Resultados

Ok, antes que me venham com a clássica "pô, não vai falar nada do Arthur hoje?", posso dizer que tive um resultado inesperado ao colocar "Excalibur" no Google. Olha só a PRIMEIRA entrada:



Aí eu disse pra mim mesmo, "Camelot... or What." E fiquei sem assunto de vez... Assim que decidi refletir sobre o fim de ano. Quem estiver a fim, faça a mesma busca e clique... vão dar risada com o nome das "suites".

Como passaram o Natal? Espero que melhor que o pessoal que saiu no quebra-pau no Suriname, ou os passageiros do vôo do idiota fundamentalista com biribinha na meia. E sei que o Natal do Papa foi agitado, no mal sentido.

Não lembro de outros Natais com tanta bagunça como o deste ano. Mas o meu foi legal, bem legal aliás; foi minha vez de cozinhar, e não por me gabar mas cozinho muito bem. Ao menos, na opinião popular do júri (incontáveis amigos que já vieram pra casa e deram a mesma opinião; alguns até marmita levaram, imagina!). Dessa vez o prato foi surpresa até para mim, foi a primeira vez que fiz, e saiu espetacular. Achei num momento que o prato não ia chegar até a ceia de Natal, e íamos comer antes, hehe...

Estou de férias ainda, e felizmente muito cansado de tantas coisas que fiz. Tenho bastantes planos ainda para as semanas que restam, e se tudo der certo vou me cansar muito mais. É fundamental saber dedicar nosso tempo livre às coisas que gostamos, mas também saborear as coisas simples; tirar tempo para ler, apenas ler, sem fazer outra coisa; escutar música, não como pano de fundo de outra atividade, mas apenas ouvir música, reconhecendo cada som, apreciando cada acorde; sentar à mesa para se deliciar com um bom prato, uma bebida refrescante, sem fazer outra coisa além de saborear e conversar. O tempo corre, sempre, mas nós não precisamos correr. Nós corremos por querer fazer mais, mas não podemos correr mais do que nossas pernas. Isso frustra, e começamos a achar que não fizemos nada, mesmo quando faltou uma coisinha ou outra. É como se ocupar demais; querer fazer inglês, dançar tango, faculdade e cozinhar ao mesmo tempo. Não rola, porque não é para rolar.

Muitas pessoas costumam fazer pautas, resoluções para o novo ano, objetivos, propostas de mudança. Acho saudável, mas somente quando elas são objetivas. Não podemos dizer coisas como "vou comer menos". Menos quanto? Um biscoito a menos por dia? Uma pizza a menos no sábado? Vou comer menos tomate e mais alface? Gente, comam o que tenham vontade, desde que não afete a saúde. E isso vale para tudo. Digam "este ano vou aprender a dançar tango", ou "este ano vou aprender 2 receitas novas por mês". Façam propostas para o ano que possam cobrar de vocês mesmos, que possam acompanhar, e que no fim fiquem com vocês. Eu por exemplo quero manter a regularidade que tenho com o blog; um post por semana. Não importa se estou viajando, se estou doente, se estou de mudança, se fiquei sem computador; eu quero ter um post no blog por semana. Podem me cobrar.

Eu vou me cobrar também outras duas coisas: Terminar de ler todos os livros do Bernard Cornwell que não li ainda, e arrumar uma estante que preste para armazenar os livros como corresponde. São duas resoluções que devo cumprir, sei que posso, agora é só fazer.

E uma que quero me cobrar e não engordar de novo; 2009 vai ser o ano que vou lembrar como o ano que tirei a engordada que ganhei depois de casado, e embora não cheguei no peso de solteiro estou me sentindo muito bem fisicamente. Posso correr, posso pular, posso até cortar a unha do pé sem lembrar da barriga me incomodando. E com isso, tudo melhora. Estar bem significa ficar bem com os outros, e ganhar disposição para mais um monte de coisas. Estou com um pique que me surpreende; e meu objetivo é manter esse pique todo o ano inteiro.

Não sei o que me espera para esse novo ano, mas que venha!

Até o ano que vem!

Natal? Em Junho?

Na curta vida que o blog leva até agora, já me ocorreu repetidas vezes (como é de se esperar) de não saber sobre o que falar. Em outras ocasiões, o assunto vem fácil por causa da data, mas nem sempre é fácil de explorar, ou de escrever sem ser repetitivo. Em 2007 ignorei completamente o Natal no blog, apenas cumprimentando os leitores; já em 2008 comentei sobre o Natal medieval. Aí disse para mim mesmo, "E este ano? Do que falo no Natal?"

Queima do tronco de Natal... Costume europeu, não me olhem assim!!

Como nota introdutória, vale dizer que esta semana estive afastado do computador em geral, aproveitando uma semana das férias para viajar e espairecer as ideias. Foi muito bacana, porque longe das distrações tive um bom tempo para ler, e estou próximo do fim do primeiro livro das crônicas saxônicas do Bernard Cornwell. "O Último Reino" é o nome do livro, e nos conta da queda dos reinos saxões durante a invasão dinamarquesa em 871 d.C., através dos olhos de um jovem saxão de nome Uthred. Foi lendo este livro que lembrei de um fato; antes do Natal, se celebrava o Yule. E o que seria o Yule, exatamente?

Yule é a festividade ou Sabbat que corresponde ao solstício de inverno, que no hemisfério sul (a.k.a. "o nosso" na América Latina) corresponde ao dia 21 de Junho. Logicamente, para os nórdicos esta data era o 21 de Dezembro.

O Yule era para todos os fins práticos o Natal pagão. Ele ocorria exatamente na noite mais longa do ano, ou o dia com menos horas de sol.

Eu imagino a confusão na cabeça das pessoas ao falarem de Natal, do Deus Cristão, dizer que era razão para comemorar o nascimento de uma criança, e ao mesmo tempo proibir as festas pagãs. Provavelmente no meio dessa confusão que surgiram concessões, permitindo aos pagãos fazer determinadas práticas associadas ao Yule "como se fossem" do Natal. Assim, coisas como decorar a árvore, o visco e algumas outras foram adotadas para a nova celebração.

Pesquisei algumas fontes na internet com resultados variados sobre as origens do Yule, e o fator comum parece ser a origem germânica da coisa (ou seja, nórdica em geral). Vi também algumas menções à Saturnália, a festa de inverno dos Romanos. O que parece ser fato mesmo é que a festa do Natal existia antes do Natal, e o cristianismo pegou carona na data para associar as festas ao nascimento de Cristo na Terra. Seja como for, isso tudo me trouxe algumas lembranças de sermões que escutei quando ainda era criança; de como deveríamos entrar na festa de Natal com a nossa alma recatada, pensando que o que estamos celebrando era o nascimento do nosso Salvador, e não era uma festa de comida e bebedeira. Concordei com essa visão, como toda criança nova concordaria com o que os adultos dizem. Mas hoje minha impressão é outra, provavelmente por ter crescido, pela experiência de vida, por ser o adulto esta vez.

Acho que devemos aproveitar as oportunidades que temos de celebrar. A festa de Natal é um feriado, e quem não trabalha nesse dia está no seu direito de comemorar, de comer e beber, de ser feliz ao lado de pessoas que goste. O Yule era uma festa de quase duas semanas, e nós temos dois dias, o Natal e a virada do Ano. Então, independente às nossas religiões e crenças, acho que temos o direito de comemorar sim. Assim como comemoramos aniversários, formaturas, conquistas de bens, casamentos, nascimentos... Temos que festejar sim.

Para encerrar o post Yuleico de hoje, vou deixar uma canja do livro que estou lendo, onde Uthred reflexiona sobre esta data. Olha só:

Passei muitos Natais na corte dos saxões do oeste. O Natal é o Yule com religião, e os saxões do oeste conseguiram estragar a festa do meio do inverno com monges cantando, padres arengando e sermões violentamente longos. Yule deveria ser uma comemoração e um consolo, um momento de calor e alegria no auge do inverno, uma época de comer porque a gente sabe que estão chegando tempos magros em que a comida será escassa e o gelo trancará a terra. É uma ocasião de ficar feliz, se embebedar, comportar-se de modo irresponsável e acordar na manhã seguinte imaginando se algum dia irá se sentir bem de novo, mas o saxões do oeste entregaram a festa aos padres, que a tornaram alegre como um funeral. Nunca entendi realmente por que as pessoas acham que a religião tem lugar na festa do meio do inverno, mas, claro, naquela época os dinamarqueses se lembravam dos seus deuses e faziam sacrifícios a eles, mas também acreditavam que Odin, Tor e os outros deuses estavam festejando em Asgard e não tinham desejo de estragar as festas em Midgard, o nosso mundo. Isso parece sensato, mas aprendi que a maioria dos cristãos sente uma suspeita temerosa com relação à alegria, e Yule oferecia alegria demais para o gosto deles. Algumas pessoas em Wessex sabiam como comemorá-lo, e eu sempre fiz o máximo possível, mas se Alfredo estivesse por perto você podia ter certeza de que teríamos que jejuar, rezar e nos arrependermos durante todos os 12 dias de Natal.

Felizmente nosso Natal é mais animado que o da corte de Wessex do século 9, mas a mensagem que quero deixar é essa. Comemorem, se divirtam, respeitem uns aos outros e boas festas para todos!!
Até a semana que vem!

Nota: Mais curiosidades sobre o Natal? Vejam o livro "Christmas: Its Origin and Associations" de W.F. Dawson de 1902, de graça no projeto Gutenberg.

Hands On: King Arthur The Wargame


Faz algum tempo publiquei um post sobre a evolução dos videogames, focado em jogos sobre o Rei Artur e sua lenda. Nesse post mencionei que estava em desenvolvimento um jogo novo, um RTS (Real Time Strategy) com toques de RPG. A Neocore concluiu seu trabalho, e lançou o "King Arthur - The Wargame" no último 24 de Novembro. O jogo foi lançado em meio digital, e em algum momento será lançado também como mídia, com direito a manual impresso entre outras coisinhas.

Felizmente, a plataforma escolhida para o lançamento do jogo foi o mundialmente conhecido Steam, plataforma online para venda de jogos da Valve (Halflife, Left 4 Dead, e tantos outros). Usei minha conta para pesquisar o preço do jogo, e paguei uns 35 dólares na promoção; neste momento o jogo custa 40 dólares. E na minha opinião, vale cada centavo. No fim das contas, paguei uns 50 reais pelo jogo; bem abaixo da média nacional. Por coisas como essas que gosto tanto do Steam e do PayPal.

A Neocore apostou pesado ao desenvolver um jogo relativamente complexo, com uma curva de aprendizado bastante íngreme; leva umas boas horas aprender todos os clicks que a interface oferece. Aliás, a interface do jogo é uma das coisas mais mutantes. Vou tentar me explicar daqui a pouco.

