Sitiados!!!

Fechou o tempo

Pode parecer estranho, mas acho que as batalhas perderam o romantismo com o surgimento da pólvora em forma de armas de fogo, por assim dizer. Tem até um ditado que diz que "com a invenção da pólvora se acabaram os valentes". Bom, eu acho que as batalhas de fato mudaram por completo, como também as estratégias.

Hoje quero falar da minha visão dos grandes sítios, das batalhas onde um exército se esforçava por invadir uma fortaleza, e onde os soldados guarnecidos nela se esforçavam por defendê-la.

Por fim a noite chegou. Uma hora atrás, a chuva atrasou o trabalho dos engenheiros, que para variar nunca parecem satisfeitos. As vezes, até parece que fosse de propósito.

- Mais para a direita!
- Não está alinhado!
- Não, Não, Não! Seus imbecis! Estão fazendo tudo errado!

Não percebem que apenas estamos seguindo suas instruções. Podíamos simplesmente largar eles sozinhos, mas são um mal necessário, ou não teríamos essas engenhocas.
A principio, achava que eles apenas eram covardes, que era
desonroso lutar sem lutar, mas com o tempo e a idade compreendi que o avanço deles é que faz todo o cerco possível. São eles que arrebentam as muralhas, que incendeiam as ameias, que ameaçam as torres e protegem a gente enquanto chegamos perto do fosso. E são eles que fazem as escadas e os arietes, que no fim das contas nos colocam dentro da fortaleza.

Passamos a tarde inteira erguendo, cortando e amarrando os troncos para dar forma as máquinas de sitio. Parecem monstros que saíram da floresta, com sede de vingança, apontando com raiva para os muros. Ao longe, mal podemos ver a fortaleza se preparando para nos dar as "bem-vindas".

Um cheiro terrível é trazido pelo vento, vindo do fosso. Os deuses não estão do nosso lado, disse um soldado, já que o vento está contra nós. Precisamos carregar mais o contrapeso ou diminuir a munição, o que nunca é bom. E ainda a cidade se livra do cheiro, que vem até aqui, querendo nos expulsar, como bons invasores que somos.

Alguns tocam nervosamente o cabo de suas espadas, rezando silenciosamente. Outros, sentados em roda, ficam em silêncio olhando as chamas crepitando nas fogueiras. Quem já passou por várias guerras, sabe bem como tudo pode virar do avesso a qualquer minuto.

- "Trebuchet"; disse o garoto ao meu lado, apontando ao castelo.
- "Isso é tua mãe." Respondi, sem saber o que ele apontava com esse brilho nos olhos.
- "É francês, senhor. Estou falando daquela torre de madeira, dentro das amuradas".

E o garoto estava certo. Estavam nos esperando. Enquanto nos passamos a tarde inteira preparando as catapultas, o inimigo ergueu seus trebuchets de defesa dentro do castelo. Eram máquinas terríveis, de um alcance muito superior ao que podíamos sonhar com nossas catapultas. Porém, temos a vantagem do movimento, enquanto o trebuchet é fixo. Se fizermos tudo certo, poderemos atingir suas defesas antes de que causem qualquer estrago nas nossas fileiras.

A hora estava chegando. As tropas formando, seguindo as ordens dos grandes senhores. A cavalaria aguardava pacientemente, tranqüilizando os animais mais novos, aqueles que ainda não conheciam o calor da batalha.

Começamos a marchar, para nos coloca
r em posição. Os engenheiros armam suas catapultas com as cargas de 15 quilos, e esticam as cordas ao máximo para medir o alcance.
A madeira e as cordas
gemem. As pessoas se afastam, e o engenheiro manda retirar a trava. O braço sobe violentamente, e lança a rocha pelos ares.
A catapulta inteira treme pelo impacto, e sai do lugar quase três passos. A rocha se projeta alto demais, e não chega nem perto das muralhas.
Mais um ajuste, a trava do braço é posicionada. A tensão é ajustada. E o vento mudou.

