Aventuras no Twitter

Oi gente, antes que nada quero agradecer a todos os que estão acompanhando o blog e o twitter do Camelot or What. Sem vocês, não teria a mesma graça!

No caso particular do Twitter, posso dizer que foi ganhando vida própria a cada tweet. Começou como todos, sem saber muito o que dizer; mas o tom imediatista do twitter acabou provocando um desenvolvimento diferente, bem diferente à proposta do blog. Enquanto aqui conto histórias, notícias, leio e comento livros e textos bem antigos, o twitter virou o lar dos personagens da lenda arturiana, porém com uma ótica bem moderna. Quero divertir, fazer rir, e sei que está dando certo.

Gosto de imaginar os personagens vivendo em seu mundinho medieval, na sua idílica Camelot, mas ao mesmo tempo enfrentando alguns problemas do nosso dia-a-dia, se encantando e sofrendo como nós, vendo tv, assistindo jogos de futebol, jogando videogame e por aí vai. Com isso vieram outras idéias, que devo explorar com o tempo.

Cada personagem que (re)inventei no twitter tem fortes traços da sua personalidade literária imbuida. Cada um deles é forte e fraco nos mesmos pontos que nas histórias do Malory, do Chrétien e de outros autores; bebi de várias fontes para modelar a personalidade de cada um. Mas, ainda assim, nunca parei para escrever sobre essas personalidades, sobre o que gera conflito entre eles. O fato é que inventei pouca coisa, apenas encaixei nas personalidades já construidas e muito bem fundadas algumas características que tem mais a ver com nossa atualidade, o que faz que nos identifiquemos mais ainda com um ou outro personagem.

Temos um Rei Arthur, com "h", que fica na dele a maior parte do tempo, sempre atento, sempre ouvindo. É um rei soberano, admirado, e que quando fala o faz depois de muito pensar. Não solta nada ao acaso, não é impulsivo. Não é um rei que fique apenas no seu trono, olhando de cima; participa, e quase sempre para dar fim ao assunto com sabedoria. Forte, justo, um pouco idealista talvez, embora já mais conformado com o nosso mundo. Barba curta, bem feita, e bom o bastante para carregar e usar a espada que lhe fora entregue. Não pretende ganhar em batalha de nenhum dos seus cavaleiros, já que seu lugar não é esse; seu lugar é o de comandante, e como tal, espera que seus cavaleiros também saibam honrar esse título. Por isso, é respeitado, e acima de tudo querido por seus mais fiéis amigos.

Nossa Guinevere é esplendorosa. É uma mulher como não tem outra. Até as pessoas mais desinibidas ficam sem fala perante sua beleza. Uma beleza natural, mas ao mesmo tempo divina. Não são suas roupas, suas jóias, sua tiara que a fazem rainha. Nasceu para ser rainha. Provoca admiração e uma certa inveja das mulheres que não a conhecem, barreira que é quebrada de imediato ao primeiro oi da Gui. Uma simplicidade encantadora, que mostra que o interior é tão belo quanto o exterior. Nossa Gui adora ver novelas, ler o horóscopo, comer mortadela quando ninguém está olhando; gosta de tudo bem limpinho, e isso atrapalha um pouco os passeios a cavalo e as caminhadas nas florestas de Camelot. Não é frescura, mas apenas uma questão de gosto; ela não vai fazer nojinho de cumprimentar os plebéus dos vilarejos, nem de comer ao relento com eles em volta de uma fogueira. Vai rir e dançar com eles, festejar muito, mas chegando no castelo vai lavar o cabelo porque de-tes-ta ir para a cama com cheiro de fumaça. É a nossa Gui, e por isso a amamos tanto.