A trama do jogo começa no instante em que Arthur puxa a espada da pedra, e é o soberano escolhido para governar a Britania. Os reinos estão em conflito, e fazemos inicialmente o papel de Kay, filho de Sir Ector. Como a lenda conta, Sir Ector foi o tutor de Arthur, e Kay o filho legítimo de Ector; é por isso que Arthur nutre amor fraterno com Kay, e o nomeia seu senescal. Voltando ao jogo, estamos no papel de Kay, e devemos enfrentar uma pequena rebelião provocada pelos que não aceitam Arthur como legítimo rei. Esta é a primeira batalha do jogo, e serve como tutorial para o que virá.

Como o tempo e outras batalhas (na mão do Kay e outros cavaleiros que vamos conhecendo) podemos conquistar o reino completo, e fazê-lo aliado do Arthur. O jogo vai apresentando situações conflitantes, onde dois reis pedem nossa ajuda para combater do lado deles; estas decisões são tomadas na batalha, não é preciso escolher qual o caminho que vamos seguir. Combater um lado implica se aliar ao outro. Estas decisões inclinam nossa conduta, tornando nosso rei Arthur um governante justo ou um tirano, conforme a escolha na batalha. Ao mesmo tempo, nossas decisões servem para apoiar os seguidores da velha religião, ou os novos cristãos. O peso desta orientação de conduta acaba habilitando novas possibilidades, como por exemplo chamar druidas para lutar do nosso lado, ou receber bençãos divinas; soltar nossos prisioneiros de guerra ou torturá-los por informação. Antes que me perguntem, meu Arthur é um rei justo, seguidor da velha religião.

O jogo tem um visual imponente. Tão imponente, que não consigo jogar na máquina que tengo, snif... vou ter que fazer o upgrade do ano. Lá se vá o 13 salário em hardware... O pior que aqui as coisas de micro custam uma fortuna. Bem que podia sair uma viagenzinha para outro continente mais civilizado...

Fiquei de falar sobre a interface. A mecânica do jogo é baseada em turnos, onde podemos fazer uma série de ações por estação do ano; por exemplo, no verão as distâncias que podemos percorrer são maiores graças ao bom tempo, enquanto no inverno todas as tropas ficam acampadas onde estiverem. No caso que nossas tropas se encontrem com qualquer outra, surge o confronto, e o jogo muda para o cenário 3D, onde acontece a batalha em tempo real. Podemos dividir os exércitos, coordenar cada tipo de ataque, posicionamento, estratégia, tudo enquanto o tempo corre. Para ganhar uma batalha, basta acabar com a moral do outro (no precisa matar todo mundo!). A moral é medida pela quantidade de pontos estratégicos conquistados, e pelo desempenho nos combates. Os arqueiros são mais eficientes ao atacar grupos fechados, assim como os cavaleiros são excelentes para provocar o caos em grupos abertos. Os combates são deliciosos, mas eu melhoraria um pouco o controle de câmera, que achei confuso demais, e meio desgovernado. Isso pode atrapalhar a estrategia ao perder de cena coisas que estão acontecendo. Cabe um pequeno comentário: o jogo está recebendo updates automáticos pelo Steam, que já melhoraram boa parte dos problemas das câmeras, e outras frescurinhas que são muito bem-vindas e fazem o jogo mais domesticado para jogar. Tomara continuem com essa boa vontade de melhorar as coisas!

Todo combate inclui como mínimo um grande cavaleiro, que pode fazer a diferença ao usar recursos especiais, como por exemplo chamar as brumas de Avalon (que escondem as tropas), ou o fôlego do dragão, que torna os ataques incendiários. É uma boa mistura e dá variedade aos combates.

Voltando à interface 2D, temos o mapa da Britania, que mostra os territórios aliados, neutros e inimigos; os objetivos, dispostos como um pergaminho com opções de escolha; a organização dos exércitos; a távola redonda (YESS!!!), onde gerenciamos os cavaleiros, os artefatos que carregam (que dão poderes especiais), os eventuais casamentos (onde uma dama fica sob os cuidados de um cavaleiro, o que pode dar vantagens estratégicas como por exemplo aliados), e os prisioneiros, que servem para cobrar imposto dos seus territórios.

O que ficou como impressão geral é que não descartaram absolutamente nenhuma ideia, todas foram colocadas no jogo. É como se os desenvolvedores jogaram vários jogos, e pegaram um monte de coisas de todos os RPGs e RTS que encontraram. O jogo é por turnos, as batalhas são em tempo real, tem mapa de alianças, armadura de todos os cavaleiros, planejamento de ataques, gerenciamento de recursos, orientação de caráter... É como se a Estrela decide juntar o Banco Imobiliário com o Jogo da Vida, o War e o super triunfo. Tentem imaginar o jogo de tabuleiro juntando esses quatro.

Agora, o que realmente é de responsa no jogo é o respeito à lenda arturiana. A Neocore fez o dever de casa, e pesquisou material à beça, e isso aparece nítido na maneira em que as missões batem certinho com muita coisa da lenda clássica do Arthur medieval. Coisas como o caráter dúbio do Rei Mark, e o jeito espirituoso do Gawain. Estou à espera do Tristão, e quem sabe nomes mais obscuros, como o Lamorak.

A imagem como disse é impressionante, colocar qualquer tela aqui é um despropósito. As cenas em movimento, a sensação de vento, a tensão dos arcos, o barulho ensurdecedor da carga dos cavalos, o cheiro do orvalho pisoteado pelos caval.. ok, exagerei. Mas serve como intro do que quero escrever no meu livro :-)

O som do jogo é perfeito. É um épico, ponto. Na medida que tinha que ser. Inspirador, variado o bastante para não aborrecer, e empolga sem se destacar mais do que o jogo em si.

Mais info sobre o jogo no site do desenvolvedor (link). Agora se me disculpam, o reino da Britania precisa da minha ajuda!!

Até a semana que vem!

Eu também quero!

Na semana passada a BBC2 de Wales passou um curto documentário "on-the-road" com os protagonistas do seriado "Merlin", o Colin Morgan e o Bradley James. A idéia por trás deste programa foi colocar os atores em um carro, e procurar por fatos sobre os verdadeiros Arthur e Merlin; em resumidas contas, eles viajaram por Wales encontrando pessoas que pudessem contar sobre os lugares onde supostamente Arthur e Merlim viveram de fato.

O passeio deles começa com os dois fazendo café da manhã. O Colin se mostra muito empolgado, e um verdadeiro conhecedor da lenda, rodeado de livros e mapas, enquanto o Bradley não parece saber nada sobre seu personagem, mas curioso para ver no que vai dar o passeio. É bem engraçado o momento em que começam a estudar o mapa, totalmente perdidos sobre a distância que vão fazer, e o caminho que tem que seguir.

- Deveríamos ir a cavalo, para ficar mais real...
- Hein?

O primeiro destino deles foi uma livraria que reúne a maior coleção de livros arturianos concentrados em apenas uma sala. Imaginem, mais de 20.000 livros em um único quarto, catalogados por nomes como Camelot, Excalibur, etc... Acho que poderia morar em um lugar assim, pesquisando entre livros, comparando o texto, buscando cada nuance das histórias. Somente me falta aprender galês, afinal boa parte dos textos são cópia dos manuscritos, nada traduzido para tempos mais modernos. Vantagem de quem já mora em Wales, né?

Os atores demoraram demais para chegar e nem conseguiram entrar na livraria, mas encontraram com o responsável por ela e trocaram uma idéia no hall de um famoso teatro. Foi através dele que conheceram os textos do Nennius, do Gildas, e outros textos antigos sobre o Arthur histórico, e quais os lugares prováveis onde teriam acontecido as histórias.

Assim, foram para Camlann, onde foi a última batalha de Arthur. É interessante notar que romanticamente sempre entendemos que Arthur e Mordred se mataram nessa batalha, mas o texto mais antigo a falar sobre este lugar diz somente que houve "a batalha de Camlann, onde Arthur e Mordred morreram". Quer dizer, quem sabe eles não lutaram do mesmo lado? Coisas como essa fazem a história cada vez mais fascinante.

Foram também para outra cidade de nome impronunciável, dessas que começam com WY e terminam com CYCH. Pela dica do livreiro, esse seria o lugar onde Arthur passou sua infância junto com o Kay, filho de Sir Ector. Cada lugar pelo que passam é uma paisagem deslumbrante, uma beleza natural única. É fácil imaginar cavaleiros, batalhas e castelos em cada morro, em cada encosta.

Finalmente eles foram bem ao sul da ilha, para conhecer as ruinas de um antigo anfiteatro romano, que com o tempo ficou conhecido como "a távola redonda". O fato é que nunca encontraram mesa nenhuma no lugar, mas a lenda fica :-)

Vai uma canja:





Foi bem legal de assistir, e me fez pensar muito sobre minha idéia do livro que quero escrever em algum momento. Como alguns já sabem, quero viajar para as terras do Arthur e conhecer lugares, alguns mais turísticos e outros nem tanto; quero ver Glastonbury, Stonehenge, Tintagel, e tantos outros lugares. Como falam os fãs de qualquer coisa, "quero respirar o mesmo ar que o Arthur respirou", hehe...

Agora é juntar a vontade com a oportunidade. Quem sabe nem falta tanto assim para fazer isso. Vocês gostariam de um livro com minha história por lá? Com meu jeito de escrever?

Até a semana que vem!

As loucas aventuras de Ivain

Terminei! Terminei de ler o livro do Ivain. Claro que não ia deixar vocês de fora nessa, né? Vamos lá:

Na última cena que comentei, Ivain curou-se da loucura por um unguento mágico da Morgana, e acompanhou a jovem que o fez sarar. Ele chegaram no castelo onde esta moça servia, e a senhora do castelo estava necessitada de ajuda, pra variar. Um conde ficava saqueando as terras dela, e por isso Ivain ficou por lá até sarar, e quando sarou pegou o conde de jeito, até ele se render, com a promessa de reconstruir tudo o que destruiu e plantar tudo o que arrasou. A dama desse castelo queria Ivain por marido, mas ele de novo caiu fora, dizendo que não podia mais ficar (sabe tipo trem das onze? então..).

Eis que vaza, e vai perambulando pensativo pela floresta, até que escuta um grito, um choro, um lamento. Foi assim que encontrou um leão brigando com uma serpente. Ele pensou, "Qual criatura eu devo ajudar?", e achou o leão mais nobre animal que a serpente, sempre tida por traiçoeira desde os tempos bíblicos. Ele ataca a serpente, mas ela cuspe fogo! Ele se defende, e mata a tal, mas a cabeça fica presa, mordendo o rabo do leão. Ele então corta com a espada o rabo, apenas o mínimo que pudesse para soltar a cabeça da serpente.