A catapulta sacudiu com força, e lançou mais uma rocha. Desceu assobiando, alguns passos após o muro. Nessa hora, soubemos que podíamos vencer.

Nota: Marion sempre me ajuda revisando os textos, buscando coisinhas que errei como bom gringo. Ela disse "vem cá, não vai colocar de que livro tirou isso?". Então, não saiu de livro nenhum. O texto é meu, e é o que gostaria de escrever no Nanowrimo, o dia que decidir participar. Indo mais a fundo, já disse uma vez que pelo jeito vou acabar escrevendo meu próprio livro arturiano. Quem sabe quando fizer 40 anos. Quem gostou, comente!


Trebuchet

O trebuchet é provavelmente o tipo mais antigo de catapulta. Inspirado nas cisternas (usadas para facilitar a coleta de agua em poços e lagos), o trebuchet usa um sistema de contrapesos para lançar objetos à distancia; sua munição mais comum eram rochas, mas não era estranho usar carcaças como munição para desmoralizar os invasores. No exemplo ao lado, é o corpo de um cavalo morto que serve de munição. Nada agradável.




Catapulta

No lugar de contrapesos, a catapulta usa a tensão de cordas para gerar a força que faz o braço subir. De construção mais compacta, a catapulta podia ser carregada, desmontada, transportada em barcos, montada novamente em terra firme e levada por animais de carga como uma carroça. De alcance menor ao dos trebuchets, sua vantagem era a mobilidade e velocidade de construção. Geralmente formavam o grosso da artilharia de sitio, arremessando cargas semelhantes aos trebuchets, e muitas vezes cargas incendiárias.

Ariete

Quase todos os filmes épicos tem um exemplo de ariete; um tronco de árvore suspenso em uma estrutura que é levada até o muro ou os portões da fortaleza, que balançada pela força de vários homens gerava um golpe maciço, concentrado em um único ponto, com a intenção de abrir uma brecha. O problema do ariete é que ficava do lado o muro, portanto os defensores jogavam banha quente, rochas e oleo acesso nos invasores. O ariete possuía um teto coberto geralmente com couro, para proteger seus operários, mas dependia muito do apoio externo (arqueiros e catapultas) para chegar perto e concluir seu trabalho.


Flecha-Foguete

No fim, vai uma arma que nunca existiu, mas que poderia ter definido o rumo das batalhas medievais: A Flecha-foguete.

Die, n00b!!! LOL!!



DIY

Ainda vou fazer um trebuchet em escala; quando fizer isso vou postar fotos e vídeos do troço em ação. Enquanto isso, quem quiser se adiantar, pode consultar estes sites:

http://www.redstoneprojects.com/trebuchetstore/treb_plans_1_1.html

http://www.knightforhire.com/catapult.htm

http://www.trebuchet.com

Para quem quer fazer da construção de trebuchets uma profissão de respeito, vão os links com as ferramentas:

http://www.algobeautytreb.com/

Vai que algum dia você precisa sitiar um castelo? Se for essa a situação, não saia de casa sem ter lido este howto da Universidade de Queens:

http://educ.queensu.ca/~fmc/march2005/siege.html

E quem quer apenas brincar, vai um jogo online muito legal para entender as forças que afetam uma catapulta.

http://www.forgefx.com/casestudies/prenticehall/ph/catapult/catapult.htm


Até a semana que vem, e boa diversão!!!

Feedback

O Post que não é Post. Ou é?

Então, fim de semana, feriadão, alguns viajando, outros apenas acordando tarde, outros ganhando umas extras no trampo... e eu em clima de feriado também, desta vez até terça.