Entre os que mais amam Guinevere, está Lancelot. O cavaleiro perfeito, ao menos como é visto por todos. Sabem aquele cara que entra e todo mundo fica contente? É ele. Anima qualquer churrasco, faz de qualquer encontro uma festa. Nosso Lancelot tem uma imagem a zelar, e com isso é muito, mas muito preocupado com a aparência, quase como um TOC. Ele espera a hora certa para entrar no salão, para que a luz do sol que entra pela janela faça reflexo nos outros e brilhe até cegar todo mundo; espera para que o vento sopre de forma que sua capa seja uma bandeira flamulante, quase uma moldura dele mesmo. O cabelo sempre encebado, o sorriso de artista dos anos 30, o ouro do cinema. Valente como poucos, é daqueles cavaleiros que topam qualquer missão, sem questionar se é impossível. Ele quer viver suas aventuras, que é o que o fazem se sentir vivo. Admirado e desejado pelas mulheres, mas só tem olhos para Guinevere; isso o faz sofrer, mas ao mesmo tempo o faz ser quem é. Assim, todas as damiselas continuam desejando o cavaleiro perfeito, e ele continua livre, para todas porém para nenhuma. Tem apenas uma pessoa que consegue tirá-lo do sério: Morgana. Basta ela ficar olhando fixo para ele que explode em um "QUE FOI??", o que acaba em risos no salão inteiro, e finalmente com ele rindo também.

Morgana é uma criatura estranha. Não é feia, mas também não é bela. Faz questão de provocar, quer ver o circo pegar fogo, se divertir com o caos. Usa piercing, é tatuada, raspa o cabelo de moicano, faz o que quer para chamar a atenção. No fundo, quer sentir ódio de Guinevere por a inveja horrores, mas Gui é tão boa com ela que a desmonta por completo, e assim viraram amigas. É um contraste e tanto ver as duas juntas; no fundo, é bem possível que somente Guinevere entenda a Morgana, e que a conheça melhor que ninguém. Morgana quer odiar Guinevere, mas não consegue, e assim se deixa levar por essa amizade esquisita que a Gui oferece sem pedir nada em troca. 

Gawain... ah, Gawain. Ele é uma figura. O melhor amigo de Lancelot, e sobrinho de Arthur. É um galanteador, um poeta, um romântico. Ele ama estar apaixonado, mesmo que sua paixão pule de moça em moça. Ele quer amar todas, não por mal, mas por ser doente de amor. Sabe aquele cara que você sempre vê rodeado de garotas, e todas dando risadinha? É o Gawain. Ele gosta de ouvir músicas bregas, qualquer coisa que fale de amor, para bem ou para mal. Canta no chuveiro, desafina pra caramba, e tem a coleção completa das coletâneas de Love Songs no ipod. Mas, como todo barco tem sua âncora, o porto seguro de Gawain é Brancaflor. E finalmente, quando a fase de vida louca do Gawain acabar, será para ela que ele vai voltar. Ele sabe bem disso, e não se decide; quer ser o homem de Brancaflor, é o que mais deseja, mas ao mesmo tempo não sabe como largar sua vida de solteirice. E assim, enquanto não se decide, vai deixando que a vida o leve onde quiser. Por outro lado, Brancaflor sabe que ele vai vir, quando cansar dessa vida; foi com essas palavras que ela o conquistou de vez. Do lado dela, resta a paciência, e a certeza de que é só questão de tempo para ele ficar de vez.

Ainda temos muita gente na história; Kay com seu jeito cavalo de ser, tolerado com carinho e paciência por Arthur, que sabe que no fundo ele é um cara legal. Temos nosso Merlin, inventor, cientista, gênio, velhinho simpático, de riso fácil e sempre com boas histórias para contar. Foi ele que insistiu para colocar tv a cabo no castelo, e é sempre ele que fica antenado no que tem de novo. Foi ele que comprou o primeiro iPad em  todo Camelot, e o primeiro ao ficar chateado quando não abriu flash. Está na fila para comprar o iPhone G4, mas enquanto isso fica usando, com amor e ódio, seu velho N95. Temos um Mordred peçonhento, mas que por enquanto fica pacato, querendo aprontar mas sem conseguir. Ele tenta, mas desta vez, todos sabem que ele é recalcado com a vida, e por isso não vão deixar que ferre com a vida de ninguém. Ele até tenta, incentivado pela mãe, mas não chega muito longe. No fim, ele só quer ser aprovado, reconhecido, ser mais um... só que muito invejoso.