Ivain esperava que imediatamente o leão o atacasse, e preparou seu escudo. Mas o leão simplesmente olho para ele, ficou de frente, e sentou, como todos os gatos sentam: como a esfinge. Relaxado, calmo. O leão abaixou a cabeça, e mostrava gratidão pelo ocorrido; Ivain entendeu, e fez uns cafunés no gatão. A partir desse momento viraram companheiros inseparáveis, e onde Ivain ia o leão o seguia.

O leão caçava animais para Ivain, que cozinhava e deixava o resto para o seu novo bicho de estimação. Ficaram no bosque uma quinzena levando essa vida, até por acaso dar de frente com a fonte,a bacia, a pedra e a capela onde começou o conto. Desmaiou no instante, e ao cair a espada soltou da bainha e o cortou. O leão, ao ver o que aconteceu, tentou reanimá-lo, mas finalmente o carregou próximo de uma árvore, e o deixou sentado. Quando acordou, percebeu que o leão salvou sua vida, mas se lamentou por ter falhado na sua promessa de voltar em um ano. Enquanto choramingava, escutou uma moça chorando na capela; depois de conversarem um pouco, percebeu que era Lunete, quem o tinha ajudado em primeiro lugar.

Ela foi acusada de prejudicar sua senhora, e foi condenada a morrer queimada. Estava aguardando sua pena, que seria no dia seguinte. Ivain disse que a defenderia perante aqueles que lhe acusavam, mas perguntou porque nenhum cavaleiro se ofereceu antes; ela disse que procurou na corte pelo Gawain, mas ninguém o encontrava. Ele tinha partido para buscar Guinevere, que foi levada aparentemente por culpa do Kay. Olha só o crossover com a história da charrete!

Ivain prometeu que estaria no castelo para defendê-la, e partiu com seu leão. Achou perto um castelo, onde foi se refugiar pela noite; descobriu todo mundo triste, e soube que um gigante ameaçava o castelo, e tinha aprisionado os filhos do dono do castelo. O gigante queria a filha do castelão, não para ele, mas para vendê-la; em troca devolveria os filhos vivos. A filha do castelão era prima de Gawain, mas ninguém o encontrou na corte de Arthur para defendê-la.

Ivain disse que podia ficar e resolver a questão, mas precisava defender a Lunete e portanto não podia demorar. Eis que passou a noite, estava indo embora enquanto todo mundo pedia para ele ficar, mas deu de cara com o gigante enquanto saía. O nome do gigante era Harpin, e trouxe os filhos do castelão, todos maltratados e estropiados. Depois da típica briga verbal partiram para as vias de fato, e Ivain e Harpin se pegaram. O leão não se aguentou quieto, e foi ajudar, até derrotarem o gigante.

Ivain somente virou o cavalo, e disse para levarem a notícia até a corte do rei Arthur, dizendo que o cavaleiro do leão tinha feito isso. Assim nasce a lenda do cavaleiro do leão, já que não revelou para ninguém em momento algum que era Ivain.

Chegou ao galope para defender o nome de Lunete, ela já quase na fogueira. Minutos depois estava brigando com o senescal e seus dois lacaios que acusaram Lunete de traição; a briga foi muito desigual até o leão se meter no meio. O leão matou um dos lacaios, e ficaram dois contra dois. Finalmente venceram Ivain e seu leão, mas ficaram na enfermaria um tempo. A senhora do castelo pediu para ficarem (sem saber que era Ivain), mas ele disse que somente poderia ficar o dia que sua dama o perdoasse de coração, e partiu novamente, carregando seu leão ainda ferido, usando o escudo como maca. Chegou em uma casa onde foi bem recebido, e as duas filhas do homem, hábeis em medicina, cuidaram dele e do seu leão até sarar.

Nesse meio tempo, um tal e senhor do Espinho-Negro morreu, deixando duas filhas. A mais velha fez de conta que o pai tinha deixado tudo aos cuidados dela, enquanto a mais nova exigia sua metade na herança. A briga foi tal que a mais nova foi até Camelot para pedir por um cavaleiro para defender seu nome. Ela encontrou Gawain, que já tinha voltado assim como Guinevere do sequestro de Meleagrant, mas Gawain já tinha prometido à irmã mais velha que a defenderia. A mais nova pensou, "estou fod..", mas enquanto pensava chegaram noticias de um tal de cavaleiro do leão, que matara um gigante e defendera uma moça em Broceliande. A irmã mais nova pediu ao rei Arthur por justiça, e que desse tempo para ela procurar por um cavaleiro idôneo para enfrentar Gawain; assim o rei deu 14 dias para ela.

A jovem partiu e procurou por muitas terras pelo cavaleiro do leão, até ficar doente de tão desolada por não encontrá-lo. Se hospedou em uma casa onde outra jovem disse que a ajudaria, e a outra jovem partiu para buscar o tal do cavaleiro do leão, até encontrar a casa onde esteve sarando, e ouvir maravilhas dele. Partiu novamente no sentido que ele tinha partido, até felizmente encontrá-lo e contar a história das irmãs.

Ivain, seu leão e a jovem empreenderam o caminho para Camelot, até passar perto de um castelo, chamado de Castelo do Mal Descanso. Enquanto passavam, as pessoas do castelo o mandavam ir embora, falando "Eres mal-vindo! Eres mal-vindo"; ele claro que não se aguentou e foi ver qual era o lance.

Bom, o castelo estava cheio de moças, todas enfraquecidas de trabalhar constantemente sem descanso; elas contaram que nesse castelo tinha dois filhos do capeta (mesmo). O rei das donzelas passou pelo castelo, e foi derrotado, desde então, pagava enviando trinta jovens todos os anos para o castelo, até os filhos do maligno morrerem. Ivain então decidiu enfrentar os dois, e mais uma vez quando estava para ser derrotado o leão o ajudou e acabaram com os malignos.

A questão é que o castelo era antes disso de um homem já velho, que ainda estava no castelo, e depois de Ivain derrotar os capetas o homem insistiu em dar a sua filha para Ivain como mulher, para que o castelo seja dele. Ele não aceitou, e ordenou libertar todas as moças. Assim elas sairam, e ele junto com a jovem partiram para Camelot, chegando exatamente no dia que vencia o prazo da irmão mais nova.

Ivain e Gawain se enfrentam totalmente armados, sem se dirigir a palavra e sem um sacar que o outro era seu grande amigão da vida inteira. Combateram o dia inteiro, até ambos se declararem vencidos! Ao descobrirem que eram eles, ambos insistiram ainda mais em dar a vitória um ao outro. O rei Arthur então achou justo escolher ele mesmo, e viu mais justiça em prevalecer a herança entre as irmãs, defendendo o direito da irmã mais nova; e pedindo que haja amor entre elas como irmãs.

Ivain e Gawain foram curados, mas Ivain partiu prontamente, sem nada dizer. Foi até a fonte e a pedra, e decidiu fazer chover; tanto fez que a dona do castelo temeu, e percebeu que precisava de um defensor. A Lunete (que de burra não tem nada) disse para procurar o cavaleiro do leão, e que o ajudasse a obter o perdão da sua senhora...

Lunete busca Ivain e seu leão, e os leva até Claudine, sua senhora. Claudine diz que fará tudo para que um homem justo e valente como ele receba o perdão da sua senhora, e eis quando Lunete revela que esse poder já estava na sua mão; assim Ivain se revela a Claudine.

Ivain conta da sua loucura, e de como procurou seu perdão; assim Claudine, olhando novamente para o cavaleiro, decide perdoá-lo. E Ivain finamente encontra a paz, do lado de Claudine e do seu leão.

Fim! Ufa!

Só queria trazer para vocês um pensamento: Ivain é de fato o clássico cavaleiro errante. Reparem a quantidade de aventuras diferentes que passou, quase sem apear do cavalo. Ele ia onde a aventura o procura-se, sempre buscando prestar serviços como cavaleiro, enfrentando o que tivesse que enfrentar. Gostei também do cruzamento de histórias com o conto da charrete, achei bem sacado; afinal Gawain, sobrinho de Arthur, nunca teria razões para rejeitar um combate. Era um dos cavaleiros de maior renome!

E vocês, gostaram do conto?

Até a semana que vem!

E o Leão?

Finalmente separei um tempo para ler com mais dedicação o conto de Ivain, o cavaleiro do Leão. Para quem tem boa memória, era um dos candidatos a post na enquete que fiz há um ano e meio; acho que isso basta para dizer até que ponto o livro não se encaixou nos meus horários. Para falar a verdade, tenho lido muito pouco ultimamente. Preciso retomar esse costume. Parece que a lista de coisas que deixo de fazer só cresce. Tanto é assim, que tem caixas de DVDs (seriados e minisséries) que ainda estão com o plástico. Na prateleira, mas com o plástico.

O que posso contar hoje é que a história de Ivain (ou Yvain, ou Owein) é uma das mais chatas que já li. Sério. Muita enrolação, muito lero-lero e pouca trama. Diálogos intermináveis, que se estendem por páginas e terminam onde começaram. Não me animou até agora, mas vou terminar de ler. Acho que o mais frustrante é que o nome da história é o tal do "Cavaleiro do Leão", mas tive que ler 70% do conto para o tal do leão aparecer. Por assim dizer, ou a intro ficou muito longa, ou o nome do conto não bate... Que tal chamar de "Ivain, o cavaleiro que fez um bocado de coisa e viu um leão"?

Certo, certo... vamos deixar o Chrétien de Troyes descansar em paz, afinal ainda é um dos meus escritores favoritos. Este livro traz (de novo!!) uma história de amor cortés, só que bem superficial.

Tudo começa com uma reunião de cavaleiros na corte do Arthur, onde Sir Calogrenant (alguém conhece??) conta a pedido da rainha Guinevere sua desgraça em uma aventura ocorrida nas florestas de Broceliande: ele estava por aí cavaleirando a beça, até que encontrou um sujeito feio pra caramba cuidando de touros, enfrentando os bichos apenas com as mãos. Calogrenant se espantou desta visão, e foi perguntar para o cara se sabia de alguma aventura por aí que ele pudesse fazer. O feioso contou pra ele que na floresta tinha uma bacia de mármore com água. Do lado dela havia uma pedra enorme e brilhante, como de fosse uma esmeralda gigantesca esculpida como pilastra. o topo da pedra era enfeitado com outras pedras, e pendurada em cima delas havia uma jarra de ouro. Se ele recolhesse água da bacia com a jarra e a jogasse por cima das pedras, o tempo fechava (literalmente!) e chovia como se fosse o fim do mundo. Assim que a tormenta passava, toda a vida voltava à floresta, com pássaros cantando e tal.

