Nas Terras do Rei Arthur - Parte 7

Este post é continuação de um post anterior, portanto, se você não viu o que está rolando, veja o post anterior neste link.

Hoje admito que vou tapear um pouco com o post. Embora o post seja sobre minhas aventuras nas terras do Arthur, o assunto não será arturiano, ou ao menos não intencionalmente.

Hoje quero contar para vocês sobre minha visita ao British Museum em Londres.


Passeando na História

Ouvi muito sobre o Museu Britânico de pessoas que tiveram a oportunidade de visitar, me falando como era grande, bonito, e comentando sempre com entusiasmo sobre a ala egípcia. Posso dizer que depois de fazer minha própria visita, entendo perfeitamente do que estão falando, e faço minha essa empolgação. Não vejo de que forma apenas com meu texto e minhas fotos vou mostrar isso, mas vale como "petisco" para fazer nascer em vocês uma pontinha de curiosidade. Quando surgir a oportunidade ou se o destino levar vocês até Londres, este post vai lembrar vocês sobre um museu fantástico para visitar.
 
Como todos os museus de Londres, o British Museum tem entrada franca (é, cultura é gratis!); fica a poucos quarteirões da estação de Holborn de metrô (tube, ok?); foi nesta estação que desembarquei, voltando de Milton Keynes. Digamos, cheguei pela estação de Euston, fui andando pela rua com mala e tudo até King Cross, larguei a mala no locker (8 libras por 24 horas), e fiquei só com a mochila e a câmera de fotos. Peguei o tube aí mesmo em King Cross até Holborn, e mais uma curta caminhada até o museu. Eu achei que ia me sentir um ET caminhando pela rua com a mala de Euston a King Cross, mas na verdade tinha toda uma galera fazendo isso, tanto em um sentido quanto no outro. O dia estava muito ensolarado, e foi bem gostoso fazer esse trechinho pela superfície. O único risco é atravessar a rua, com o fluxo invertido que sempre confunde para olhar. 

Bom, a questão é que cheguei no museu com tempo suficiente para dar uma volta bem completa (umas 3 horas). O maior problema das pessoas quando viajam é não se planejar; se você pode pesquisar um pouco e se informar antes de viajar, isso te poupa muito tempo. Fiz com o British Museum o mesmo que fiz com o Louvre alguns anos atrás: sabendo o que tem no museu, marquei em um mapinha tudo o que queria ver, as coisas que não podia perder. Com essa lista, fiz um roteiro dentro do museu, sabendo o que ver e onde parar. Assim, com um roteiro planejado, é fácil calcular o tempo, e pouco importa se você tem 30 minutos ou 3 horas; basta acelerar o diminuir o passo e ver mais ou menos coisas, mas nunca vai deixar de ver os objetos que chamam sua atenção.

Entrei no museu, e virei a esquerda, andando rapidamente pela ala mesopotâmica, sem olhar quase nada. Não que não tivesse interesse nesta ala, mas é nesse sentido que fica o banheiro mais perto. Desculpem, necessidades fisiológicas primeiro. 

Depois deste nada charmoso comentário, percorri calmamente o corredor da ala mesopotâmica, que ia me levar diretamente na entrada da ala egípcia do andar térreo.

É incrível mesmo. Mesmo para um leigo no assunto como eu, é fascinante como a exposição é ilustrativa. É fácil perceber as diferentes épocas, reinados ou mesmo a evolução na grafia hieroglífica. Com a passagem dos séculos, os desenhos ficam mais apurados, mais precisos, mais ricos.

Sem dúvida alguma, esta ala ganhou a fama que tem com razões de sobra. A quantidade de peças em exposição e a riqueza histórica guardada em cada uma delas faz desta coleção um tesouro fascinante.


A imagem acima é apenas uma amostra do que encontramos no museu. Boa parte das peças contam com placas descritivas sobre a origem, a época, e detalhes como o propósito ou valor histórico da peça em si. Descobrimos a história da civilização a cada passo.

