toda a bizarrize que isso implica, era comum dividir os ossos do morto, colocar estas partes em pequenas urnas onde pudessem ser vistos e virarem objetos capazes de propiciar milagres, como se a santidade estivesse ainda presente nos restos mortais.

Nos livros do Cornwell, isto aparece bastante seguido nas histórias, e sempre achei divertido da forma que era colocado. Por exemplo, tem um personagem incrédulo, contando que viu uma relíquia de um santo. Esta relíquia era um dedo do santo, embalsamado e dentro de um vaso de vidro decorado por pedras preciosas; ao perguntar sobre o santo, ele escuta a história de que este santo foi um martir, e ao morrer ele foi carregado por correntes de ouro até o Ceú, e com isso virou santo. A questão é que ninguém explica como foi carregado por correntes, e no meio do caminho conseguiu perder um dedo para fazer a relíquia.

Como disse há pouco, acho hilários os textos e descrições do Cornwell, e sempre me divertiu bastante quando apareciam estas relíquias. Mas para meu espanto, tudo isso é real, e pude ver com meus próprios olhos. E tenho fotos.

No Residenz Museum, por trás de uma grossa porta blindada que serve de única entrada a uma sala-cofre, estão guardadas algumas preciosas relíquias do catolicismo. Estas pessoas foram provavelmente roubadas durante a segunda guerra mundial, conclusão minha já que é sabido que Hitler fora um grande colecionador de artes e peças raras. É, o filme do Indiana Jones e a última cruzada não era tão viajado no fim das contas.

Então, seguem as curiosas e até escabrosas imagens do que vi no museu, com suas explicações onde posso comentar.

Aqui o primeiro exemplo do que estou falando acima. O que enxergam nessa foto é um painel, quase um papercraft, feito com os OSSOS de alguém, ricamente decorado com filetes de ouro e com pedras preciosas. Isso, ladies and gentlemen, é uma relíquia do catolicismo.
Não lembro ter visto a quem pertenciam esses ossos, nem muito menos tenho como afirmar que são de fato de quem supostamente pertencem, mas não deixa de ser uma imagem espantosa.










Aqui vai ficando um pouco pior. Já vemos um osso nítidamente reconhecível, pelo tamanho algum osso curto do pé, ou talvez até de algum animal. Na peça, uma pequena placa diz S.BARBARA. Sem comentários.































As duas peças acima merecem uma menção especial. Ambas as fotos são da mesma peça, um objeto riquísimo em pedras e metais preciosos, do tamanho de um trofeú de uns 60 cm de altura, onde a foto da direita é a continuação da foto da esquerda. O toquinho amarelo que vemos no tubo é supostamente a esponja usada para secar o suor e o sangue de Cristo quando colocaram a coroa de espinhos, e nos três tubos abaixo vemos um galho do espinheiro, uma peça irreconhecível (talvez um pedaço de tecido) e uma pequena cruz de madeira. Sem querer ser sacrílego, a palavra que me veio à cabeça quando vi isto foi Epic.

Agora vamos aos bizarros, pra valer. Apresento para vocês, o FÊMUR de São Matias Apóstolo. Pelo menos, é o que diz na gravura acima do tubo (foto da direita).





















Agora, se um fêmur já é impressionante o bastante, o que posso dizer de um conjunto de mãos mumificadas, ainda com restos pretos da pele?





















As fotos não são muito nítidas, mas por um lado melhor. Ao vivo é bem impressionante. Mas como vocês já esperavam, não termina por aí, e estou deixando o melhor (ou pior?) para o final. O que tem aqui dentro? Basta ler o texto em latim, é fácil.


Descansa em um requintado travesseiro coroado por pérolas e flores de pedras preciosas, nada mais e nada menos que o CRÂNIO de João Batista. É, exatamente, O João Batista. Tinha outras cabeças como esta em exibição, no mesmo esquema de cobrir o rosto e deixar só o topo descoberto. Mas, outro mártir da igreja não deu tanta sorte, e ganhou uma relíquia menos inibida, menos discreta talvez. E com isso encerro o post.


Estão vendo o que tem na casinha de cima? Vou mostrar mais de perto.


Acredito que, passada a impressão inicial, devem ter notado que este crânio não tem dentes. Na antiguidade, as pessoas não ficavam com seus dentes muito tempo, pela falta de higiene e qualquer cuidado na alimentação, mas neste caso acho muito mais provável que os dentes desta pessoa se encontrem agora dentro de outras relíquias, aguardando sua vez de produzir um milagre. 

Na minha opinião sincera, fiquei muito, muito chocado quando dei de cara com estas peças, e me espantou o que eu chamaria de falta de respeito com o descanso dos restos mortais. A religião cristã dá muita importância à morte; é um momento fundamental onde a alma descansa e aguarda pelo Juizo Final. Mas, para alguns catôlicos dentro da Igreja, estes santos e mártires não eram dignos de descanso, e seus corpos continuam assim, desmembrados e expostos na obrigação de abençoar um local, e tornar rico quem o possuir através das visitas para ficar perto da milagrosa relíquia. Como objeto dentro de uma peça literária, são fascinantes, mas nunca passou pela minha cabeça que de fato esses objetos fossem tão reais ao ponto de podermos encontrá-los hoje em dia. Mais uma história para contar no meu livro.

Até o próximo post!