Calogrenant se animou e foi ver a tal pedra, fez a caca de molhar a pedra, e choveu pacas. Assim que a chuva parou, escutou um cavaleiro vindo ao galope, totalmente armado. O cavaleiro gritou para ele: Quem sois para me desafiar! Eu sou o guardião da fonte!; e partiu pra cima do Calogrenant, o derrubou do cavalo, e levou seu cavalo embora.

O lado bom desse conto é que Calogrenant foi honesto, reconheceu que perdeu e tal... gente fina, gostei dele. Claro que todos os cavaleiros ouviram a "maravilha", e decidiram buscar a fonte. Só que Ivain não quis esperar e saiu de fininho para fazer tudo sozinho, e depois contar como foi.

Cabe dizer que o Kay está mais atacado do que nunca neste livro, asqueroso e de má índole como não lembro dele em nenhum outro livro. Estou avisando porque não sei se ele aparece em algum momento crítico da história, mas até agora somente encheu linguiça falando besteira.


Ivain combate com o defensor da fonte, miniatura de 1433.

Bom, Ivain foi até lá, fez tudo, e enfrentou o cavaleiro quase que de igual para igual. Os dois terminaram destroçados, só que o cavaleiro levou a pior, e percebeu que ia morrer pelo sangue que estava perdendo; assim subiu no cavalo e correu para seu castelo. Ivain foi atrás dele, tentando acabar de vez com o sujeito. Os dois entraram no castelo por um corredor muito estreito, uma armadilha típica de castelos. Assim que o cavaleiro passou, duas grades afiadas cairam no corredor, fechando o mesmo. A que fechou por trás caiu com tal força que cortou o cavalo do Ivain no meio, mas ele que estava inclinado sob o pescoço do cavalo acabou se salvando. O lance é que Ivain ficou preso entre as duas grades, e sabia que ia morrer quando o encontrassem. Uma dama do castelo o viu e o tirou de lá antes que o resto viesse, usando um anel que o deixou invisível, e o escondeu no castelo. O castelão morreu, e a mulher dele queria a cabeça de quem tivesse matado o marido.

A dama que ajudou Ivain a se safar é Lunete, uma das damas de companhia da mulher do castelão. Lunete ficou enchendo a cabeça da sua dama até convencê-la que precisava desposar novamente, ou o castelo cairia nas mãos de quem fosse atacá-lo. Feito isto, ela disse que em um confronto entre cavaleiros, quem ganha é superior, portanto quem derrotou seu marido bem podia ser melhor do que ele. Finalmente, disse quem foi quem matou seu marido, e que devia tomá-lo em casamento para ter como se defender. Inacreditavelmente, ela topa. E assim, Ivain desposa a Laudine, Dama de Landuc, filha de Landunet, ex mulher do defunto Esclados. Olha quanto nome bonito para filho!

Arthur e os cavaleiros partem (finalmente) para ver a tal da fonte de pedra, e molham a pedra, chove, etc.etc. Agora quem aparece para defender a fonte é Ivain, e Kay decide enfrentá-lo. Claro que cai do cavalo, mas Ivain leva o cavalo até Arthur e diz que nada podia tirar dele. Nesse momento tira o capacete e se revela como Ivain, ao que todos comemoram. Todos vão ao castelo de Ivain, e ficam lá uns 8 dias.

Gawain diz para Ivain que porque está casado não pode deixar de ser cavaleiro e virar um encostado, e pede para acompanhá-lo nas aventuras; ele pede permissão para a mulher, que o autoriza com apenas uma condição: que volte em um ano. Sendo assim, ela lhe dá um anel que o protege.

Passa o ano, e Ivain não volta. Um dia chega uma dama no castelo de Arthur, e pergunta por Ivain. Ao encontrá-lo, o chama de mentiroso e vil, destruidor de corações e etc., e arranca o anel da mão dele dizendo que não era mais merecedor de carregá-lo no dedo, e que a dona do anel o queria para si novamente.

Ivain fica envergonhado, mas banca pose na frente dos outros cavaleiros. Quando pode sai de fininho, vai para a floresta, fica louco e arranca as roupas, e vive como selvagem um tempão até que uma moça o encontra dormido e percebe pelas cicatrizes do rosto que era Ivain. Passa um hipoglós mágico da Morgana na testa dele enquanto dorme, o que tira a loucura, e antes dele acordar largou umas roupas para que ele coloque. Ele acorda, percebe que está nu, se veste, e a damisela que ainda estava por aí faz de conta que o acaba de encontrar, e pede para lhe acompanhar.

Até aqui passou mais da metade do livro. E pergunto eu, cadê o Leão??

Até a semana que vem!

It's coming...

O fim do ano se aproxima, e com isso as compras natalinas. As lojas e vitrines ficam cheias de coisinhas interessantes e bacanas, e no que me diz respeito, curto bastante as novidades de fim de ano. Especialmente ao falar dos novos lançamentos de games.

Para os que curtem coisas medievais, a Bioware está lançando um jogo monstruoso, gigantesco, mega-épico e no tom dos Baldur Gate. Este novo jogo é o Dragon Age: Origins, e promete ser sangrento, cru, violento, cruel como os próprios tempos medievais. Já estou na espera para ter minha cópia... Acho sensacionais os jogos da Bioware. Eles criam mundos muito ricos, tem muita coisa para explorar. É particularmente imersivo. Nada disso de joguinho para criança, é entretenimento de alto nível, como um bom filme ou um seriado bem feitos.

Mas tem outra novidade quente: lembram do post de jogos arturianos? Então, parece que finalmente vai lançar o King Arthur. A data prevista de lançamento para download é 24 de Novembro. As telas prometem! Vamos ver qual vai ser o preço final para download. Provavelmente compre o jogo pelo Steam, é uma plataforma excelente para compra online no PC.

Como se isso não bastasse, a famosíssima saga Dungeons & Dragons lançou um jogo GRATUITO. Faz muito tempo que não vejo isso. A idéia é que você baixa, joga, e se gostar paga por conteúdo adicional, mas não é obrigado a comprar nada para jogar com seus amigos online. Achei muito, muito legal essa idéia. A Microsoft deveria aprender um par de coisas com esses caras quando lançou a Live. E espero que a Blizzard volte às origens com o Diablo 3, permitindo que a gente brinque online no battle.net sem ter que pagar nada além do jogo. Tá aí o desabafo!

No momento estou jogando Torchlight, jogo feito pela turma que sobrou da Flagship Studios depois que faliram ao fazer o Hellgate: London. Contando um pouco de história, a Flagship era a turma da Blizzard North, que acabou brigando com a matriz e caindo fora. Nela estavam desenvolvedores do primeiro Diablo, e no fim a Blizzard acabou lançando o Diablo 2 sem eles.

Foi uma pena ver como um jogo tão promissor e bacana como o Hellgate (que fiz questão de comprar original e ter caixinha e mapa) acabou levando os caras à ruina. A idéia do online deles não deu certo, infelizmente. E os que compramos o jogo ficamos com um game bugado, onde alguns bichos ficam presos nas paredes e um par de missões podem travar o jogo inteiro se não são seguidas em determinada ordem.

Mas voltando ao Torchlight, é um joguinho que roda até em netbooks, e traz tudo o que o Diablo original tinha de bom: ação, ação, e mais ação. Uma maré de inimigos chovendo em volta, e em poucos segundos a gente fica clicando feito louco, jogando todo tipo de magias para ver se é possível sobreviver. O jogo é quase que uma homenagem ao Diablo (o jogo, tá?), ao ponto que escalaram o Matt Uelmen para fazer as músicas. Quem no lembra de cabeça as primeiras notas da música da cidade de Tristam? A herança do trabalho anterior dessa turma é inegável. Vale a pena, é pequeno de baixar e baratinho. Quem quiser testar antes de comprar, pode baixar a demo no mesmo site.

Bom, chega de falar, vou jogar um pouco! Até a semana que vem!

Medieval Madness

Tá, é um post preguiça. Mas com esse calor não consigo nem pensar direito, quanto menos blogar! Vamos falar de novo como o período medieval é influente, e como pode ser divertido. E do meu encontro inusitado com o Merlin.

Semana passada comentei que estava jogando pinball. Não que tenha ido até um fliperama, mas tive uma fase de jogar bastante nos flippers, entender o roteiro dos jogos e tal. Entre minhas grandes paixões está a mesa do Star Wars Trilogy, uma mesa interessante, cheia de rampas e seqüencias divertidas.

Joguei bastante nos emuladores de PC também, e a última vez foi com emuladores de mesas oficiais (ou seja, as que simulam mesas de pinball reais). Estes emuladores tem a tarefa de interpretar a física das mesas, como o ângulo de inclinação e força dos mecanismos, enquanto outros softwares rodam paralelamente a inteligência da mesa, como quais luzes acender, quais travas acionar, como contabilizar pontos e quais graças fazer no display digital. Isso é possível usando o Virtual Pinball para a parte física, e o vpinmame para a lógica eletrônica. Quem tiver interesse, pode procurar no google por esses termos e gastar um par de horas para configurar os softwares até rodar adequadamente. Quem já brincou com emulação não vai ter maiores dificuldades em configurar as mesas.

Recentemente a Williams (uma das maiores fabricantes de mesas) lançou o Williams Pinball Hall of Fame, um videogame que traz o clima das casas de fliperama. Nesse jogo entramos com um punhado de moedas na mão para escolher a mesa onde jogar, e tem todos os clássicos licenciados pela própria Williams. A emulação é muito precisa, com todos os efeitos de luzes, som e a física presentes nas mesas de verdade. Foi jogando neste jogo que me reencontrei com uma mesa fantástica, divertidíssima e viciante: Medieval Madness!



Esta mesa foi lançada em 1997 seguindo um layout semelhante ao da Attack from Mars, e por ser do mesmo criador também segue o mesmo tom hilário nos desenhos e comentários. É uma tiração de sarro constante, como o fato da donzela da torre ser gorda e reclamar que está com fome, a catapulta que joga até vacas e as piadas espalhadas nos desenhos que enfeitam a mesa.

Tem um monte de fotos bacanas da mesa no site pinball database, e mais detalhes na página oficial da Williams e no Wiki, claro. Hoje em dia, uma mesa dessas em bom estado pode passar dos 10.000 dólares! Quando foi lançada, custava por volta de 3.000 dólares. A mesa é tão popular que até hoje são vendidas peças fabricadas por terceiros para consertar o que estraga, como as cabeças dos trolls e algumas travas de rampa como a da casinha do Merlin.