Entre meus planos, está estudar um pouco mais a fundo para os próximos posts. Sim, este blog requer de estudo, coisa que levo muito a sério. Felizmente, o resultado está aí, mais de 1000 visitas, os contadores crescendo, as visitas aumentando, e os comentários de gente amiga gostando, e encorajando a continuar. É por eles, mas também por minha dedicação e os resultado que vejo ao ler novamente post antigos, que digo para mim mesmo que a recompensa é muito maior do que o esforço.

Aos poucos, este blog levado bem a sério está virando o que visionei para ele: uma referência de consulta prática sobre estudos da lenda arturiana, e trazendo também informações sobre a vida no periodo medieval que podem ajudar a entender o contexto.

O último post falou sobre cavaleiros, como eram treinados, suas afiliações em ordens regidas por preceitos nobres, e o surgimento do amor cortés com eles como protagonistas. A palavra "cavaleiro" ganhou um novo sentido graças a estes costumes, do mesmo jeito que os "gentis" eram apenas estrangeiros. Como Pedrita falou, a origem das palavras é muito interessante.

A curiosidade da Renata passou para Marion, sobre como as plebéias eram tratadas pelos cavaleiros. Moças, os cavaleiros tinham uma orientação religiosa, eles sem dúvida matavam, mas respeitavam todas as pessoas tementes a Deus, especialmente os plebéus. Muitas ordens de cavaleiros praticavam o celibato... e por isso o estupro não tinha lugar, pelo menos entre suas fileiras.

Era comum que os cavaleiros fossem filhos de nobres, porém os plebéus que se destacassem por um ato nobre ou coragem excepcional em uma batalha, eram convidados para integrar as ordens de cavaleiros, portanto não havia preconceito de classes.

E sim, muitos cavaleiros se apaixonavam por plebéias, às que juravam defendé-las de todo perigo, e disputavam justas para honrar seu nome. Era o amor cortés, do jeito que as novelas contam.

Me apegando ao filme de maior sucesso por estas pampas nos dias de hoje, os cavaleiros não eram outra coisa que a elite de um exercito. Eram eles que entravam onde a infantaria não chegava. Eram eles que representavam a lei e a ordem de seus governantes. Eram eles, que nos seus grandes corcéis, amedrontavam os criminosos e ganhavam admiração dos homens, nobres e plebéus. O primeiro conto de T.H. White, "A Espada na Pedra", mostra um jovem Arthur que no bosque dá de cara com um cavaleiro, e cheio de admiração pela imagem de um homem brilhando na sua armadura polida que olha para ele do alto da sua montura, decide um dia se tornar cavaleiro. A vida o levou por outro rumo, no momento que tirou a espada da pedra e com isso selou seu destino como rei da Bretanha. Essa imagem e o impacto dela deve ter sido exatamete a mesma para todas as crianças que viam pela primeira vez um cavaleiro, e esse brilho se mantém até hoje, nos tantos espetáculos medievais, como o Medieval Times, as justas de Kaltenberg ou o Camelot Park.

Tudo isso veio dos comentários de vocês. Aliás: Andrea, não me esqueci de você.

Muita gente cai neste blog por buscadores. Eu não vou trapacear colocando termos para atrair pessoas; quero que quem caia no meu blog encontre exatamente o que procura. O que quer dizer trapacear? Por exemplo, se quando falar da Vivian, a Dama do Lago, começo com o título "Nua e molhada". Obviamente, sei que tipo de visita posso esperar depois disso.

Então, não me surpreende que quase todo mundo que aparece nas estatísticas do blog chegam por buscas bem específicas. Foram 243 visitantes em Outubro, dos quais 117 vieram por buscas na net, 115 usando o Google, e os outros dois desavisados via yahoo.

Vejam abaixo algumas das coisas que as pessoas procuraram:

O que me deixa feliz, é que encontraram o que buscavam.

E vocês, encontraram o que buscavam aqui? Pergunta do autor: De tudo o que escrevi até agora, qual foi para vocês o melhor post? Eu já tenho meus três favoritos, espero pelos seus! Bom fim de semana!

