Como acontece com todo mundo, as vezes me bate um certo cansaço. Fico com preguiça de escrever, de sentar na frente do micro, e nesse estado é bem difícil vir uma ideia para post. Sou plenamente ciente que o assunto do meu blog é inesgotável, mesmo quando demoro para achar o que falar. São tantas as interpretações da história, que cada vez que começo a cavar me surpreendo com o que encontro. Simplesmente as coisas começam a se encaixar, e tudo parece mais fácil.
Lendo alguns posts mais antigos, percebo o pique que tinha para escrever posts longos. Não era por me sobrar o tempo, mas evidentemente as atividades que tinha não me esgotavam mentalmente como as que tenho hoje. É preciso muito equilíbrio para não pirar, para não deixar que o que acontece na tua volta te afete de vez e acabe com teu jeito de ser. Estou em uma fase mais contemplativa, me perguntando quem sou e o que quero ser. Apreciando as mudanças na minha vida e me adaptando a elas. Por isso, peço que não estranhem se volta e meia aparece um post muito curto, ou se pulo uma semana. Estou por assim dizer em um período de adaptação, que preciso entender. Mas enquanto não me adapto... vamos blogar!
Mala Gente
Revisando o blog, me espantei ao perceber como deixei alguns personagens críticos sem um comentário sequer. Sem falar da sua vida, sem dizer quem foi, como chegou onde chegou... Tem personagens simplesmente abandonados, sem uma razão específica. Entre eles, os vilões. E entre os vilões, o maior deles... Mordred.
Como é possível que ainda não tenha falado do Mordred? Onde estava com a cabeça? Que classe de blogueiro arturiano sou?
A ideia veio repentinamente, acho que por causa de todas as tragédias que estão acontecendo. Angra dos Reis, Vila Pantanal, Haiti... sem falar de coisas mais próximas, como um colega que foi assaltado na sexta-feira, ou outro que entraram na casa dele e roubaram tudo enquanto viajava. Há muita maldade na nossa volta, muita tragédia acontecendo... mal estamos na metade de Janeiro e já vi de tudo. Estou ficando com medinho do 2010, sinceramente.
Mas vamos voltar ao culpado da maior tragédia épica... o Mordred. O ingrato, resentido Mordred. É interessante descobrir algumas coisas sobre ele ao pesquisar as origens do personagem. Vejam só como rolou a coisa:
"Sir Mordred" por H. J. Ford, do livro
"King Arthur: The Tales of the Round Table" de Andrew Lang. 1902.
"King Arthur: The Tales of the Round Table" de Andrew Lang. 1902.
Mordred também é conhecido como Mordret, Medrawd ou Medraut; na infeliz tradução para o português aparece como Morderete. Uma das primeiras aparições do sujeito foi no Annales Cambriae (sem piadinhas pelo Annales, ok?), obra que conta a história de Gales. Nele ficamos sabendo que em 537 ocorreu a grande batalha de Camlann, "onde Arthur e Mordred pereceram". Este texto não diz que eles sejam inimigos, simplesmente não podemos afirmar nada sobre a relação entre eles. Mas aparecem na mesma batalha, e por algum motivo Mordred ganhou atenção suficiente para aparecer ao lado de Arthur. Curioso... Quem quiser clicar no link pode ver outros fatos que constam no texto entre os anos 447 e 954. Um outro texto galés, conhecido como "o sonho de Rhonabwy" conta de uma guerra entre Arthur e Medrawd, disparada por um mensageiro de Arthur que irritou Medrawd, com quem as relações diplomáticas eram bem tensas.