Vou terminar o post com um vídeo que achei muito legal: o vídeo promocional da própria Williams. Nesse vídeo vemos alguns detalhes do jogo bem de perto, e explica até o roteiro do jogo.



Ficaram com vontade? Vão encontrar esta mesa e mais um monte no jogo da Williams, disponível para Wii, PS2, PS3, x360... e baratinho!

Para quem tiver a grana, o espaço e tempo necessários, podem encarar a idéia de comprar uma mesa de verdade, bem zuada, e consertar. Vejam só que legal o trabalho de um apaixonado para consertar uma MM durante dois anos neste blog. Achei o máximo! Quem estiver precisando peças, podem achar na Marco Specialities. Eita hobby caro...

Até a semana que vem!

Hallowhat?

Olá seguidores do Camelot! Como já sabem, neste final de semana ocorreu Halloween, o tal do dia das bruxas. O termo Halloween é na verdade uma inflexão da expressão All Hallows Eve, ou data de todos os santos (aqui conhecido como dia de finados). Coincidência ou não, por volta do 31 de Outubro os druidas celtas (ou celtas druidas?) celebravam seu Samhain, o final do verão, um dos mais importantes Sabbats (embora os sites cristãos aleguem que era uma festinha sem importância, claro). Era o fim do ano, o Reveillon deles por assim dizer. A festa oposta era o começo do verão, as festas de Beltane, exatos seis meses antes. Essas sim eram de arrebentar, ao menos é o que dona Marion Zimmer Bradley nos conta na sua saga de Avalon.

No calendário Wicca, Samhain representa Outubro, enquanto Beltane representa Maio. Não que isso tenha muito que ver com nada, mas já que estamos falando do lado pagão da coisa achei interessante mencionar. Por comentar outro fato curioso, Samhain em Galês da Irlanda é Novembro, enquanto Samhuin em Galês da Escocia é All Hallows (todos os santos).

A celebração de finados (ou todos os santos) é mérito da Igreja Catôlica: Por decisão do Papa Gregorio III a data passou do 13 de Maio para o 1 de Novembro, e posteriormente o Papa Gregorio IV declarou a data universal, ou seja celebrada no mundo todo. Daí a ter crianças mendigando doces ou aprontando, tricotar uma abóbora ou povo fantasiado de monstro há um longo caminho...

Aqui no Brasil não há comemoração de Halloween, salvo no restaurante T.G.I. Friday's e nas escolas de Inglês.

O que isso tem a ver com Camelot? Ou com Arthur? O mesmo com o periodo medieval? Nada, mas como a data é feriado e a cidade está deserta não espero que muita gente se preocupe em ler um post mais caprichoso, por assim dizer. O que posso contar sobre Arthur nesta semana é que encontrei o Merlin onde menos esperava: Na mesa de pinball Medieval Madness da Williams.

Bom final de semana, e bom feriado!
And remember your dead beloved ones!

O Cavaleiro Errante

Sobre o post da semana passada, o Arthur tinha razão; o quadro está em exibição na galeria Tate, o museu de arte contemporânea e britânica em Londres. A pelada anônima está aí apenas para representar o tipo de aventura que um cavaleiro errante encontrava; as pinturas do John Everett Millais sempre apresentam mulheres, e procuram um tom realista nas cores e formas, figura comum nos quadros de 1800.

O cavaleiro errante do quadro é anônimo. Poderia ser qualquer um, já que na definição, o cavaleiro errante viaja procurando aventuras, desafios, encrencas onde se enfiar para provar sua valentia e mostrar para sim mesmo que é um bom cavaleiro, fiel aos princípios da cavalaria. Isso inclui enfrentar monstros, salvar damiselas, ajudar quem precisa, mas sempre apontando para o lado justo da coisa. Nos tempos idílicos da cavalaria, a coisa era bem preto no branco, o bem e o mal não se misturavam. Claro, só nos livros. Faz bem ter ideais, né?

Errar é humano, é o que diz o refrão. Mas errar, na essência, não é equivocar-se. O termo errar do cavaleiro é vagar sem rumo, sem um destino. Claro, isso pode levar a caminhos errados, mas esse é outro assunto.

O exemplo clássico e ERRADO de cavaleiro errante é o Lancelot. Ele não é precisamente um cavaleiro errante, já que tem seu lugar fixo e garantido na corte do Rei Arthur; ele parte para as aventuras geralmente por causas que geralmente envolvem a própria corte, como quando Meleagrant levou Guinevere. Ele passa por aventuras, mas tem um propósito maior.

Um exemplo de cavaleiro errante CORRETO (no meu ponto de vista, claro) é o Perceval, que viu um cavaleiro quando criança e decide que quer ser como eles, e sai por aí "cavaleirando" a beça. Um exemplo mais aceito academicamente falando é o do Ivain, o cavaleiro do Leão. O conto do Ivain começa com ele já na floresta, perguntando o que tem pra fazer de bom por essas terras. Esse sim é um caso típico de cavaleiro desempregado, buscando o que fazer para provar para sim mesmo que é bom cavaleiro. A imagem ao lado pertence ao conto de Yvain do Chrétien de Troyes, e mostra nosso herói e seu leão amiguinho acabando com a raça do gigante Harpin. Cliquem no quadro ao lado para ver maior, é bem legal!

Gostaram da brincadeira da semana passada? Obrigado por participarem!

Até a semana que vem!

Apelando

Considerando o volume de visitas do último pseudo-post, decidi apelar. Digamos que a tal de inspiração não veio me visitar neste final de semana, e por isso vou ver se pelo menos consigo inspirar outros.

Como de costume, no blog coloco fotos de quadros e imagens antigas. Tem uma imagem que encontrei por acaso, e tem tudo a ver com o post que pretendia escrever, ou quase.

Vai a proposta: adivinhar o nome do quadro que ilustra o post e seu autor. Caso ninguém adivinhe logo de cara, vou largar uma pista no meio da semana, e conforme ninguém adivinhar vou publicando outras. Vamos a ver se assim consigo agitar os comentários!

Quem quiser ou preferir, largue seus comentários e idéias no facebook do blog (link), por onde aviso aos fans sobre novos posts.

Então, segue a imagem totalmente apelativa:


Wow... uma mulher peladona e amarrada numa árvore no meio da estrada... que houve com ela? Quem é ele? Quem sabe ou arrisca?

Participem!!!

Semana que vem: a resposta e post novo!

Err...


Vou perguntar assim, com a mesma cara de confuso do cavaleiro... Posso postar depois do feriado?

O túmulo de Arthur

Hoje vou contar uma lenda dentro da lenda. Quero compartilhar com vocês a história da cruz do Rei Arthur, e do seu túmulo em Glastonbury.

Segundo os textos de Gerald de Wales, o Rei Henry II enviou uma mensagem para os monges de Glastonbury pouco antes da sua morte em 1189, especificando o local do túmulo do Rei Arthur. Ele teria obtido esta informação de um bardo galés.

Os monges escavaram no cemitério da abadia (supostamente baseados nesta informação do Henry II), e encontraram um tronco de árvore esvaziado que abrigava dois corpos. Tiveram que cavar uns 5 metros até achar os corpos, mas o que chamou a atenção foi uma placa de pedra tombada, encontrada por volta dos 2 metros de profundidade. Esta placa aparentava ter ficado em pé, e caído para sua frente. Ao virar a placa, viram pregada nela uma cruz de chumbo, com a inscrição:

HIC JACET SEPULTUS INCLYTUS REX ARTHURUS IN INSULA AVALONIA

É. Aqui jaz sepultado o ilustre (famoso, renomado) Rei Arthur na Ilha de Avalon. Quem estava com ele no túmulo? Guinevere.

Houve várias outras versões da história após ésta, com maior ou menor grau de detalhes. Há pelo menos 5 versões diferentes do texto da cruz, só para dar uma idéia. Esta inconsistência nos leva a pensar em uma coisa só: foi blefe. Mas, quem faria isso? E por quê?

Segundo os historiadores, tudo pode ter começado nas mãos dos monges de Glastonbury. Razões não faltavam:

- A igreja da abadia, provavelmente a maior e mais gloriosa que já houve na Inglaterra, foi destruída em um incêndio em 1184, menos de 5 anos antes da descoberta.

- A grande atração dos peregrinos, a antiga igreja (datada de séculos antes da abadia), também sucumbiu no incêndio.

- O maior benfeitor da igreja era Henry II (agora falecido), e o novo rei, Richard, estava muito mais interessado em gastar seu ouro nas cruzadas do que na abadia.

Como já contei em outras ocasiões, a lenda diz que Arthur não morreu. Para nós é fácil desconsiderar essa história, mas a sociedade do século 12 era muito crédula, e apegada a cultura popular, lendas e crendices. O mais surpreendente é que ninguém, em momento algum, tenha proclamado ter achado o túmulo, mesmo em uma lenda que já datava de 7 séculos (se consideramos o Arthur histórico, textos de Gildas e etc.).

Sabendo desta necessidade imediata de dinheiro, a morte do benfeitor e a índole duvidosa dos monges para fazer o que eles achavam uma boa causa, não requer muito esforço para sacar que de fato tudo pode ser armação. Mas, se essa fosse a situação, os monges teriam pronta uma campanha de propaganda para aumentar o fluxo de visitas; mas o que vemos na história é uma sucessão de revisões, e até de mudanças no texto da cruz. Na última delas, até diz que está enterrado com sua segunda esposa Guinevere. Os monges teriam feito que todos contassem a mesma história, não é?

O fato é que não ocorreu a tal publicidade extra, nem tampouco há registro de mais visitas na abadia, ou da mesma ser mais importante depois da descoberta. Glastonbury simplesmente continuou sendo o que era, uma abadia.

Os corpos foram colocados em outro túmulo, dentro da nova Igreja da Nossa Senhora, terminada 1186. Depois da descoberta em 1190, nada se falou da descoberta ou dos corpos até 1278, quando Edward I quis dar um espaço mais apropriado, fazendo um altar e caixão de mármore, sob o grande altar, com a cruz exposta para que todos pudessem vê-la.

Nada se soube dos corpos, mas provavelmente não sobraram da destruição ocasionada na dissolução da abadia nas mãos de Henry VIII em 1539. Misteriosamente, a cruz conseguiu sobreviver, e chegou a aparecer descrita e ilustrada na livro de história britânica por William Camden em 1607. A última informação sobre a cruz é de começos do século 18, nas mãos de William Hughes, oficial da catedral de Gales.

De lá pra cá, ocorreram numerosos casos de pessoas falando que acharam a cruz, mas todos se provaram farsas. Um dos mais recentes é de 1981, durante a dragagem de um lago em Middlesex, perpetrada por um ex-membro da sociedade de cultura britânica.