Meu Reino por um Cavalo!

A frase do título deste post é de autoria de Shakespeare, quando escreveu sobre a batalha de Bosworth (1485), batalha esta que decidiria que seria o governante da Inglaterra. O rei Ricardo III perdeu este confronto para o conde de Richmond, onde se diz que na pressa por ter um cavalo para ir à luta e a falta de metal confabularam para que seu corcel não estivesse pronto, faltando pregos em uma das ferraduras. Assim, por um prego, se perdeu a ferradura. Por uma ferradura, se perdeu um cavalo. Por um cavalo, se perdeu uma batalha. Por uma batalha se perdeu um reino, e mudou a história. Por um prego.
Por isso que sempre tenho uma caixinha de pregos em casa, nunca se sabe.

De cavalos, corcéis, palafréns...

Um dos fatores interessantes do período medieval, feudal, idade média ou dark ages como também é conhecido, é o relacionamento estreito entre o homem e o cavalo. Não no sentido afetuoso, como é considerado hoje para animais domésticos e de estimação, mas como ferramentas decisivas no trabalho, no transporte e na guerra.
Os cavalos foram usados muito antes para guerra por os mais variados povos, dos árabes aos próprios romanos, que formaram as cidades que posteriormente ficariam conhecidas no período medieval. Mas foi neste último período que a cavalaria deixou de ser apenas uma extensão avançada do exército, e se configurou também como um valor social em tempos de paz; surgia a ordem da cavalaria.

No começo, as diferentes ordens da cavalaria seguiam um regime militar, com orientação religiosa semelhante às dos monges, com a missão de expandir território e avançar sobre os "infiéis". Por volta do século 13, os cavaleiros vinham das famílias nobres, eram detentores de cavalos e armaduras, e ingressavam nas diferentes ordens através de cerimônias religiosas. Estes cavaleiros se regiam por um código de conduta de honra, serviço e entre outras coisas, não fazer nada que possa desagradar a uma dama ou donzela. Surge assim o tal do amor cortês.

Cerimônias aparte, os cavaleiros não passavam a vida combatendo como se imagina, eles passavam longos anos em treinamento, servindo aos seus mestres e se especializando nas suas habilidades com as diferentes armas. Com o tempo, surgiram as justas, onde os cavaleiros podiam demonstrar seus talentos e conquistar honra e por que não, o amor de uma donzela para a qual defendeu suas cores, usando no braço um lenço oferecido por ela.

Fazendo um Cavaleiro

Os cavaleiros pertenciam à classe nobre e eram parte de uma organização militar, mas não todos os soldados podiam virar cavaleiros. Eram rejeitados aqueles que não tinham o equipamento, a riqueza ou o status para participar da ordem, mas mesmo assim pessoas de classes mais pobres que demonstrassem valor, coragem e aptidão poderiam ganhar a classificação para entrar na ordem. Embora eram muito incomuns, existiram também ordens femininas formadas por amazonas.
O treino começava muito cedo, quando crianças filhos de nobres eram deixados como pagens nos estábulos, aprendendo como cuidar dos cavalos, arqueria e uso de armas. Por volta dos 10 anos já podiam ser designados para acompanhar um cavaleiro na função de escudeiro, mas isso geralmente acontecia aos 14. Eles cuidavam das armas e os cavalos de um cavaleiro, enquanto aprendiam como lutar e se comportar em um grupo organizado de cavaleiros. Também escutavam as histórias de Arthur, Perceval, Lancelot e tantos outros cavaleiros épicos, com a intenção de educar sobre os valores para ingressar à ordem.
Aos 21 anos, eles eram nomeados cavaleiros. Antigamente a tradição apenas era um tapinha no pescoço, seguido de uma curta palestra sobre se conduzir com honra, coragem, talento, e lealdade. Foi depois do século 11 que veio toda a cerimônia religiosa patrocinada pela igreja, onde garantiam um lugar no ceú para quem voltasse das cruzadas com honra. Com o tempo, esta cerimônia ficou cada vez mais elaborada, incluindo uma noite de vigilia na igreja vestindo roupas simples, mostrando humildade perante Deus. A espada era benzida pelo padre, que quando oferecida devia ser beijada no punho, que geralmente tinha referências religiosas.