Assim, reis, cavaleiros, donzelas, magos e tantos outros personagens invadem o twitter, comentando a vida como ela é, ao menos da sua perspectiva, desde o olhar do seu castelo nessa Camelot que é moderna e medieval ao mesmo tempo.

Conseguem imaginar estes personagens? Como eles são? Tem acompanhado o Twitter? Me contem!

Até o próximo post!

Wally, o Bardo

O post da semana passada vai ser difícil de superar; fez um baita sucesso! Obrigado a todos os que o visitaram e aos que deixaram seu comentário.

Nesta viagem a Munique, consegui aproveitar muito bem o tempo pela noite, graças ao verão européio. Eram 9 da noite e ainda estava claro! Foi uma delícia andar por essas ruas, cortar caminho entre as ruelas menos conhecidas, e jantar nos famosos biergartens espalhados pela cidade. 

Na praça principal e centro turístico da cidade (chamada de MarienPlatz) fica uma construção muito antiga, destruída na segunda guerra e restaurada ao seu visual tradicional: é o prédio da prefeitura, ou Rathaus. Tem uma fachada incrível, atulhada de estátuas, detalhes, contornos e seu famossísimo Glockenspiel; é um símbolo da cidade, e um símbolo do barroco medieval. Tem vários livros que tratam do assunto, mostrando o barroco alemão e italiano, e explicando porquê este prédio é uma referência na arquitetura. Não sou um especialista no assunto, apenas um admirador da beleza desta construção. A foto ao lado mostra a fachada, com o Glockenspiel no meio, a foto abaixo mostra a riqueza de detalhes que comentei acima. Nessa foto, na esquina do prédio, vemos um dragão escalando as colunas, atacando as outras estátuas, que fogem apavoradas pela visão do dragão. Cada vez que vejo isso me encanto de novo com essa cena.

AHHH!!!!

 O prédio segue uma estrutura típica dos castelos, com um grande pátio central e a construção contornando este pátio. Durante o verão este pátio alberga um biergarten, aberto ao público e com mesinhas bastante disputadas. Fui uma noite por volta das 9 e meia, horário que é bem atípico na Alemanha, e para minha surpresa fui atendido na boa, e fiz a minha refeição tranquilo, rodeado de locais e turistas, e circundado pelas fachadas antigas, apenas iluminadas pelo reflexo de luz de cartazes do lado de fora. Uma belíssima noite, comida incrível, antiga como a própria Baviera, e o barroco ao meu redor. E uma sensação longamente esquecida voltou.

Dia e Noite no mesmo Pátio
Alemanha tem um efeito curioso, estranho em mim. Me vi nesse pátio, que durante séculos viu gente passar, no meio aos prédios que remetem tempos já perdidos no medievalismo. Comecei a olhar para as paredes, para as janelas, com mais detalhe. Me senti mais alerta, mais ciente do meu entorno, como se enxergasse além da escuridão por trás das janelas. O idioma alemão, falado nas mesas à minha volta, começou a ficar muito, muito familiar. Dei um pequeno gole na cerveja, apenas para degustar, enquanto olhava. E a sensação foi mais nítida ainda. No meio desse barroco, percebi de vez esta sensação. Eu, de alguma forma, já estive aqui, mas não foi nesta época.

Não acredito em vidas passadas, mas o que sinto é uma sensação bem real, estranha e muito forte. A princípio parece como se alguma coisa estivesse fora do lugar, deslocada. É como olhar para uma prateleira cheia de livros, e tem um livro de ponta-cabeça. Não sei dizer se meu fascínio pela lenda arturiana tem alguma relação com isso tudo, mas no fundo, no inconsciente, é bem provável que tenha alguma relação.