A cruz original era verdadeira? Provavelmente nunca saberemos. Mas que deu que falar, ah se deu...

Nota: Este texto foi baseado na informação publicada pelo British History Club.

Até a semana que vem!

Sessão Especial - Tristão + Isolda (2006)

Ha! Acharam que tinha esquecido? Tem mais um monte de filmes arturianos para comentar, só que quis fazer uma pausa nos posts para não ficar muito monótono. Afinal, meu blog não é sobre cinema, né?

Li o livro (como disse no post anterior), e dei de cara com uma história de paixão sufocante com final triste. Um livro curto, direto, sem enrolação, com mocinhos e vilões bem definidos. Um conto interessantíssimo, e na minha opinião de leitura obrigatória. Podem encontrar este livro em diversos formatos no arquive.org, através deste link.

Assisti o filme ontem, com o intuito de poder comparar com a história que tinha acabado de ler. Tenho que admitir: o livro é bem mais interessante, e não tinha percebido isso quando vi o filme primeiro. Não tinha me mancado de certos detalhes; algumas diferenças saltam à vista, enquanto outras, mais sutis, afetam menos à interpretação do conto. Vou contar várias coisas da trama, mas não conto o final. Já avisados do spoiler, vamos aos fatos:

A grande sacada do livro é conhecer um Tristão destemido e esperto. Sabia manipular as regras e as pessoas; era ardiloso, sem perder a bondade com isso. No filme, não mostra a mesma habilidade pessoal para lidar com as pessoas, mas ainda é um bom lutador.

No livro Tristão mata um dragão na Irlanda, e como prêmio recebe Isolda; ele não a quer para si, tanto é que Isolda o odeia por afastá-la da sua terra. Ele a leva para o Rei Mark, que ao casar com ela selaria um acordo com a Irlanda, e poderia garantir a paz entre os reinos. A criada Bragnae preparou um elixir de amor, que Isolda beberia junto com o rei Mark para que ambos se apaixonassem perdidamente; assim ela não sofreria, mas seria feliz na terra distante. Por um engano, Tristão e Isolda beberam o elixir durante a viagem de navio, e caíram de amores antes de que Isolda fosse desposada por Mark.

Enquanto isso, no filme vemos que Tristão conquista a mão de Isolda em um torneio, mas o trelelê deles vem de muito antes. No filme, eles se conhecem e ficam íntimos quando ela cuida do ferimento envenenado dele pela espada de Morholt, o guerreiro capanga do rei da Irlanda. Neste amor não há pócima misteriosa nem elixir, apenas encanto de juventude.

Afinal, James Franco e Sophia Myles fazem um baita casal. Acompanhando estas palavras, os wallpapers do filme, para alegrar os hormônios.

Essa é a principal diferença entre o livro e o filme, na minha opinião: a falta do elixir, que é o ponto de pivô principal do livro. Mas, o que seria dos contos medievais se não tivessem tantas versões diferentes, não é?

Fora isso, temos outras diferenças vem fortes entre as versões. O Rei Mark conhece Tristam quase que ao acaso no livro, mas no filme eles já vivem juntos como família desde o começo, e é criado como filho. Falando no Mark, ele fica maneta nos primeiros 10 minutos de filme, enquanto no livro isso não ocorre em momento nenhum. Aliás, a gente nem fica sabendo que fim leva o Mark. Uma coisa que respeitaram no filme: o coração do Mark. É um bom homem, em todos os sentidos. Nem Isolda, que é obrigada a querê-lo, consegue odiá-lo.

O amor de T+I leva os países à guerra no filme, enquanto no livro é apenas argumento de intriga para deleite de quatro cavaleiros que querem ver o Tristão se ferrar, apenas por ser o queridinho do Mark. É claro, estes quatro cavaleiros se ferram no fim.

Os finais dos contos são muito diferentes. Os dois tristes, mas o do livro me abalou. Me deixou pensando na vida por um tempo, pensando em como as coisas acontecem. Fiquei com pena do Tristão, das Isoldas da vida dele, dos seus amigos, do Mark, da Bragnae. No fim, o livro que era pra ser direto, bruto, acabou virando uma baita história, uma lição de vida.

Não percam.

Até a semana que vem!

Tristão e Isolda - estudando...

Tenho em mãos o livro "Tristão e Isolda" de Joseph Bédier. O particular deste livro é o trabalho literário do autor para elaborar o conto; sim, a palavra correta é elaborar.

Da literatura antiga sobraram apenas frangalhos, e entre esses resquícios descansa um dos contos mais conhecidos: o de Tristão e Isolda. Ele foi um best seller do passado. Entre retalhos de um texto e outro, o conto sobreviveu em duas vertentes diferentes, uma de Thomas (que não é Malory) e outra de Béroul; existem também partes do conto de autores anônimos, mas que pelas frases podemos identificar como parte da mesma história, incluindo textos que se repetem na tradução.

Com esse conteúdo assim espalhado, quem quer contar (ou recontar) a história de Tristão e Isolda tem duas opções: pegar o texto de Thomas e anônimos, ou ficar somente com o que sobrou do Béroul. A vantagem do Thomas é que o texto está praticamente completo, porém são traduções de outros idiomas e com isso perderam a poesia. Já no Béroul, o texto está incompleto, mas por ser no original se tem a beleza dos refrões e a musicalidade da poesia original. Eis que Joseph Bédier, como poeta que era, escolheu o segundo caminho, mais difícil porém com recompensa maior. Quem já leu as crônicas de Arthur por Bernard Cornwell sabe do que estou falando, de como uns poucos retalhos de história podem render um ótimo texto.

A leitura deve ser rápida, mas quero ler ANTES de rever o filme homônimo para comentar apropriadamente, coisa que não consegui fazer no primeiro post do filme. Portanto, me aguardem...

O que posso contar até agora do livro: É surpreendentemente direto. Cru, eu diria. Entre um conto e outro, encontramos apenas um parágrafo descrevendo o nexo entre uma história e outra, e após essa curta introdução apresenta a história do conto. Passa muito a impressão de texto feito para entreter, para ser contado na roda de amigos, e onde todos dariam palpites; quase como são as novelas hoje em dia, onde todo mundo, quem vê e quem não vê, conhece os personagens e passa sua opinião.

Tristam and Isolde, Pintura de Edmund Blair Leighton (1853-1922). Saca só a cara de chavequero do Tristão, a cabecinha cheia de idéias da Isolda, e o coitado do Rei Mark se mancando da situação. Não tinha como terminar bem...

Outro aspecto que revela a crudeza do texto é a falta de romantismo, pelo menos do romantismo entre dama e cavaleiro. Esse elemento foi introduzido na história nas versões anteriores; não estou dizendo que Tristão e Isolda a Bela não se amem, mas no texto o Tristão não aparece recitando hinos de amor para Isolda, nem Isolda declama odes ao vento pelo amor de Tristão. Na verdade, eles passam mais tempo xingando o fato de ter bebido o elixir no barco (que os deixou apaixonados), do que celebrando o amor deles. Se amam, mas sofrem.

Estou gostando do livro. Tem um reflexo imortal de humanidade, a essência de sentimentos tão humanos que existiram desde sempre. É isso que faz desses contos simplesmente eternos.

Até a semana que vem!

Play Time

Como disse logo no meu primeiro post no blog, o rei Arthur é pop. Ele está presente na vida de todos, em maior ou menor medida; além dos livros e filmes e teatro, encontramos ele nos lugares mais inusitados (senão, vejam só o post da semana passada).

Mas para os que já foram crianças, estão na casa dos 30 e tantos e viveram sua infância no Brasil, a história foi ainda mais viva. Essas crianças compartilharam suas brincadeiras com Arthur, Perceval, Merlin... Quem de vocês lembra disso?

Ar-tur

A primeira vez que ouvi falar deste simpático robozinho foi da Marion, ao ver fotos dele neste blog. Achei fotos muito bacanas dele em outro site; alguém ainda tem um desses? Achei o máximo as instruções, como não usar na água. Coitado.
Pelo que vi, o mecanismo era bastante simples; ele conseguia andar reto para frente, e girava somente para um lado ao fazê-lo andar para trás. Fazia uns beeps, e tinha a mão no formato para segurar alguns objetos, como papel enrolado ou outras coisas leves e maleáveis.

Claro que o bichinho é bem datado, e reflete muito bem o que no imaginário popular enxergávamos como robô. Olhos grandes que acendem, anteninhas, corpo tubular, nada de joelhos ou cotovelos, e o computador da frente com botões coloridos e unidade de fita aberta.

Acho que o que mais me surpreendeu do brinquedo era seu tamanho. Era enorme! Imagino o embrulho de uma caixa de natal com ele dentro. Devia deixar histérico qualquer um... Que ansiedade para saber o que era o pacotão!

Percival - O Gênio

Deste nem a Marion nem a Sugar lembram, mas alguém talvez lembre... O Percival era a versão evoluída do Ar Tur, com um visual mais moderno, e mais inteligente (em termos, claro). Ele podia responder perguntas simples (sim e não), e ainda tinha um jogo Genius na cabeça dele. Também podia carregar coisinhas, e devia com certeza ser um dos brinquedos mais caros da época, o sonho de consumo de muitas crianças.

O computador de etiqueta na frente dele também era mais moderno, com um bocado de luzinhas coloridas indescifráveis. A cabeça dele já tem um formato mais abstrato, que não lembra um rosto, pelo menos não tão óbvio como no Ar Tur.

O botão central me lembra muito o timer do tanquinho de lavar roupa que minha mãe usava quando eu era criança.

Sinceramente não lembro ter visto nenhum destes brinquedos em terras argentas. Lembro de outros robôs, bem menores, para brincar na mesa, que andavam, atiravam foguetinhos e abriam portinhas secretas no peito para mostrar o interior, como se fosse uma janela. Mas desses, nenhum tinha identidade ou nome, era apenas o "robô com luzinhas que atira coisas". Nisso, o Ar-Tur e o Percival ganham deles de longe!

Merlin

O Merlin não entra na categoria de robôs, porém foi um brinquedo da mesma época. A Marion chegou a brincar com um de uma prima dela, e lembra que era muito bacana. Para quem quiser matar a saudade, tem um Merlin virtual para rodar no micro aqui. Ou ainda, jogar pela internet neste daqui.

O formato dele lembra um telefone, e tinha 6 jogos simples. Gosto de pensar nele como precursor dos tabuleiros de Tetris que todo mundo viu nos camelôs na rua, aqueles de 1000 jogos em 1. A diferença do Ar Tur e o Percival, este é sim um brinquedo importado. Merlin, The Electronic Wizard, ganhou o prêmio de 1980 de melhor brinquedo da associação de fabricantes de brinquedos dos Estados Unidos, vendendo mais de 2 milhões de consoles.