Torcida Organizada

Houve uma infinidade de Ordens de Cavaleiros, cada uma estabelecida com uma ideologia. Teve as que enfatizavam mais sobre humildade, piedade, e outras que pregavam determinados valores de honra. Os nomes eram bem originais, como "Os Escudos Dourados", "Os Cavaleiros Angelicais", "O Falcão Branco", e por aí vai. Meu destaque vai para a "Ordem dos Cavaleiros Escravos da Virtuosidade e o Amor Fraterno". Como comentei acima, teve ordens de amazonas, mas infelizmente não localizei referências aos nomes; como fato histórico, uma delas defendeu Tortosa na Espanha da invasão moura em 1149.

Entre as mais conhecidas Ordens, entram a dos Hospitaleiros, os Templários e os Teutônicos.

Hospitaleiros, ou Cavaleiros de São João de Jerusalém, foi a primeira ordem de monges. Eles vestiam batina preta com cruzes em branco, moravam em um mosteiro que podia receber até 2000 convidados, e ainda com espaço para cuidar dos feridos e doentes. Hospitalidade era a premissa desta Ordem, e criaram várias organizações dedicadas a este fim em diversos países da Europa.
Os templários surgiram no século 12, com o fim de proteger os peregrinos. Adotaram as regras dos monges beneditinos, e suas vestimentas eram brancas com cruzes vermelhas. Eles se propagaram muito pela Europa, e no século 14 correu o rumor de corrupção e heresia entre seus membros, o que levou o rei Felipe da França a perseguir os participantes da Ordem, prendé-los em prisão e torturá-los para obter confissões, onde finalmente eram condenados à morte.
Os Cavaleiros Teutônicos compunham a terceira e última grande Ordem de cavaleiros. De origem germânica, tomavam os votos de pobreza, castidade e obediência, e vestiam branco com cruzes pretas. Participaram de várias guerras, conquistando território principalmente na Prússia, e foi também durante a guerra que esta ordem foi virtualmente aniquilada pelos Poloneses e Lituanos durante a batalha de Tannenberg, em 1410.

Heráldica (ou "meu escudo é beeeeeeem melhor que o seu...")

Os escudos de armas, as cores e combinações designavam a casa ou Ordem dos cavaleiros. Em uma época onde poucos conseguiam ler ou escrever, a heráldica (arte do desenho dos escudos, associada à linhagem ou árvore genealógica) distinguia os membros nobres da sociedade.
Inicialmente somente reis e membros altos da nobreza podiam portar um escudo de armas, mas com o tempo isto foi estendido aos cavaleiros.
Dentro da família, o filho mais velho herdava o escudo de armas da família, onde os filhos mais novos podiam efetuar pequenas alterações para suas próprias famílias. Ainda assim, existiam regras muito estritas para a divisão de um escudo na sua arte. Inicialmente, as famílias partiam de cores fixas, que podiam alterar-se ou misturar-se quando uma cidade jurava lealdade a um reino ou governante. Muitos escudos eram enfeitados com animais reais ou mitológicos, e o toque final dado por algumas famílias era um texto, considerado o "grito de guerra".

Obrigado pela leitura, até a semana que vem!

O Cavaleiro Sem Nome

Leitura Dinâmica

O Cavaleiro sem Nome é o primeiro livro dentro da saga chamada Graal, escrita por Christian de Montella. Encontrei pouquíssima por não dizer nenhuma informação na internet sobre o autor deste livro; nada diferente do que diz no próprio livro sobre o autor, que nasceu em 1957 e fez de tudo como profissão antes de escrever.

