Algumas pessoas próximas, amigos de blog entre outros, sabem bem do esforço que representa manter a constância do nosso trabalho. Sim, blog muitas vezes é um trabalho, especialmente quando envolve pesquisa; quesito este que levo muito a sério.
O fato de postar somente agora foi por rejeitar dois assuntos, devido à sua extensão ou mesmo a eventual perda de foco, derivada da natureza de cada um. Vou me explicar melhor.
Rejeitado número um: Musicas de Amor Medieval.
Este assunto prometia. Muito. Tanto me esbanjei em textos de Chrétien falando do amor cortês, que fui pesquisar sobre sonetos, lais e canções de amor do periodo medieval. Infelizmente, me desapontei com o resultado.
Não foi por não achar respostas, o que aconteceu foi não ter gostado das respostas em si. Os séculos 12, 13 e 14 produziram belas canções de amor, mas todas as que encontrei careciam do mais importante: sentimento. Eram músicas escritas por bardos, poetas e outros apenas com o fim de demonstrar seu talento, e ganhar competições, honra ao serem valorizados como grandes autores, mas nenhuma das poesias ou musicas sequer mostrava um sentimento de amor, apenas exercícios de talento na combinação dos versos. Nenhum deles realmente amava, portanto suas músicas ficaram ocas. Lembradas até hoje, mas sem valor sentimental. Podemos comparar isso aos atuais repentistas, ou mesmo aos compositores de samba-enredo? Talvez.
Assim meu assunto de hoje se esvaziou das mãos pela primeira vez.
Segundo Rejeitado: Aprendendo outros idiomas.
Parti para um site que guardei faz tempo, sabendo que um dia podia ser de muita utilidade. Visitei um pouquinho, com a esperança de resumir alguns conceitos, traduzir algumas regras e com isso dar o bé-a-bá de como entender textos em inglês antigo, o tal do inglês saxão pré-normando que contei um pouco uns dois posts abaixo (Early Britain).
É, idioma não se aprende em dois minutos, isso já sabia. Até porque cada vez que falo de onde eu sou, as pessoas fingem que falam espanhol, e dói nos ouvidos. Mas mesmo assim decidi ler um pouco, e ver se conseguia montar um post a partir de alguns conceitos.
Para minha decepção, apenas a explicação dos ditongos são 5 páginas. A das vogais, 7 páginas. Quem queria aprender a como se fala Cuhlwch, vai ficar na vontade nem que eu. Bem que o começo do capítulo já falava que mesmo o mais erudito dos alunos de inglês saxônico teria muitissimos problemas para se virar nas ruas do rei Ædwar, ou Edgard, ou sei lá...
Assim, se escorreu das minhas mãos o segundo assunto.
Mesmo assim, vale a pena visitar estes dois sites, em janelas separadas, e comparar. Acho muito interessante, e curioso de se observar.
http://en.wikipedia.org/wiki/Culhwch_and_Olwen
http://cy.wikipedia.org/wiki/Culhwch_ac_Olwen
Se pelo menos me pagassem...
Aproveitei o tempo enquanto pensava em outro assunto para arrumar meus favoritos do Firefox, que já tem várias páginas. Fiz pastas por assunto, coloquei divisões, e no fim entre tantas pastas e opções fiquei com uma bela pasta de referências arturianas.
A lenda arturiana é fascinante, mas muito trabalhosa. Requer de muito tempo para se aprofundar, tempo que é dificil de arranjar como hobby; hoje percebi de vez como estou longe das pessoas que se dedicam de alma a desbravar a lenda. Na terceira e última procura de assunto, sai clicando nesses favoritos todos, e me deparei com várias "sociedades arturianas". As tais de sociedades arturianas são divisões, ou grupos de importantes acadêmicos das mais renomadas faculdades que se dedicam a pesquisar a lenda, e publicar seus trabalhos, que sempre são cobrados. Não basta o subsidio da faculdade ou o salario, as publicações ganham espaços como livros, revistas, reportagens ou mesmo jornais.
A mais renomada das sociedades arturianas é Arthuriana, regida pela Southern Catholic University. Entre outros textos, eles produzem um jornal de publicação trimestral, que podemos subscrever e receber em cópia impressa, ou pagar 25 doletas para ver online. Por algum forte motivo, não me senti interessado. Acho que a graça é pesquisar, debater, fuçar, e compartir isso, tanto é que esse é o espírito deste blog, propagar informação e levar a quem quiser ler um pouco da lenda.