Assim como os anteriores, era movido com um bocado de pilhas, era barulhento, piscava e fazia a invejinha de quem não tinha...

Tem mais?

Curiosamente, nenhum destes brinquedos fez a menor referência à origem dos nomes; de onde saiu a idêia de chamá-los Arthur, Percival ou Merlin? Teve outros brinquedos que seguiram esse embalo? Por quê justamente brinquedos eletrônicos ganhariam estes nomes?

Minha teoria: alguém foi o primeiro por gostar mesmo, e o resto copiou. Vejamos o Ar-tur, que suponho seja o mais antigo. Nos idos anos de 1977, o cinema conheceu Star Wars, e com isso dois robôs extremamente carismáticos: C3PO e A2R2. Nos países de fala hispana, o segundo ficou conhecido como AR-TU-RI-TU, por causa da pronûncia (errada) do inglês. Daí para virar Arturito (Arturzinho) foi moleza.

Sabendo este detalhe, será que o Ar-Tur tem relação com A2R2, do Star Wars? E será que o Perceval e o Merlin entenderam errado, e o Ar-Tur não tinha nada a ver com o Rei Arthur?

Hein?

Quem quiser conhecer outros robozinhos de brinquedo, encontrei este site com um monte de primos do Ar Tur, se divirtam!

Até a semana que vem!


Scali.. what?

Para os que acreditavam que seria difícil superar o post da semana anterior, tenho uma revelação. Nunca, nunca acreditem que chegaram no ápice de um determinado assunto. Sempre tem um que vai superá-lo.

Eis que depois de virar a sexta-feira no trampo, trabalhar o sábado e o domingo inteiro, chego em casa e relaxo no sofá. Marion vem com uma revista na mão, e diz que tinha algo na revista para me mostrar, e buscou a página. Quando vi o conteúdo dessa página amarela gritando nos meus olhos, eu soube imediatamente que a terra tremeu em Avalon, e o Rei Arthur acordou da morte para se vingar. Saca só o sacrilégio:


Alguém consegue chutar a relação entre a imagem e o nosso mais amado personagem dos tempos antigos? A roupinha de rei e o mosquito derrotado na ponta da espada, tudo bem, mas foi no nome do produto que se revelou a verdadeira origem do mal.

Scalibor. O fim dos carrapatos.

Salve-se quem puder. Arrependei-vos, infiéis!!! O fim está próximo!!!

OK, passou. Semana que vem tem mais! Até! Bom Feriado!

It's Alive!!!

Antes que fiquem tristes (ou contentes, depende), os posts sobre filmes NÃO acabaram. Mas devem entrar em pausa um pouco, até ter tempo de novo de rever os filmes, livros e material para escrever os posts do jeito que gosto. Não quero escrever por escrever, se é que me entendem. Sou exigente comigo mesmo, e o resultado transparece em muitos e muitos posts que apareceram por aqui ao longo desse tempo, e a prova são as mais de 15000 visitas até hoje.

Antes de contar o que tenho pra dizer hoje, quero agradecer à Mara Sop por ter achado esta preciosidade. Sem a colaboração dela provavelmente este achado nem teria passado pelo blog... Obrigado!!!

Ele Está Entre Nós




O senhor acima não é o Inri Cristo, mesmo com as semelhanças visuais e teológicas. Este homem, nascido em 1954 e batizado como John Rotwell, é o Rei Artur reincarnado. Pelo menos, é o que ele conta pra gente. Deixa explicar direito, ou quase:

Eis que ele estava nos idos 1976 fazendo vai saber o quê em Stonehenge, e segundo ele recebeu uma revelação divina, contando que na verdade sua alma era a do rei Artur, e essa revelação só podia acontecer em Salibury, no círculo de pedras. Gostaria de lembrar a vocês que isto NÃO é ficção... ao menos para ele.

Eu imagino o afastado, o ermo que era o local onde estavam as pedras em 1976. A falta de qualquer coisa perto. A magia de um lugar tão antigo. A quantidade de hippies que não deviam se juntar para "viajar" juntos, nesse umbigo do passado. Imaginem o tiozinho acima de faixa elástica arco-íris na cabeça, regata colorida com os pêlos do peito querendo fugir dessa roupa por todas as bordas. O cabelo e a barba encardidos, a fragrância de mais um monte de gente sem banho. As baforadas verdes no ar, combinando com a grama do curto verão inglês. E surge o diálogo.

- John, saca só...
- ...
- John...
- Soooôôô...
- Chapa, tá tudo bem?
- Bixo... eu vi o ceú agora... é lindo meu...
- Mas tá de noite...
- É... cara...
- Que foi...
- E sou o Rei Arthur cara!
- Tá, beleza.

Assim, surge uma personalidade da mídia britânica, o Arthur Uther Pendragon. Autodeclarado druida e fundador da Loyal Arthurian Warband, vive de favores, viajando de um lado a outro e angariando seguidores. Este sujeito foi até candidato a algum cargo no governo, onde conseguiu menos de 600 votos. Para meu espanto, de fato ganhou alguns votos. Como comparativo, aqui no Brasil o Enéias levou 1 milhão e meio de votos, e não tenho certeza qual dos dois é mais idôneo para o cargo.

O que mantém nosso mais novo herói británico ocupado estes dias é uma disputa judicial, que na verdade já perdeu e se recusa a atender. Há mais de um ano ele se plantou no terreno ao lado do local de Stonehenge (onde os turistas podem estacionar e acampar), e mantém um protesto pedindo a queda das grades que protegem o local, para que os turistas possam se aproximar do local e tocar nas pedras. Segundo ele, é um local público e isso não pode ser negado aos visitantes.

Para ser o loquinho que é, até que concordo com a idéia dele em termos. O problema é como proteger um patrimônio desses, porém, também tem que pensar na segurança das pessoas. Sempre vai ter o idiota que vai querer subir nas pedras, o idiota que quer gravar um coração com as iniciais do seu amor, e o que é apenas um vândalo. Eu acho que as grades protegem esse patrimônio de nós mesmos, e para que algum dia todos possamos visitar o local e nos maravilhar com a grandiosidade de uma obra tão antiga. E quem sabe, receber a mensagem de que somos Perceval, Gawain ou outro grande cavaleiro e nos juntemos a John e sua cruzada maluca.

Até a semana que vem! Espero!

Sessão Especial - Knights of the Round Table

Damas e Cavaleiros, o blog orgulha-se em apresentar hoje um verdadeiro clássico de Hollywood: Knights of the Round Table, fita de 1953 estrelada por Robert Taylor no papel de Lancelot, e a espetacular Ava Gardner no papel merecidíssimo de Guinevere. Caramba, que mulher.


Esta fita TAMBÉM deu trabalho para encontrar, mas quem tem internet, bom... O resto vocês conhecem. A fita, inspirada no conto de Malory, me deixou com um misto de alegrias e confusões. Já explico melhor. Acontece que a história que o filme conta é realmente esquisita. Temos todos os nomes e lugares conhecidos, porém os papéis e ordem das coisas está beeem alterado. Vamos aos fatos:

Encontramos logo no começo um Arthur já adulto e meio-rei, que é defendido por Merlin como o único digno de ser seguido como High-King. Para isso, ele puxa a espada da pedra na frente de outros reis, e no meio deles estava Morgana e... Mordred, já adulto, e de caso com Morgana, loira e da mesma idade que o Arthur e Mordred. (Hein #1). Como ninguém se conformou, Arthur coloca a espada na pedra novamente, e Mordred tenta puxá-la (Hein #2). Como não consegue, diz que isso não quer dizer nada, e a decisão devia ser aceita pelo Concilio do Círculo de Pedras, que obviamente é Stonehenge (Hein #3).

Logo a seguir, vemos uma cena onde tem uns cavaleiros bem arrumados, cavalgando alegremente e cantando, mas em volta deles está tudo queimado e destruido, mas não estão nem aí (Hein #4). Entre eles está Lancelot, que encontra Elaine e decide dar carona para ela, mas tem que se desviar deste propósito para lutar com os soldados de Mordred, que queriam matar Arthur e estavam preparando a armadilha. No meio desta confusão, Surge Arthur, que luta junto de Lance, e depois contra o Lance, e ficam amigos forever (HEINS???).

OK, Arthur some, Lance acha no seu caminho um cara que tinha como refém a Guinevere e mais outra mocinha anônima. Lancelot ganha um lencinho da Guinevere como prenda, derrota o cara, e resgata as mocinhas, mas pede para outro cavaleiro acompanhá-las até seu lar porque ele tinha coisa melhor pra fazer. Isto lembra alguns detalhes do conto do cavaleiro da charrete, onde Lancelot de fato salva Guinevere, mas até aí as comparações.

O fato é que Lancelot volta para combater o exército de Mordred ao lado de Arthur, e isto nos rende uma cena fantástica, típica da era de ouro do cinema de Hollywood. A carga da cavalaria, acelerando aos poucos é de tirar o fôlego.

Bom, Arthur ganha, e é nomeado rei, mas por perdoar Mordred e chamá-lo para ser cavaleiro dele acaba perdendo a amizade do Lancelot. Ele somente volta durante o casamento de Arthur com Guinevere, onde Arthur fica sabendo que ela foi salva pelo Lancelot, e o nomeia campeão da rainha. Aí começa o joguinho de olhares e tralalá dos dois, coisa que Morgana percebe.

Merlin também percebe, e diz para ela esquecer, afinal Lancelot casaria com Elaine. Tanto é assim, que ele casou e foi embora para combater no norte; nesse meio tempo, Merlin morre envenenado por Morgana, e o bebê Galahad é enviado por Lancelot para Camelot para ficar aos cuidados de Arthur e Guinevere. Agora todos juntos em coro: "HEIN????"

Lancelot volta triunfante e viúvo para Camelot, declaram feriadão, e se encanta com Vivian, jovem e bela. Rola um ciuminho básico da Guinevere, quem vai buscá-lo à noite para tirar satisfação; Mordred manda seus homens para pegá-los no flagra, e após a clássica luta Lance e Gui fogem.

Na manhã seguinte, eles são condenados a morte por incitação do Mordred, mas Lancelot aparece e se entrega, falando que ele apenas fez o que se espera do campeão da rainha, que é defendê-la, e por isso se entregava desde que ela seja poupada. Arthur não acha a menor graça em condenar a morte seu melhor amigo e sua mulher (mais ainda sendo a Ava Gardner), e decide mandar Lancelot ao exilio, e a Guinevere para o convento em Amesbury.

