A Última Legião. Ainda bem que foi a última.
Marion já falou deste filme que vimos na semana passada, mas agora é minha vez, seguindo a deixa dela sobre imprecisões históricas e tal.
Falta de roteiro, falhas na atuação, escalação ruim de atores, nítida pobreza de cenários, coreografias e vestiários fazem de "A Última Legião" um filme lamentável. Paguei para ver, afinal é um filme arturiano, mas não passa de uma sessão da tarde. Pena, porque o trailer era realmente inspirador.
A intenção do filme é mostrar de onde veio a espada Excalibur, e mostrar que ela é anterior à lenda do rei Arthur. Mesmo quando o principal elemento do filme seja a espada, é visível a falta de esforço para levantar e movimentar todas as armas do filme; simplesmente são leves demais, e isso prejudica a credibilidade. É ridículo ver uma espada que tem praticamente o tamanho de um claymore irlandês ser levantado como nada por uma criança franzina.
Este filme pega o mesmo momento histórico de outro filme, "King Arthur". A diferença é que no primeiro temos um nítido líder carismático, que repele a invasão saxônica na batalha de monte Baddon. Já em "The Last Legion", temos um líder desinteressado, interpretado pelo namorado da Bridget Jones, e onde parece que todos os atores sabem desse seu passado nebuloso. Ao mesmo tempo, ele tem que aturar um pirralho que se acha superior a todo mundo, e que não é capaz de se defender nem de inspirar ao menos um sentimento de carinho para protegê-lo com motivo. Dá vontade de que ele caia nas mãos do inimigo, os Cotos (que tem a função de interpretar os bárbaros da vez).
Roma. A Cidade Mutante.
A capital do Império Romano atingiu uma população de mais de 1 milhão de habitantes, isso no século V. Pode não parecer muito, mas a próxima cidade em atingir esses números no mundo só conseguiu este fato no século XVIII. Era uma cidade suja, fedida, grande (que coincidência... parece onde moro hoje). Eles inovaram o comércio por terra com suas estradas, que tinham o detalhe de colocar pedras enormes aos lados do caminho para evitar que as carroças ficassem com uma roda pra fora, lamaceando a estrada inteira. Digamos que inventaram a lombada no acostamento.
Os erros que me incomodaram sobre Roma (especialmente considerando que Italia está entre os paises da produção) são basicamente estes:
A moradia do César era o lugar mais privilegiado da cidade. Ele ficava próximo ao Senado, onde longos debates aconteciam na presididas do governador supremo. No filme, após algumas cenas, você descobre que a casa imperial fica logo após o portão da cidade. Isto é um despropósito em vários aspectos:
- Segurança nula.
- Trânsito constante de mercadorias pelos portões.
- Distância até o Senado e o Coliseu, por não falar dos templos.
Outro erro terrível acontece em características mais particulares da cidade. De fato as casas tinham telhas, mas não eram de barro pré-moldado industrial:
- Cara, maneiras essas telhas da tua casa! - Gostou? Comprei na internet. Entregaram e instalaram. Depois te passo o site...
Um Épico.Todo filme que aspira ser um épico precisa de elementos marcantes, particularmente no quesito cenários. Como é de se esperar na falta de orçamento, esta é uma das falhas mais miseráveis do filme.
Começamos pela muralha de Adriano, de isopor pintado. Me lembra as obrinhas da minha infância na escola, com o fundo de papelão.
A falta de cuidado fica patente também no fundo azul cretino nos aquedutos romanos. Belíssimo render, pena que tão mal superposto à imagem filmada.
Sabe a sensação de já ter visto determinada cena? Isso se repete, isso se repete, isso se repete. Se repete. A Warner Brothers fez muito desenho animado assim, mas em filme fica estranho. Especialmente quando as cenas são de outro filme.
Lord of The Rings? Não. Aliás, para atravessar os Alpes ninguém precisa de bagagem. Dá para passar a pé na boa. - Moleque, presta atenção. Essas são as montanhas do SSX3.
- Poxa, é mesmo!
- Legal né?
Inspiração.
Roube (quer dizer, inspire-se nos) cenários de jogos épicos, como Diablo II. Aproveite que é um jogo velho, jogado apenas por milhões de pessoas no mundo todo e com uma das comunidades mais ativas, tanto no site do autor do jogo (Blizzard) quanto em comunidades como o Orkut. Ninguém vai reparar no plágio.
Para quê parar com os cenários, se você pode também plagiar os personagens e suas fantasias??? Olha só essa amostra 3-em-1:
Temos 3 personagens. O guerreiro namorado da Bridget, um Merlin/Obi Wan/Pai-de-Santo, e uma mulher guerreira. O que temos no jogo? Exatamente os mesmos personagens.
Eu não podia deixar de mencionar o mantra repetido até o cansaço, "até o último suspiro" traduzido porcamente. Nada como uma singela homenagem ao "nós andamos" do 300 de Esparta.
Aliás, já copiado o cenário e as fantasias, por quê não as armas?? Imagina se ia deixar isso de fora... Olha só o Katar selecionado em verde, e o que nossa "assassin" está usando no filme:
É pura coincidência que tanto no jogo como no filme sejam duas personagens mulheres, com conhecimento de artes marciais, usem katars e armas a-la-Wolverine, e ambas sejam definidas como assassinas ou mercenárias? Eu não acho.
Resumindo...
A cara do Merlin no começo do post reflete bem a sensação do público.
"Hein?"
Ainda assim, o filme joga no fim apenas uma pontinha do que poderia ter sido, mostrando um jovem Arthur, acompanhado por Merlin como mentor, e com uma cumplicidade carinhosa entre eles. Essa curta cena que parece um extra do filme, logo no fim, mostra como esta outra criança consegue ser tão mais simpática, fazendo o público gostar dele quase de imediato.
Me resta esperar por um bom filme arturiano como foi Excalibur de 1978 ou as Brumas de Avalon (minissérie para TV), ou vou ter que virar diretor de cinema e fazer meu próprio filme. Seria muito legal que alguém pegue os textos do Cornwell, também mostrando um Arthur meio-romano no século V, e faça um filme à altura que as épicas histórias arturianas merecem.
Produtores: Parem de nos enrolar e façam logo um bom filme!!!
Eta feriado bom... O post só saiu hoje!!!