Dedicado a Gabriela Folz, mi hermana que sin querer despertó en mí la curiosidad de saber más sobre este asunto.
Em um momento de nossas vidas (que não é precisamente o mesmo momento para todas as pessoas) surge uma pontada de curiosidade sobre nossas origens. Olhamos para nossos pais, tios, avós... e aos poucos, as trilhas dos casamentos, nascimentos e cidades vão perdendo nitidez. Os detalhes somem; deixamos de considerar o endereço onde nossos parentes moravam, e passamos a considerar somente as cidades. As datas também ficam confusas, quando não somem completamente. E assim, as raízes da nossa árvore genealógica desaparecem como as vozes daqueles que já foram, na falta de um registro escrito que possa eternizar as memorias. Eventualmente, encontramos outras pessoas na mesma situação, porém iniciaram estas pesquisas muito antes e servem de fonte não apenas de informação, mas como guias nessa cruzada genealógica pelas origens de nossos ancestrais.
Os imigrantes podiam ter muitos defeitos, mas tinham uma característica comum: a união entre eles.
Os imigrantes se aglomeravam em comunidades, na maior parte dos casos mantendo idioma, tradições e crenças, fazendo das novas terras um cantinho estrangeiro em terras novas. É pelo registro destas comunidades que descobrimos as rotas migratórias, e descobrimos mais detalhes sobre nossas origens. Registros de nascimentos, de óbitos, de casamentos, compras de terras, e quaisquer outros papéis servem de rastro para farejarmos mais detalhes. Assim, finalmente chegamos ao registro de imigração, onde alguém, o patriarca da nossa raiz neste lado do atlântico, desembarcou para deixar um legado que nem ele mesmo conhecia. Uma bagagem cheia de desenganos, de amargores vividos e ao mesmo tempo, de esperança, buscando um futuro melhor para si e para os seus.
Mas, e do outro lado do atlântico? Na Europa? Podemos achar de onde vieram esses antepassados?
De fato, se um barco chegou na América do Sul vindo da Europa, é porque partiu de um porto, onde também existe um registro de passageiros. Com esses registros, investigamos um pouco mais, e descobrimos um espelho do que encontramos por aqui: novas comunidades, novos registros, e assim, nossa árvore encontra raízes cada vez mais profundas, fortes e ricas.
Hoje, uma das minhas irmãs guarda um registro muito detalhado das idas e vindas do nosso sobrenome, ao ponto de localizar fotos muito antigas, da época onde as famílias se vestiam para a ocasião, e saiam para o patio da casa para aproveitar a luz, ficando estáticas enquanto a pólvora queimava provocando o clarão necessário para registrar as imagens na placa. Fotografias em tons de preto ou marrom, amareladas pelo tempo para o tom sépia, com crianças vestidas como adultos, e adultos sérios, muito sérios. Imagino que essa seriedade se restringia às fotos e à missa, e que no resto eram pessoas que mesmo sofridas, encontravam felicidade e eram capazes de rir juntos.
Nesse impulso por conhecer de onde viemos, eu fiz uma coisa diferente: tentei achar outros registros onde apareça meu sobrenome, mesmo que não seja capaz de traçar uma linha que me leve até esse registro. Em outras palavras, quase um um exercício lúdico usando como pauta minhas raízes.
O primeiro registro que encontrei foi nos Anais da Real Academia Matritense de Heráldica e Genealogia. Devo admitir que estranhei muito ver meu nome em um registro espanhol, sabendo claramente as minhas origens germânicas. Acontece que lá pela página 931, aparecem umas referências extraídas de outros livros de origem francesa, redigidos por um tal de Robert Folz, um medievalista francês nascido em 1910 e especializado no período conhecido como era Carolíngia, que vai do 751 ao 987 e ganhou esse nome pelos seus imperadores (a saga do Carlo Magno). Pelo jeito, a curiosidade pelo mundo medieval vem de família, não sou o único Folz medievalista (embora meu legado seja muito mais modesto).
Mas, tem um registro ainda mais curioso: um poeta / barbeiro / cirurgião chamado Hans Folz, e responsável por um dos registros mais importantes da poesia medieval. Hans Folz (1437-1513) foi um poeta de renome e relevância variável ao longo dos séculos posteriores a sua obra. Escreveu muitas poesias burlescas, com forte apelo sarcástico e com o único objetivo de divertir e entreter (ou seja, era o tipo de piada suja contada em rodinha, só que em formato de poesia), ganhando assim um lugar na lista de maus exemplos de literatura medieval. Porém, tem outros trabalhos dele, onde um em particular ganha valor incontestável: sua obra registra uma das lendas mais antigas relacionadas à Cristandade, sobre o destino de Adã e Eva após serem expulsos do paraíso. Esta lenda se remota ao século 10, onde gregos e romanos tinham seus próprios registros em Latim; assim, ele deixa de ser um contador de piadas sujas enquanto fazia a barba dos clientes, mas adquire status de importante poeta do século 15. Eu nunca fui bom para contar piadas, mas pelo menos teve alguém na família que sabia. E ainda fez muito mais do que só contar piadas.
Quem diria, parece que o medievalismo realmente faz parte dos Folz. Ainda meu livro vai ver a luz do dia, e quem sabe não ganhe um espaço na estante de alguma biblioteca, próximo do meu antepassado brincalhão.
Até o próximo post!
2 comentários:
Eu gosto muito desse tipo de pesquisa. Descobri um parente meu em São Paulo que está fazendo um trabalho muito legal buscando as raízes da família, e já encontrou parentes na Alemanha que inclusive já vieram conhecer o pessoal aqui. Mas que eu saiba o mais "importante" que acharam é (ou foi?) um prefeito numa cidadezinha da Alemanha, rs.
Tô esperando o livro, cadê? :)
Beijos!
@Rê, vai ter que esperar mais um pouco ainda pelo livro.. mas que sai, isso é certeza. É juntar as ideias e partir pra minha aventura, minha busca!
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