Ai lembrei do que já me disseram um par de vezes, que devia escrever um livro. Gostaria, acho um desafio e tanto, mas não posso concorrer com ninguém além de mim mesmo perante um desafio desses. Não tenho formação acadêmica em Letras, ou qualquer subsidio para encarar a Literatura como ganha-pão, e muito menos condições de brigar e ganhar o interesse de uma editora; e não vou ficar ligando para uma como fez Francisco, o pai dos Camargo, para ver se meu livro vinga e aparece no ranking das revistas.
Ciente disso, sim, acho que posso escrever um livro, sem grandes pretensões. O problema é que não sei se ia me sentir bem escrevendo sem ao menos o reconhecimento de algum público. Com esse critério, o blog está de bom tamanho, acho...
Vou dar um ótimo exemplo do que gostaria de chamar um livro meu.
O Phd. Thomas Green é um pesquisador pos-graduado da universidade de Oxford, Exeter College. O trabalho dele ganhou o nome de "Concepts of Arthur", e segue um roteiro bem interessante.
Ignorando as fontes de informação inglesas e francesas (digamos, Malory e Chrétien entre outros), ele partiu para pesquisar diretamente nos documentos mais antigos existentes, à procura de um Arthur puramente histórico. Nada de matar dragões, Camelot, Excalibur, etc, etc.. Ele queria conhecer quem foi a primeira pessoa a se chamar de Arthur, que poderia ter passado seu nome a outros Arthurs, que eventualmente propagariam a lenda até chegar ao ponto de se perder entre saxões, normandos, e outros tantos.
No seu site encontramos dois links em pdf muito, mas muito interessantes:
Arthurian Literature, que conta as fontes de estudo;
The Historicity, and the Historicisation of Arthur, um estudo que compõe o primeiro capítulo do seu livro.
Lendo esses dois arquivos, senti uma pontinha de inveja branca. Como gostaria de poder estudar como ele fez! Me afundar em textos antigos, estudar a língua, nomes, ter acesso a textos com tanto valor histórico, e condensar isso em um trabalho respeitado e reconhecido. Meus parabéns a ele, e quem sabe, um dia chego perto.
Enfim, tanto me enrolei procurando assunto, que no fim não cheguei a lugar nenhum.
Para não dizer que não postei nada, tem um tal de Tom Hanks que pode ler os versos antigos de Lancelot, no Arthuriana Pedagogy. Delirem com o som da voz do homem ao pronunciar "cnygh" (knight...)
O que querem ler daqui a duas semanas? Respondam o poll, e enquanto isso vou ver o que penso para a semana que vem.
Até então...
PS: Rê, Galahad sempre foi filho de Lancelot :-)
O fato de postar somente agora foi por rejeitar dois assuntos, devido à sua extensão ou mesmo a eventual perda de foco, derivada da natureza de cada um. Vou me explicar melhor.
Rejeitado número um: Musicas de Amor Medieval.
Este assunto prometia. Muito. Tanto me esbanjei em textos de Chrétien falando do amor cortês, que fui pesquisar sobre sonetos, lais e canções de amor do periodo medieval. Infelizmente, me desapontei com o resultado.
Não foi por não achar respostas, o que aconteceu foi não ter gostado das respostas em si. Os séculos 12, 13 e 14 produziram belas canções de amor, mas todas as que encontrei careciam do mais importante: sentimento. Eram músicas escritas por bardos, poetas e outros apenas com o fim de demonstrar seu talento, e ganhar competições, honra ao serem valorizados como grandes autores, mas nenhuma das poesias ou musicas sequer mostrava um sentimento de amor, apenas exercícios de talento na combinação dos versos. Nenhum deles realmente amava, portanto suas músicas ficaram ocas. Lembradas até hoje, mas sem valor sentimental. Podemos comparar isso aos atuais repentistas, ou mesmo aos compositores de samba-enredo? Talvez.
Assim meu assunto de hoje se esvaziou das mãos pela primeira vez.
Segundo Rejeitado: Aprendendo outros idiomas.
Parti para um site que guardei faz tempo, sabendo que um dia podia ser de muita utilidade. Visitei um pouquinho, com a esperança de resumir alguns conceitos, traduzir algumas regras e com isso dar o bé-a-bá de como entender textos em inglês antigo, o tal do inglês saxão pré-normando que contei um pouco uns dois posts abaixo (Early Britain).