Sakhmet

Não bastava mostrar as estátuas, os panéis, ou mesmo um escaravelho colossal. O museu ainda guardava algumas surpresas na manga. Como a moça da foto abaixo.

Cleo.


Esta é a múmia e caixão de Cleopatra, filha de Candace, do mausoleu da família Soter, e entrou no museu em 1823 com a coleção de Henry Salt. Sobre as múltiplas camadas de pano, foi pintada a imagem de uma mulher falecida. No caixão tinha também um pente e um colar de sementes, colocado na múmia. Os hieroglífos no caixão dizem que Cleopatra faleceu aos 17 anos, um mês e 25 dias. A múmia foi escaneada com raio-X, e o esqueleto mostra um desenvolvimento bem compatível com essa idade.

O esqueleto parece estar em boas condições, com a cabeça inclinada à frente e a boca aberta. Há pelo menos três pacotes na cavidade direita do peito, provavelmente orgãos preservados. Há um objeto de 9 centímetros do lado esquerdo, provavelmente um pequeno rolo de tecido, ou uma pequena estatueta. O raio-X também mostra os materiais usados para colar a múmia (areia ou lama, provavelmente), o que deixa a múmia com um peso de 75 quilos. Na foto ao lado, os detalhes internos do caixão.

Múmias de pessoas e animais (de gatos a pássaros, macacos, crocodilos e até bois) abundam no museu, assim como objetos pessoais, dispostos nos corredores do primeiro andar dedicado ao Egito. Mas o museu tem outras alas e peças incríveis. Entre elas, a pedra Rosetta, encontrada durante a guerra por soldados e chave para revelar o significado dos hieroglífos.

Esta pedra contem um decreto em três idiomas: grego, egípcio "popular" (usado para mensagens e anotações corriqueiras) e hieroglífos, datado em 27 de Março de 196 a.C. Foi através desta pedra que, por associação e cruzamento entre os idiomas, foi possível desvendar o significado dos hieroglífos, dando uma nova dimensão ao conhecimento sobre a cultura e história dos grandes faraós. Vale dizer que os hieroglífos já tinham mais de 3000 anos de história quando esta pedra foi gravada, e o texto inferior era grego por uma razão simples: na época da inscrição, todos os documentos de governo eram redigidos em grego, já que o Egito estava sob domínio de uma dinastia grega.

Foi engraçado perceber quantas peças do museu aparecem em livros, filmes, seriados ou mesmo videogames. Cada corredor, cada estante revelava uma nova peça histórica que inspirou histórias; especialmente as seções mais antigas, como as peças babilônicas e fenícias tinham toda a cara de fugidas de um filme do Tomb Raider. Tudo à minha volta tinha cara de caçador de tesouros.

Continuei meu passeio, e finalmente cheguei em uma das seções mais esperadas, um tanto negligenciada pela maioria dos visitantes. Notei como as outras pessoas passavam rapidamente por aqui, quase sem tirar fotos. Apenas alguns estudantes, cadernos em mão, anotavam detalhes para seus trabalhos de escola. Estava na seção dos começos da Europa, estava entre os primeiros europeus. Estava entre os celtas.


Pouco sobreviveu deste periodo, embora não tive como evitar um sorriso ao ver os braceletes, pulseiras e colares de ouro maciço, troféus dignos de reis. Tesouros históricos e reais, valendo muito mais do que seu próprio peso em ouro.

Alguns séculos depois de Cristo, os romanos chegaram nas ilhas britânicas, e com Roma vieram as estradas, as armaduras e a escrita. Fiquei fascinado com o monte de pequenas peças, como moedas e distintivos encontrados do periodo romano. Entre esses objetos, o da foto ao lado despertou em mim um sentimento de simpatia: é uma peça onde se lê LEC XX e o desenho de um javali. É o distintivo do vigésimo grupo de legionários romanos, como eram separadas as tropas na época. Impossível não lembrar do Conn Iggulden e seus fantásticos livros sobre a Roma do César.