Quero deixar bem claro: eu não acredito que tenha sido um cavaleiro medieval, nem que estive numa parede de escudos, nem nada nessa linha. Não me preocupo com as vidas passadas, se elas de fato existem, apenas com a atual. Tem que ter foco, e não vou gastar meu tempo nesta vida pensando em outras, certo? Mas não posso ignorar a sensação esquisita quando visito alguns lugares na Europa. Por exemplo, na visita do Residenz, não tive essa sensação, nem de perto; mas na Rathaus acontece, e também na igreja da Odeonplatz enfrente ao Residenz. Ao mesmo tempo, isso não me aconteceu no Berliner Dom, que é a igreja mais impressionante que visitei na minha vida.

Um coisa eu sei: no pátio da Rathaus, enquanto comia e bebia, ficou muito claro que tenho que escrever meu livro. Organizar a viagem, visitar Wales, Inglaterra, a França normanda, e fazer um roteiro digno de tudo o que quero deixar no papel.

Tem uma coisa que tem me apavorado um pouco; perdi a conta das vezes que fui para a Alemanha, que entrei e saí da Europa, mas tenho muito receio da minha entrada na Inglaterra. São tantas as notícias de gente deportada no aeroporto, aparentemente sem motivo, que meu receio cresce cada vez que penso nesta cruzada. Talvez deva entrar por outro país como minha sempre receptiva Alemanha, ou mesmo pela França e atravessar o canal, que deve ser uma experiência e tanto. É, cruzar o canal de barco, vendo o mesmo mar que os romanos atravessaram ao encontrar a grande ilha borrifando saxões. Ainda bem que o blog serve para anotar essas coisas!

Conversando com alguns colegas na Alemanha, vi que o livro não vai bastar. Vou ter que filmar. Gravar depoimentos de pessoas do lugar, entrevistar pessoas na rua fazendo perguntas simples sobre as lendas, as histórias. Quero manter o tom mais relaxado do blog, mais pop; ver como as pessoas reagem ao perguntar, e contar um pouco qual a idéia por trás disso tudo. Vai dar um baita trabalho, mas será minha herança para as próximas gerações. Uma cruzada pelas terras do Arthur, com um olhar bem informal.

Já vi que a melhor época para viajar deve ser sem dúvida o verão. Poucas chuvas, dias longos, tudo aberto para visitação. Vou começar a bolar o roteiro, e colocar tudo o que gostaria de ver; depois ordenar de forma que faça sentido, para não gastar muito tempo na estrada; e finalmente, entender o que preciso de papéis, quanto vou gastar, e mais importante, quanto tempo preciso para ver isso tudo. E é claro que conto com a ajuda de vocês! Podem dar pitacos, sugerir assuntos e lugares, comentar coisas que gostariam de ouvir, e por aí vai. Como já disse, vai ser quase um serviço de utilidade pública!

Até o próximo post!

Relíquias

A semana que acabou de passar estive em Munique, Alemanha. Conversei muitas vezes com um colega meu que também costuma viajar a trabalho que de fato nunca sabemos qual será a última viagem para essas terras; cada viagem parece a última, já que com o tempo, a experiência e a mudança nos cargos fica cada vez mais difícil sermos escalados para efetuar uma viagem destas. É lógico que a oportunidade de conhecer outros lugares interessa a todos, e acredito que todos tem que ter a chance de viajar pra fora a trabalho; é uma experiência enriquecedora tanto profissionalmente quanto no lado pessoal. Poder conhecer outras pessoas, outras culturas, ver como teus colegas trabalham ou resolvem problemas em outros lugares abre muito a cabeça, e ao mesmo tempo descobrimos novas comidas, tradições e costumes distantes das nossas. Perdi a conta das vezes que fui para Alemanha, e sempre fico com a sensação de que é a última viagem. Tomara que esteja enganado, como estive em todas as anteriores!