Este foi o livro que li em menos tempo sobre lendas arturianas, depois do caderninho chamado "Os Cavaleiros da Távola Redonda", resuminho da Ediouro dos contos de Thomas Malory, que nem pode ser chamado de livro pelo curto que é.

O livro tem um formato pequeno, pouco maior do que um pocket book, e traz um pequeno mapa no começo (que basta olhar no começo), a historia dividida em muitos capítulos curtos (de umas 10 a 15 páginas cada um) e após um total de 320 páginas, uma referência ao vocabulário.

Nos tempos do filme do "Código Da Vinci", tinha uma corrida maluca no meu trabalho para ler o livro. Todo mundo se convenceu de ler o livro antes de vir o filme, e eu decidi fazer isso após um colega me dizer que leu em um par de dias, que o texto era muito rápido, por assim dizer. Eu li o código Da Vinci em três dias, diretamente no computador. De fato, é um livro rápido de ler.

Quando "O Cavaleiro sem Nome" caiu nas minhas mãos, folhei o livro rapidamente e percebi que seria a mesma coisa por causa do formato; muitos capítulos curtos, ação rápida, livro pequeno e letra grande, com bordas generosas em cada página (porque tem livros que aproveitam até o último milímetro do papel, hehe). Assim, na semana passada, decidi falar do livro sem ter lido nada dele ainda, e me obriguei a ler o livro em 4 dias, coisa que fiz sem stress. Foram aproximadamente 80 páginas por dia, lidas em menos de uma hora cada dia.

Mais do mesmo?

Sem querer estragar a surpresa de ninguém nem bancar uma de "spoiler", história do cavaleiro sem nome já foi contada neste blog com seu nome original, "O Cavaleiro da Charrete". Christian de Montella fez um apanhado de diversas lendas arturianas, e as misturou para compor seu livro.
O fio base da história já é conhecido por vocês; um cavaleiro cujo nome não é revelado procura a rainha Guinevere, por quem está loucamente apaixonado, e faz as maiores proezas em nome desse amor, acompanhado por Gawain. Este cavaleiro salva a rainha do sua prisão por Meleagant, passando pela ponte da espada e desafiando-o a uma justa. Este amor não é correspondido pela rainha por causa da humilhação na charrete no conto original, e por causa de um feitiço neste livro, mas não foge muito desse fio.

Traduzindo do meu jeito

Uma coisa que me deixou bastante intrigado do livro foi o jeito em que os nomes dos personagens foram alterados. Em praticamente todos os casos, os personagens ganharam sutis diferenças nos nomes, acrescentando uma letra ou substituindo outra, mas sem muita dificuldade para descobrir o nome original. Por exemplo, temos Garvain, Meleagrant, Baudemagus, e por aí vai. Não entendi exatamente os motivos para isso, mas é uma curiosidade que não ia deixar de registrar.
Outra coisa bastante comum neste livro (fugindo ao texto de Chretien de Troyes) é usar um nome para uma colocação diferente. Exemplo:

Versão Original, Chretien de Troyes:

Meleagant: Filho do rei Bandemagus, de caráter traiçoeiro e vil, quem leva a rainha e mantém prisioneiros os forasteiros no seu afastado reino.
Bandemagus: Rei das terras distantes, de caráter nobre e cavaleiresco, recebe calorosamente Lancelot após atravessar a ponte da espada.

Versão do Christian de Montella:

Meleagrant: Rei de Gorre, terra distante que mantém prisioneiras as pessoas na sua terra. Cavaleiro expulso da ordem de Arthur por falta às leis da cavalaria.
Baudemagus: Feiticeiro e conselheiro de Meleagrant, dominado por Morgana.