Pequenas peças como esta somem na grandiosidade de escudos, espadas, panéis de pedra e outros objetos muito mais chamativos, seja pelo tamanho ou pelo brilho do metal. Descobrir estas pequenas pérolas, quase escondidas no meio de tantas outras coisas, tem sem dúvida um gostinho especial. Tem a sensação de descobrí-las pela primeira vez, como se o prazer de encontrar a peça perdida na história fosse um privilégio nosso; como se fosse a gente mesmo que desenterrou a pequena peça de terracota por acaso, e limpou com os dedos entre as letras para descobrir as figuras, se revelando à luz do sol novamente depois de séculos.

Outra coisa fantástica foi encontrar peças  que já apareceram em documentários, como os intrincados enfeites de ouro e pedras do tesouro de Suton Hoo. Foi neste lugar que encontraram um pequeno tesouro, onde a escavação continou encontrando uma ripa de madeira, e depois outra, até revelar que era um barco inteiro repleto de tesouros.


Já no lado mais "moderno" da Europa, encontrei um relicário bem curioso, digno das histórias do arqueiro de Bernard Cornwell. Embora menos bizarro que os relicários que vi na Alemanha, este relicário foi construido para guardar um espinho da coroa de Cristo. Este tipo de relicário era muito comum na Europa, onde surgiam objetos com poderes fantásticos, sempre de origem mais do que duvidosa. O engraçado deste relicário é que foi feito sob encomenda, e o joalheiro fez dois relicários, devolvendo o falso para o dono. Muitos anos depois, o joalheiro confessou a troca, e devolveu o espinho e o relicário original ao dono. É engraçado que pecados como mentira, assassinato, roubo e tantos outros são "omitidos", e os mandamentos convenientemente esquecidos em relação a objetos diretamente relacionados com a religião cristã.
 
Estava terminando meu passeio, perto já da hora do fechamento do museu, e encontrei uns panéis que me emocionaram. Finalmente, encontrei um pedaço de história que tinha aparecido no meu blog; depois de horas no museu, me encontrei com as gravuras que já ilustraram várias vezes os contos mais famosos.


Como não se emocionar ao dar as caras com estes tesouros, com estes pedaços de história latejando, vivos na nossa frente?


Quantos textos já escrevi onde mostrei gravuras medievais com estas? Cada conto do Malory, cada texto do Chrétien de Troyes, Perceval, Gawain e tantos outros...

É com estas imagens que quero encerrar o post, e com este post encerrar minhas histórias em terras arturianas. Está mais do que na hora de voltar com os contos que tantas gerações inspiraram, e que continuam inspirando até hoje. Tem muitos livros novos, muitas novas histórias, coisas maravilhosas aguardando por nós. Quem sabe, em algumas centenas de anos, se fale de estas histórias, e de blogs como o meu.

Para matar a saudade da Inglaterra, seus monumentos e museus, vou deixar mais fotos no Facebook. Quem quiser dar um pulo pelo FB nos próximos dias, vai encontrar muito mais do que estou contando aqui. É Inglaterra, ainda volto pra te visitar de novo.

Até o próximo post!

3 comentários:

Pedrita disse...

é um museu q gostaria muito de conhecer. beijos, pedrita

Anônimo disse...

Li essa série de posts pensando aqui comigo que quero que meus filhos cresçam logo pra eu poder passar uns dois meses na inglaterra só vendo essas coisas. Demais! Depois passo no FB pra olhar mais fotos!
Ah, eu não sabia que Cleópatra tinha morrido tão nova. A vida desse povo devia ser super intensa pra virarem celebridade morrendo tão cedo né?
Beijos!

Wally disse...

@Pedrita, não fique no quero conhecer, faça planos, faça as contas e vá! Tem tanta coisa fantástica para ver por lá... Com certeza vai descobrir um monte de surpresas que eu não consegui ver.

@Rê, apenas uma correção, a Cleopatra do museu não é a Elizabeth Taylor... Digamos, teve MUITAS Cleopatras, ao ponto que o nome virou meio que um título real. Na relação de links que tenho aqui no blog vai encontrar um das rainhas ptolomaicas, lá em uma série de posts fantásticos contando a saga das Cleopatras.

Obrigado pela visita!