Desta vez, por questões de datas da viagem e dos compromissos, consegui arranjar um pouco de tempo livre durante o dia e com isso pude visitar o Residenz Museum, que fica aberto somente em horário comercial e localizado a poucos quarteirões da Marienplatz. Nas horas que passei nesse museu vi muitas coisas interessantísimas, reflexos de uma época onde reis disputavam territórios, conquistavam lugares e esbanjavam riqueza. Mas o que mais me impressionou da visita foi uma das novas exibições abertas ao público, a das relíquias religiosas.

Para ilustrar o assunto, vou explicar um pouco o por quê da minha curiosidade. Os que me conhecem faz um tempo sabem que sou fã dos textos do Bernard Cornwell, um grande contador de histórias de batalhas relacionadas à Inglaterra. Atualmente estou lendo as crônicas saxônicas, onde com bastante frequência se fala de relíquias religiosas, mas li vários outros textos dele onde também aparecem as tais relíquias. Mas, o que seria uma relíquia?

Dentro da religião católica, são chamados de santas a pessoas que se destacaram no serviço a Deus e às quais é atribuida a responsabilidade ou mérito por milagres. Digamos, se uma pessoa muito dedicada à igreja morre, e outras pessoas pedem em oração que esta alma interceda por elas no pedido, quando este pedido se realiza é se diz que foi o santo que ajudou, ou que intercedeu; se este pedido for impossível de explicar pela ciência ou pela compreensão, é chamado de milagre.

Com o tempo, a igreja católica passou a usar objetos que aparecem na Bíblia como alegorias poderosas, carregadas de energia santa (por assim dizer), que tinham muito valor religioso e com isso eram capazes de obrar milagres poderosos apenas por estarem aí. Um  dos exemplos mais clássico de relíquia religiosa é o Santo Graal, figura central da religiosidade imbuída na lenda arturiana. Na Espanha, existe a Igreja do Santo Graal, onde por trás de um vidro blindado é exibido um cálice, supostamente o auténtico usado por Cristo na última ceia. Assim, com o tempo, outros objetos foram "achados" e devidamente embalados para exibição; a igreja precisava de poder, e com isso a demanda de objetos santos ou santificados aumentou cada vez mais, e assim foram aparecendo coisas como a pena que Noé tirou do pombo ao sair da arca, a palha do presépio onde Jesus nasceu, e coisas no estilo.

Voltando aos santos agora, chegou um momento onde alguém teve a brilhante idéia de usar restos mortais de pessoas santas ou beatas, transformando as corpos destas pessoas em altares deles mesmos. Com toda a bizarrize que isso implica, era comum dividir os ossos do morto, colocar estas partes em pequenas urnas onde pudessem ser vistos e virarem objetos capazes de propiciar milagres, como se a santidade estivesse ainda presente nos restos mortais.

Nos livros do Cornwell, isto aparece bastante seguido nas histórias, e sempre achei divertido da forma que era colocado. Por exemplo, tem um personagem incrédulo, contando que viu uma relíquia de um santo. Esta relíquia era um dedo do santo, embalsamado e dentro de um vaso de vidro decorado por pedras preciosas; ao perguntar sobre o santo, ele escuta a história de que este santo foi um martir, e ao morrer ele foi carregado por correntes de ouro até o Ceú, e com isso virou santo. A questão é que ninguém explica como foi carregado por correntes, e no meio do caminho conseguiu perder um dedo para fazer a relíquia.

Como disse há pouco, acho hilários os textos e descrições do Cornwell, e sempre me divertiu bastante quando apareciam estas relíquias. Mas para meu espanto, tudo isso é real, e pude ver com meus próprios olhos. E tenho fotos.

No Residenz Museum, por trás de uma grossa porta blindada que serve de única entrada a uma sala-cofre, estão guardadas algumas preciosas relíquias do catolicismo. Estas pessoas foram provavelmente roubadas durante a segunda guerra mundial, conclusão minha já que é sabido que Hitler fora um grande colecionador de artes e peças raras. É, o filme do Indiana Jones e a última cruzada não era tão viajado no fim das contas.