Tempero diferente

Embora já conhecia a história por outras leituras, este livro agrada por misturar várias histórias, e relacioná-las à lenda-base do charrete.
O começo do livro mostra a morte do rei Ban, e a dama do lago (Vivian) levando seu pequeno filho para as terras do lago, onde é criado como o Eleito, que poderá concluir "A Busca". Merlin, filho do diabo, foi conselheiro de Uther-Pendragon, mas foi afastado dele por Vivian quando Arthur ainda era pequeno, e hoje é prisioneiro de Vivian.
Arthur nasceu do amor proibido entre Uther e Igraine; a filha legítima de Igraine tomou rancor de Uther, e mais ainda de Arthur, seu meio-irmão. Com ele teve um filho na cerimônia sagrada do Gamo (como conta As Brumas de Avalon), filho este que seria a ruina de Arthur; o nome da criança era Mordred, e foi criado por Morgana para ser o Eleito na "Busca".
Lancelot participa neste livro da lenda do rei pescador, história muitas vezes contada como a lenda de Perceval. Outras adição curiosa no livro são os nomes de Erec e Enide, que na lenda original são um romántico casal, e aqui são dois cavaleiros da távola redonda. Por falar em távola redonda, este livro coloca como origem da mesma o próprio graal, muito antes de Uther, Igraine e do próprio Merlin.
Os motivos para Guinevere se aborrecer na vitória de Lancelot sobre Meleagant também são outros, menos cavalheirescos e mais femininos: o ciúme. Lancelot dormiu com outra convencido que se entregava a Guinevere em sonhos, mas o que chegou aos olhos da rainha foi o que aconteceu de fato, e mesmo sem ter nunca falado nada de amor com Lancelot, sentiu ciúmes e o aborreceu.
O livro é cheio de fatos mágicos, encantamentos e ilusões, coisas que não aparecem tanto nos textos de Chretien, mas que dão um gostinho novo às histórias conhecidas.

A história sem final

Chretien de Troyes não colocou em versos o final da história, mas passou isso para outra pessoa como contei para vocês faz um tempinho. Isto parece estar fardado ao conto da charrete.
O livro não tem final, pelo menos não um final conclusivo. Como o autor escreveu outros 3 livros na saga graal, isto não me espanta tanto, mas esperava um desfecho menos "Lost", por assim dizer. Ficaram coisas demais em aberto para meu gosto, por ser o primeiro livro. Acredito que o primeiro livro de qualquer saga tem que dar uma noção de para onde a história vai apontar, mas tem que fechar e concluir o que se propôs contar para dar ao leitor a sensação de tarefa cumprida.
Por colocar um autor completamente diferente neste aspecto, Bernard Cornwell escreveu duas trilogias sensacionais, onde cada livro tem um desfecho completo, e somente menciona o que poderá vir, como uma viagem para procurar uma pessoa, a volta ao lar ou o surgimento de um novo inimigo. Na saga de livros do soldado Richard Sharpe, cada livro é separado, mas conta as aventuras do mesmo personagem, e a evolução dele desde soldado raso até cargos mais importantes com uma linearidade admirável, mesmo com os livros dando desfecho a cada história. Ainda estou juntado coragem para falar da trilogia do Rei Arthur, porque são três livros enormes, e não sei nem por onde começar sem ficar chato :-)

O cavaleiro sem nome é um bom livro para leitura rápida, e provavelmente compre os outros para comparar o texto de Montella com o que já conheço. Se assim acontecer, haverá novos posts para contar a experiência.

Bom feriado aos brasileiros e bom fim de semana para o resto! Até a semana que vem!

1K Day

Obrigado a todos os que ajudaram com suas visitas em fazer este blog atingir 1000 hits hoje. Quem diria, hein? Não é exatamente um blog fofoqueiro para chegar nesses números, e ainda os posts são semanais, com o que não tem um fluxo exagerado no meio da semana. É o interesse e amizade de vocês que me faz procurar, estudar e escrever da maneira mais completa e detalhada e amena os fatos que circundam as lendas arturianas. Sejam eternamente bem-vindos!

Gracias de corazón!