Mais tarde, no Historia Regnum Brittonum de 1136, Geoffrey de Monmouth coloca Mordred no papel de vilão, e responsável pela morte de Arthur. Em tempos onde Lancelot ainda não existia (e portanto não tínhamos nosso elemento romântico traidor), Mordred ocupa este lugar na história de um jeito particular. Mordred é sobrinho de Arthur, filho do rei Lot com Anna (sacaram? morg..Anna??), meia-irmã de Arthur. Enquanto Arthur enfrentava o comandante romano Lucius e estava assim afastado do reino, Mordred desposou Guinevere e se fez chamar rei no lugar de Arthur. A questão é que Arthur volta e ocorrem várias batalhas, a última delas em Camlann, com o resultado que já sabemos.
Neste ponto do ciclo vulgato há duas versões sobre o nascimento de Mordred. Uma história diz que Anna e Arthur não sabiam que eram irmãos, e descobrem seu ato incestuoso posteriormente. A outra versão é semelhante ao próprio nascimento de Arthur, onde Anna era objeto de desejo de Arthur e ele dá um jeito para que Anna o confunda com seu marido, o rei Lot.
Posteriormente, um bocado de fontes diferentes alimentaram a versão mais conhecida e famosa, a versão do Sir Thomas Malory. Nesta versão, Merlin lança uma previsão ao Arthur, dizendo que a criança nascida em "May-Day" seria responsável pela sua morte. e o fim do seu reinado Antes que perguntem, May-Day é o primeiro dia de Maio, e equivale à festa pagã da primavera. Sim, as festas de Beltane. Aham, exatamente. Tudo isso que estão pensando.
Por causa desta visão do Merlin, Arthur manda recolher todas as crianças nascidas nesse periodo, as enfia em um barco e as manda mar adentro, esperando que a que causaria seu fim morra. Mas o barco bate em um rochedo, todos morrem menos Mordred, que é encontrado ainda bebê e criado até chegar aos 14 anos. Não ouvimos muita coisa dele até que começa a participar dos torneios, e se junta a Agravain para bolar o plano que pega Lancelot e Guinevere no bem-bom. A partir daí o resto é conhecido, né?
As reencarnações mais recentes do Mordred pegam carona na riqueza de detalhes do Malory, fazendo o personagem cada vez mais vivo, deixando o papel de um simples nome para carrasco e virando um ser com motivos próprios. Um personagem vil, torto, ardiloso. E ao mesmo tempo, vítima de um ressentimento, vítima da dualidade de odiar e amar seu progenitor. Se encontrar no papel de desejar o trono para si, mas com um desejo ainda maior de ser reconhecido e saber que isso não vai acontecer por ser bastardo. Essa dualidade que o transforma em um vilão tão interessante, e faz a lenda toda ainda mais rica. Afinal, sem vilões não teríamos heróis, certo?
Até o próximo post!
3 comentários:
E as versões aonde ele é filho de Morgause? Começaram aonde?
Ah, eu adoraria ver um perfil da Guinevere... Digo, só dela, sem focar no casamento com Artur ou do caso com Lancelot. Tipo, falar da origem, das principais caracteristicas da personagem... Eu tenho pouco estudo sobre ela, e minha visão entre a Guinevere das Cronicas de Artur acaba brigando com a Guinevere de As Brumas de Avalon, e fica esse emaranhado misturado com a wikipedia, hahahaha...
Rola um texto sobre ela?
=D
O próprio nome "Mordred" já me parece pesado, passa uma sensação meio ruim. Não sei se isso foi depois de conhecer o personagem ou antes, mas me parece bem apropriado para o papel que ele tem na lenda :)
Beijos!
@ Mara: boa ideia.. Não se preocupe, vou falar dela ainda. Já falei dela quando contei a historia do cavaleiro da charrete, se quiser fuçar em posts mais antigos; mas vou fazer um post dela sim, curti muito a ideia. Só não cai na besteira de acreditar no wikipedia para fazer pesquisas, viu? Procura de outras fontes!!
@ Rê: pois é, como nome de filho não vinga mesmo.. nem em um gato colocaria o nome de Mordred. Me lembra Mórbido, ou coisa parecida, sabe?
Obrigado pelos comentários!
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