Então, seguem as curiosas e até escabrosas imagens do que vi no museu, com suas explicações onde posso comentar.

Aqui o primeiro exemplo do que estou falando acima. O que enxergam nessa foto é um painel, quase um papercraft, feito com os OSSOS de alguém, ricamente decorado com filetes de ouro e com pedras preciosas. Isso, ladies and gentlemen, é uma relíquia do catolicismo.
Não lembro ter visto a quem pertenciam esses ossos, nem muito menos tenho como afirmar que são de fato de quem supostamente pertencem, mas não deixa de ser uma imagem espantosa.










Aqui vai ficando um pouco pior. Já vemos um osso nítidamente reconhecível, pelo tamanho algum osso curto do pé, ou talvez até de algum animal. Na peça, uma pequena placa diz S.BARBARA. Sem comentários.































As duas peças acima merecem uma menção especial. Ambas as fotos são da mesma peça, um objeto riquísimo em pedras e metais preciosos, do tamanho de um trofeú de uns 60 cm de altura, onde a foto da direita é a continuação da foto da esquerda. O toquinho amarelo que vemos no tubo é supostamente a esponja usada para secar o suor e o sangue de Cristo quando colocaram a coroa de espinhos, e nos três tubos abaixo vemos um galho do espinheiro, uma peça irreconhecível (talvez um pedaço de tecido) e uma pequena cruz de madeira. Sem querer ser sacrílego, a palavra que me veio à cabeça quando vi isto foi Epic.

Agora vamos aos bizarros, pra valer. Apresento para vocês, o FÊMUR de São Matias Apóstolo. Pelo menos, é o que diz na gravura acima do tubo (foto da direita).





















Agora, se um fêmur já é impressionante o bastante, o que posso dizer de um conjunto de mãos mumificadas, ainda com restos pretos da pele?





















As fotos não são muito nítidas, mas por um lado melhor. Ao vivo é bem impressionante. Mas como vocês já esperavam, não termina por aí, e estou deixando o melhor (ou pior?) para o final. O que tem aqui dentro? Basta ler o texto em latim, é fácil.


Descansa em um requintado travesseiro coroado por pérolas e flores de pedras preciosas, nada mais e nada menos que o CRÂNIO de João Batista. É, exatamente, O João Batista. Tinha outras cabeças como esta em exibição, no mesmo esquema de cobrir o rosto e deixar só o topo descoberto. Mas, outro mártir da igreja não deu tanta sorte, e ganhou uma relíquia menos inibida, menos discreta talvez. E com isso encerro o post.


Estão vendo o que tem na casinha de cima? Vou mostrar mais de perto.


Acredito que, passada a impressão inicial, devem ter notado que este crânio não tem dentes. Na antiguidade, as pessoas não ficavam com seus dentes muito tempo, pela falta de higiene e qualquer cuidado na alimentação, mas neste caso acho muito mais provável que os dentes desta pessoa se encontrem agora dentro de outras relíquias, aguardando sua vez de produzir um milagre. 

Na minha opinião sincera, fiquei muito, muito chocado quando dei de cara com estas peças, e me espantou o que eu chamaria de falta de respeito com o descanso dos restos mortais. A religião cristã dá muita importância à morte; é um momento fundamental onde a alma descansa e aguarda pelo Juizo Final. Mas, para alguns catôlicos dentro da Igreja, estes santos e mártires não eram dignos de descanso, e seus corpos continuam assim, desmembrados e expostos na obrigação de abençoar um local, e tornar rico quem o possuir através das visitas para ficar perto da milagrosa relíquia. Como objeto dentro de uma peça literária, são fascinantes, mas nunca passou pela minha cabeça que de fato esses objetos fossem tão reais ao ponto de podermos encontrá-los hoje em dia. Mais uma história para contar no meu livro.

Até o próximo post!

Stonehenge: uma franquia?