Com isso Morgana e Mordred conseguem levar a cabo seu plano maléfico (sempre quis usar essa palavra...), e separam Lancelot de Arthur; logo depois Arthur e Mordred viram exércitos separados, e antes de lutar chegam a fazer as pazes, porque Arthur não quer lutar contra seus próprios compatriotas. Mas uma cobra (literalmente) se aproxima de um cavalo, e quando um cavaleiro puxou a espada para matar a cobra, os outros entenderam traição, e partiram para o ataque. Não, não tem hein nesta parte, foi assim mesmo no livro.

Lancelot escuta de Arthur as palavras de perdão, e um pedido: que leve este perdão para Guinevere. Ele o faz, indo ao convento onde conta para Guinevere (já freira) que Arthur morreu, mas antes de morrer a tinha perdoado. Ela se reclui, e Lancelot sai.

Mas agora tem um HEIN daqueles: Arthur MORRE neste combate, Lancelot pega Excalibur e a lança no mar, mas parte para um castelinho mediocre onde Mordred e Morgana se escondem. Mordred e Lancelot lutam até a morte, onde Mordred morre esfaqueado, o Lancelot quase bate as botas na areia movediza, mas é salvo por Beric, seu cavalo superobediente numa interpretação de dar inveja à Lassie. Sim, Hollywood sempre gostou de animais atores.

Após isto, Lancelot chega cansado da vida em Camelot, encontra com Galahad, e juntos tem a visão do Graal na távola redonda, porém esta visão é apenas concedida ao Galahad, quem não tem pecado. Lancelot tem que se conformar com um relance, um instante da visão, e o conforto do filho ao lado dele. E sobem as letrinhas do fim.

Deixando a salada de lado, gostei muito do filme, achei fantásticas as cenas de luta e os figurinos perfeitos, a ambientação caprichada também é um plus a mais, e somente ficou devendo a atuação, que em alguns momentos é lastimável, sem a menor emoção. Mas vale a pena, tem muitos mais prós do que contras! Recomendo!

E agora?

Eu sei que venho falando muito de filmes ultimamente, mas não é minha culpa se os filmes não páram de cair no meu colo. Cada vez que falo de um, parece que aparecem mais dois ou três... Ainda quero falar do Tristão e Isolda, já que na época falei superficialmente. E quero falar também de um filme bem estranho, chamado "Perceval Le Gallois", que relata o conto do Perceval no formato do Chrétien: em poesia, com os dialogos originais. Nem que fizeram com o Hamlet.

Depois disso, quem sabe eu volto a blogar sobre livros, contos e outras coisinhas... material não falta, né?

Até a semana que vem!



Sessão Especial - Edição Dupla!!! - Prince Valiant

Olha, esse post daqui deu trabalho. Não pelo ato de escrever, mas deu trabalho de pesquisa. Não foi nada fácil descolar o material de estudo, e o complicador neste caso era a raridade do material aqui na Terra Brasilis... Ainda bem que quem tem internet tem uma janela para o mundo.

Arte do gibi original de Harold P. Foster

Hoje trago a vocês o que podemos chamar a continuação do post sobre "El Príncipe Valiente" de Outubro do ano passado. Ao ler novamente esse post, percebi que mesmo um ano atrás o Prince Valiant já era meio fujão, ao menos no quesito informações sobre ele. É um personagem nascido como gibi e inspirado na lenda arturiana; para não reescrever tudo de novo deixo o link do post antigo aqui. Só lembrem de voltar pra cá depois!

Aos que foram, que bom que voltaram. Aos que ficaram, bom... suponho que já sabem quem é Valiant, né? Voltando a esta saga de posts sobre filmes, hoje a edição é dupla, já que vou falar de DOIS filmes do Prince Valiant, nosso herói de cabelinho chanel. Quase um He-Man, só que moreno. E medieval.

Para quem quiser ver a ficha técnica dos filmes, é só clicar no link do IMDB no título.

Prince Valiant (1954) (imdb)

Muito bem, este filme foi bastante esculachado pelos seguidores do gibi, já que se inspirou nos nomes dos personagens e alguns pontos da história para criar uma outra versão, bastante cinematográfica porém incorreta desde o ponto de vista do gibi. Para começar, Valiant não sabia que era príncipe no gibi, enquanto no filme a primeira cena já mostra ele como filho de reis exilados, vivendo com os pais. Digamos, já começou chutando o balde. Pra mim, que não li o gibi (ainda), olhei a mudança com bons olhos, e deu um sentido diferente e uma explicação coerente para a coragem e força de Valiant como personagem. Só vendo o filme para entender melhor o que estou querendo dizer, mas eu acredito mais em um herói com motivos do que em um que nem sabe quem é direito. Claro, não podemos esquecer do encontro épico de Luke e Vader, mas isso é outro filme. Neste caso basta saber que o jovem Valiant vai para Camelot para se tornar cavaleiro e recuperar as terras da Escandinávia, de onde seus pais (legítimos reis) foram destronados pelo vilão Sligon. Os pais dele e alguns poucos seguidores se refugiaram em uma costa distante da Inglaterra, onde Sligon não conseguiu seguí-los nem encontrá-los.

Uma coisa bem legal de ambos filmes foi começar com desenhos do próprio gibi, no típico estilo de desenho da época. Lembra o traço do Flash Gordon. Mas acho mais legal ainda como nossa percepção das coisas muda; ver as fantasias de viking que parecem compradas na 25 de Março, com chifrão de "prástico" e os chroma keys com fundos pintados tem um sabor cult, até kitsch. Nessas horas é muito bacana ver a total falta de digital FX.

O primeiro encontro de Valiant com os cavaleiros da távola redonda ocorre de maneira desastrada, onde ataca sem querer o Gawain (quem mais tarde se tornaria seu maior aliado). Olha só:



Depois de ver essa cena lembrei do Felipe Massa. Mera coincidência.

Bom, mais um par de detalhes que posso compartilhar com vocês. Logo no começo aparece um tal de Sir Brack, que nunca ouvi falar em lenda nenhuma, e para quem tem meio dedo de malícia saca logo que ele é o vilão. E depois que abre a boca fica mais obvio ainda.

Neste filme temos duas mocinhas, uma loira e uma morena, que são irmãs e ficam trocando de mãos entre Valiant e Gawain até o fim do filme. Não vou comentar os lances românticos, mas são de bom tom e bastante divertidos.

O filme é predecível, porém divertido. Tem muita ação real, muitas lutas bem convincentes, sem efeitos especiais; rende uma boa sessão da tarde. Particularmente a cena do torneio, que é muito boa de assistir, ao ponto de esquecer o datado que é o filme. É uma verdadeira cena clássica, timeless até.

Um ponto à parte são as acrobacias do Valiant; são bem temerárias, e lembram o jogo Prince of Persia, com todas suas macaquices e pulos.

Na minha opinião, a queda do castelo do Sligon é muito bacana, porém podia ser mais curta que não afetava em nada. Já a batalha final entre Valiant e Brack é dinâmica, convincente, e faz jus ao filme. Um bom final, sem beijos nem nada.

Curiosidades à parte, no primeiro filme o dragão símbolo de Camelot parece um pato mal desenhado, enquanto no segundo filme a familia de Valiant usa um cavalo como símbolo, que lembra o dragão do Mortal Kombat. Algumas vezes me pergunto até que ponto dá para encontrar referências obscuras...

Vamos para o mais novo filme!

Prince Valiant (1997) (imdb)

Nesta versão a coisa muda, mas ainda é mantido o começo com imagens dos quadrinhos, bem dinâmico por sinal.

Neste caso aparentemente respeitaram muito mais os gibis, só que isso trouxe novas perguntas, ou por dizer assim, coisas que deixam contrariado qualquer arturiano como eu. Segue a frase que falei em voz alta enquanto assistia o filme, logo no começo:

- Hein? Comé? Morgana? Em Thule? Terra de Vikings? Exilio? Perai...

Por falar em Morgana, até que gostei dela no filme. É bem bruxa clássica, vilãzona mesmo, só acho que tinha que ser um pouco mais chapadona, mas maluca das idéias, mais desgovernada. Não tanto quanto a Belatrix do Harry Potter, mas encaixava.

Temos também outro mago, o Merlin, que até aparece com o mesmo capacete do filme Excalibur que já comentei. Ele aparece muito brevemente, e não aporta nada (até porque está morto...), mas quero dizer que não influencia absolutamente em nada. Nem menção dele depois dessa cena. Mais uma referência obscura para o caderninho...

Bom, a questão é que tudo gira em volta do roubo de Excalibur, a espada de Arthur. Tudo foi forjado pela Morgana e seus aliados (?) vikings, que se fantasiaram de escoceses para dar a pista errada e provocar uma guerra entre Arthur e as terras da Escócia. Mas como todo mundo é muito espertinho, logo percebem e vão atrás dos Vikings, graças ao Valiant. Excalibur tem neste filme um papel meio parecido com o do "The One Ring" do Senhor dos Anéis, já que quem tiver a espada pode governar os outros.

Neste filme o Valiant não sabe que é príncipe, e descobre isso pelo meio do filme; ele não conheceu seus pais, já que um Viking chamado Boltar (braço direito do rei viking pai de Valiant) o levou até Camelot quando ainda era uma criança, para escondê-lo de Sligon, o vilão.

Outra diferença forte com o primeiro filme é que a cena onde Valiant se faz passar por Gawain é logo no começo, sem maior introdução nem nexo com qualquer outra coisa. No mesmo embalo é que Athena, princesa da vez e sem irmã, se encanta por Valiant achando que é Gawain, mas finalmente o aceita mesmo sendo um mané. Tudo bem, depois vira príncipe, mas quando o conheceu era um mané mesmo.

As trocas de cena no filme são muito, muito legais. Eles usaram os próprios quadrinhos do Foster para fazer as emendas de cenas, contando o que acontece nas narrações; este recurso foi bem explorado, e combinou muito bem com o tom adolescente do filme.

Conclusão

Tem algumas coisas no Valiant que lembram o "Coração de Cavaleiro", já que temos um escudeiro que se faz passar por cavaleiro pelo amor de uma mocinha, que por acaso é princesa. Mas até aí chegam as comparações, já que o Valiant se sustenta como conto por si só, trazendo personagens curiosos, até estereotipados de gibi.

Ambos os filmes tem um apelo jovem, uma história simples que encaixa bem em qualquer sessão da tarde. Crianças e adolescentes que curtem gibis vão gostar dos filmes; claro que os que conhecem o gibi do Valiant vão apontar um bocado de erros, mas isso sempre fez parte das adaptações de um meio para o outro, seja filme, seriado, teatro ou qualquer outro.

Quem for ver algum dos filmes, não esqueça de voltar e comentar!

Até o próximo post!