Que dia é hoje? Dia de escrever no blog. Para minha própria surpresa, mesmo com todos os imprevistos e correria do dia a dia consegui escrever um post todos os dias da semana. Teve posts mais brilhantes que outros, mas em geral mantive a meta: escrever todos os dias. Parabéns para mim mesmo pela perseverança e disciplina, e que sirva de exemplo para quem for adotar o desafio!
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Caramba.. Postar todos os dias cansa... |
Quero explorar um pouco mais o post de sexta, onde falei da Cavalaria. Como comentei, o Llull fez um texto no século 13, descrevendo os valores da cavalaria. Até perguntei no post o que os leitores achavam que era a Cavalaria e suas regras, o que trouxe respostas muito bacanas. Mas, vamos ver agora a visão de quem vivenciou isso na época "certa".
Vamos deixar um olho experiente nos ajudar: o texto abaixo é minha conclusão de outro texto, o "Of the Vertues that Apperteyne to Chyvalry" de John Chamberlain, um cavaleiro da era moderna. Como isso é possível?
John Chamberlain é membro do SCA, o
Society for Creative Anachronism.Esta entidade busca recriar o estilo de vida e costumes da Europa Antiga, e assim John (hoje Conde Chamberlain) usa outro nome como cavaleiro: Sir Garick von Kopke. Com isso, ele tornou-se um dos cavaleiros da era moderna, e estudou profundamente os textos antigos para definir o que realmente é a cavalaria. Desses estudos, ele destaca o texto do Llull, que comentei no post anterior.
Não vou nem comentar sobre esse assunto, mas eu sei o que vocês estão pensando, e concordo... Vamos ao poema de Llull.
Knigts ougt to take coursers to juste & to go to tornoyes
to holde open table
to hu(n)te at hertes
at bores & other wyld bestes
For in doynge these thynges the knygtes exercyse them to armes
for to mayntene thordre of knigthode Thene to mesprise & to leue (th)e custom of (th)t which (th)e knygt is most apparailled to vse his office is but despising of thordre
& thus as al these thynges afore said appertyne to a knygt as touching his body
in lyke wise justice
wysedom
charite (/) loyalte
verite
humylite
strength
hope swiftness & al other vertues se(m)blable appertyne to a knygt as touchyng his soule
& therfor the knygt that vseth the thynges (th)t apperteyne to thordre of chyualry as touchyng his body
& hath none of these vertues that apperteyne to chyualry touchyng his soule is not the frende of thordre of knygthode.
Eu sei, é horrível. Mas o que conseguimos tirar deste poema de 1400 e tralalá? Ok, 1483 até 1494.
Habilidade.
Logicamente, a cavalaria vinha de uma ordem militar, a dos homens montados; assim, uma forma de identificar a essência de um cavaleiro vem da sua habilidade no manejo de armas, na sua destreza na luta e na caça. É, por assim dizer, uma forma de colocar ordem na Ordem da Cavalaria.
Coragem.
Essa é bastante óbvia, mas na visão medieval é a coragem de enfrentar situações onde o mais confortável (e seguro) era fugir. É enfrentar o risco de morte (porque à Morte ninguém enfrenta, ela sempre ganha mesmo). Assim, coragem e outra característica que define um verdadeiro cavaleiro.
Honestidade.
A palavra honestidade tem a mesma origem no latim que a palavra honra (Honus), assim honestidade e honra são duas coisas que não podem separar-se. A honra de um cavaleiro inclui sua honestidade, assim como da sua honestidade depende sua honra. Nos dias de hoje temos conceitos separados para estas definições, mas na sua origem são a mesma coisa. Ser honesto é ser honrado, pelo menos para um cavaleiro.
Lealdade.
A lealdade vai de mãos dadas com a honestidade, principalmente por causa de um juramento o de um voto. Assim, os cavaleiros juravam lealdade, o que os tornava fieis seguidores das suas causas, devido à honestidade. Estas juras eram para reis, donzelas, igrejas, desavantajados, o quem estivesse precisando de um "reforço" de um cavaleiro. A jura era a palavra, e a palavra era o contrato. As palavras tinham o mesmo peso de um contrato assinado, assim as juras de cavaleiros eram a garantia.
Generosidade.
Quando o texto fala de "holde open tables" fala mais precisamente de ser generoso. É dificil ser generoso na questão de posses e bens, mas a generosidade de um cavaleiro consiste em não ser ganancioso. São pequenas coisas, como dar a vantagem da dúvida para um oponente no caso de uma disputa, de um torneio.
Fé.
A fé tinha um cunho fundamental na era medieval, e assim os cavaleiros participavam de rituais religiosos. Mesmo antes de ser nomeado cavaleiro, todo candidato devia passar uma vigilia em penitência, entre outras provas. Mais tarde, sabemos até que ponto os cavaleiros eram influenciados pela religião por causa das Cruzadas.
Cortesia.
Podemos entender a cortesia do cavaleiro como um adendo às outras qualidades. É quase impossível imaginar um cavaleiro que não seja gentil e tenha todos os outros atributos que já conversamos. Assim, o trato cordial e respeituoso era outro identificador inequívoco da Ordem da Cavalaria.
Nobreza.
Embora não fosse um requisito exclusivo, era muito raro que alguém sem um título nobre pudesse se tornar cavaleiro. Manter um cavalo, armadura, armas e criados e coisa que só a nobreza e um título forte na família podia garantir. Mas, cabe dizer que em alguns casos, a presença de todos os outros atributos tornavam uma pessoa "nobre" o bastante para ser nomeado cavaleiro, mesmo sem títulos. Se uma pessoa fosse constate nos outros preceitos, podia sim chegar a cavaleiro por seus próprios méritos.
Encerrando...
O conceito do cavaleiro existe na mente popular, mas é dificil criar uma definição exata do que era ser cavaleiro. Mesmo com os conceitos acima, ainda é um exercício mental pensar no que implica cada um desses predicados, mas não deixa dúvidas que não era para qualquer pessoa. Os cavaleiros continuam capturando nossa imaginação e admiração, e sempre vão render um post interessante.
Boa semana para todos!