Antes de começar, quero agradecer a Edileide pela publicação deste link no seu facebook, o que acabou rendendo este post. Obrigado! A imagem do post é deste site, mostrando informações do museu de Salisbury (mais um lugar para visitar quando escrever o livro.. tá anotado).

OK, vamos começar. Eis que uma equipe de cientistas está fazendo nestes momento a pesquisa mais organizada e sistemática já feita em volta de Stonehenge, um dos monumentos mais famosos do planeta e provavelmente a construção mais antiga ainda em pé feita pelo homem. Este projeto de pesquisa se estende por 3 anos, e vai varrer o equivalente a 14 quilômetros quadrados na região onde está o círculo de pedra.

Os cientistas estão usando para este projeto um sistema bastante rápido para escanear a superfície do terreno, e usando uma mistura de radar e medições magnéticas podem encontrar pontos onde o magnetismo do solo muda de padrão, o que indica a existência de objetos sob o terreno.
Em apenas duas semanas de pesquisa, já fizeram um achado extraordinário: encontraram um novo círculo, talvez de madeira, a pouco menos de um quilômetro de distância do já conhecido. 

Com isso, muda completamente a visão que se tem de Stonehenge; finalmente foi comprovado que tinha outros círculos bem próximos ao "atual", o que indica que na região tinha bem mais atividade do que se sabe hoje. É claro que podemos tirar um monte de conjeturas e conclusões, mas o que acho mais bacana é que o mistério cresce mais a cada nova descoberta. Podemos pensar que talvez os outros círculos fossem usados por outras pessoas menos importantes socialmente (como se fosse um círculo mais popular, mais povão), ou que dependendo o evento usavam um ou outro círculo, ou mesmo que todos eram usados ao mesmo tempo nos rituais, tentando canalizar a energia dos rituais para um único ponto. Podemos chutar tantas coisas! Tantas novas histórias para escrever!

Embora seja uma descoberta e tanto, não é nem de perto o primeiro novo círculo encontrado em Stonehenge. Em 1925, foi encontrado um círculo feito de troncos de árvores, apelidado de "woodhenge" e fica a pouco mais de três quilômetros do maior, enquanto recentemente em 2009 encontraram um círculo bem pequeno (uns 10 metros de diâmetro) a apenas um quilômetro e meio do mais famoso. Este círculo pequeno era de pedra (era sim, porque só sobraram cacos), e tem duas teorias para ele: ou era para indicar o caminho do maior, ou foi uma sepultura ritual.

O fato é que tem esses círculos espalhados por toda a ilha britânica, e com isso é meio que inevitável pensar que tinha uma conexão entre eles. Será que era uma franquia? Será que eram nem que os nossos cinemas de hoje, enquanto Stonehenge era o 3D, o IMAX da época? Stonehenge era o Megastore? Será que vendiam kits de pedras para montar seu próprio círculo de pedra em escala? Tinha cambistas na entrada também? Existia rivalidade entre os clientes de um círculo e os outros, como se fossem times diferentes? Eram patrocinados? Rolavam fofocas de um círculo sobre o outro? O que vocês acham?

Olha só quanto material para explorar no Twitter do Camelot or What... Falando nisso, tem gostado das novelinhas no Twitter?

A semana que vem vai ser meio tumultuada, mas quero ver se solto algum post no meio. Devo ter um tempinho para ler, e com isso vou ter como alimentar mais o blog com coisinhas interessantes.

Até o próximo post!

Camelot, o Projeto?

Então, eis que eu achei que tinha achado um post para escrever, e me senti enganado na medida que avançava mais sobre o assunto.

Encontrei um site, ou uma entidade, chamada Project Camelot (não vou linkar porque não quero que meus visitantes caiam lá através do meu blog). Comecei a ler o about us, e falava que é um grupo formado após passarem uma semana em Tintagel, olhando para o mesmo mar que o Arthur viu quando criança. Até aqui, beleza... só que a idéia deles é ficar entrevistando pessoas que eles chamam de "true-tellers" para entender a verdadeira natureza do mundo (seja lá o que isso quer dizer). Assim, visitaram e entrevistaram muita gente, no começo com o dinheiro deles mas depois através de doações. Resumindo, associaram a idéia de Camelot, Távola Redonda e vai saber em que momento enxergaram isso como uma idéia utópica ou idealista sobre a compreensão do mundo. 

Apenas para ilustrar um pouco a coisa, Arthur foi uma criança filho de um adultério e assasinato, que foi abandonada pelos pais nas mãos de um velho pirado, que também largou o moleque nas mãos de um cavaleiro qualquer. O moleque foi criado como filho deste cavaleiro (o Ector, ou Heitor se vc preferirem), e do lado do filho legítimo de Sir Ector que por sinal virou o cara mais pentelho do mundo arturiano: o jovem Kay.

Eis que praticamente por acaso Arthur puxa a espada da pedra, vira rei no meio de um monte de gente que queria matar o menino por ter conseguido tal proeza e foi salvo pelo mesmo velho metido e rabugento, que depois viraria seu conselheiro mesmo com essa ficha corrida. Assim, cai no colo do menino expulsar os invasores saxões. Só.

Em algum momento da sua existência, o velho leva o moleque para transar com a irmã, sem saber que é a irmã, e pumba, com isso a Morgana passa a odiar seu irmão e ainda fica com o bucho, de onde sai Mordred, que é envenenado desde que nasceu para ter rancor do pai biológico.

Já mais crescido, conhece o amor da sua vida, a Gui, e mais tarde encontra também quem seria seu cavaleiro de confiança e melhor amigo, o Lancelot. Como eles pagam esse afeto todo do Arthur? Um vai pra cama com o outro, e ficam traindo não apenas o Arthur, mas o rei de Camelot, e grande rei de toda Britania. Para terminar a história, seu único filho biológico (o Mordred) se encarrega de criar uma guerra onde tanto ele quanto seu pai morrem na batalha de Monte Baddon. Com a morte de Arthur, Britania é tomada pelos saxões, e posteriormente vira Inglaterra.

Então, essa é a "idílica" história de Camelot. A tragédia da vida de Arthur, e como seu sonho é metódicamente destruido por todos aqueles em quem confia. Com o fim de Arthur, morre um rei, morre um reino, e morrem os ideais do cavaleirismo. É, só isso.

Bom, como estava dizendo, o tal de Projeto Camelot conseguiu o funding que precisava para garantir que seus criadores ficassem passeando por aí entrevistando pessoas, fingindo criar uma nova onda de iluminismo, ou coisa parecida. Não bastasse isso, publicaram vários livros que com certeza tem gente comprando e falando "wow, quanta verdade". Tá, tudo bem, a verdade está lá fora, mas eu não consigo enxergar isso de outra forma que um golpe de marketing que deu certo. 

Querem um projeto legal? Vão olhar o Project Gutenberg, que busca digitalizar todo o conhecimento do planeta para que não se perca. Para quem leu meu post anterior, vejam como há mais de 800 anos a sociedade já discutia separação no casamento por diferenças irreconciliáveis. Tudo isso já existia, e já havia espaço na sociedade para essa discussão. Essa é a verdadeira evolução, olhar para o passado para entender onde queremos ir. Li uma vez que uma sociedade que não conhece seu passado é incapaz de definir seu futuro já que vive apenas o presente, e concordo com essa afirmação.

Então, já que o post não saiu, e após o apoio popular na questão, a partir de hoje o blog ganhou seu próprio Twitter. Claro que não posso me estender nos assuntos como aqui, mas o que podem esperar dos tweets do Camelot or What é comentários curtos sobre a lenda, notícias informais, notificações de novos posts e por aí vai. Digamos que apenas uma extensão ou um adendo do blog na rede social de microblogs mais popular do planeta.

Onde? @CamelotOrWhat, claro.

Até o próximo post!