É, idioma não se aprende em dois minutos, isso já sabia. Até porque cada vez que falo de onde eu sou, as pessoas fingem que falam espanhol, e dói nos ouvidos. Mas mesmo assim decidi ler um pouco, e ver se conseguia montar um post a partir de alguns conceitos.
Para minha decepção, apenas a explicação dos ditongos são 5 páginas. A das vogais, 7 páginas. Quem queria aprender a como se fala Cuhlwch, vai ficar na vontade nem que eu. Bem que o começo do capítulo já falava que mesmo o mais erudito dos alunos de inglês saxônico teria muitissimos problemas para se virar nas ruas do rei Ædwar, ou Edgard, ou sei lá...
Assim, se escorreu das minhas mãos o segundo assunto.
Mesmo assim, vale a pena visitar estes dois sites, em janelas separadas, e comparar. Acho muito interessante, e curioso de se observar.
http://en.wikipedia.org/wiki/Culhwch_and_Olwen
http://cy.wikipedia.org/wiki/Culhwch_ac_Olwen
Se pelo menos me pagassem...
Aproveitei o tempo enquanto pensava em outro assunto para arrumar meus favoritos do Firefox, que já tem várias páginas. Fiz pastas por assunto, coloquei divisões, e no fim entre tantas pastas e opções fiquei com uma bela pasta de referências arturianas.
A lenda arturiana é fascinante, mas muito trabalhosa. Requer de muito tempo para se aprofundar, tempo que é dificil de arranjar como hobby; hoje percebi de vez como estou longe das pessoas que se dedicam de alma a desbravar a lenda. Na terceira e última procura de assunto, sai clicando nesses favoritos todos, e me deparei com várias "sociedades arturianas". As tais de sociedades arturianas são divisões, ou grupos de importantes acadêmicos das mais renomadas faculdades que se dedicam a pesquisar a lenda, e publicar seus trabalhos, que sempre são cobrados. Não basta o subsidio da faculdade ou o salario, as publicações ganham espaços como livros, revistas, reportagens ou mesmo jornais.
A mais renomada das sociedades arturianas é Arthuriana, regida pela Southern Catholic University. Entre outros textos, eles produzem um jornal de publicação trimestral, que podemos subscrever e receber em cópia impressa, ou pagar 25 doletas para ver online. Por algum forte motivo, não me senti interessado. Acho que a graça é pesquisar, debater, fuçar, e compartir isso, tanto é que esse é o espírito deste blog, propagar informação e levar a quem quiser ler um pouco da lenda.
Ai lembrei do que já me disseram um par de vezes, que devia escrever um livro. Gostaria, acho um desafio e tanto, mas não posso concorrer com ninguém além de mim mesmo perante um desafio desses. Não tenho formação acadêmica em Letras, ou qualquer subsidio para encarar a Literatura como ganha-pão, e muito menos condições de brigar e ganhar o interesse de uma editora; e não vou ficar ligando para uma como fez Francisco, o pai dos Camargo, para ver se meu livro vinga e aparece no ranking das revistas.
Ciente disso, sim, acho que posso escrever um livro, sem grandes pretensões. O problema é que não sei se ia me sentir bem escrevendo sem ao menos o reconhecimento de algum público. Com esse critério, o blog está de bom tamanho, acho...
Vou dar um ótimo exemplo do que gostaria de chamar um livro meu.
O Phd. Thomas Green é um pesquisador pos-graduado da universidade de Oxford, Exeter College. O trabalho dele ganhou o nome de "Concepts of Arthur", e segue um roteiro bem interessante.
Ignorando as fontes de informação inglesas e francesas (digamos, Malory e Chrétien entre outros), ele partiu para pesquisar diretamente nos documentos mais antigos existentes, à procura de um Arthur puramente histórico. Nada de matar dragões, Camelot, Excalibur, etc, etc.. Ele queria conhecer quem foi a primeira pessoa a se chamar de Arthur, que poderia ter passado seu nome a outros Arthurs, que eventualmente propagariam a lenda até chegar ao ponto de se perder entre saxões, normandos, e outros tantos.
No seu site encontramos dois links em pdf muito, mas muito interessantes:
Arthurian Literature, que conta as fontes de estudo;
The Historicity, and the Historicisation of Arthur, um estudo que compõe o primeiro capítulo do seu livro.
Lendo esses dois arquivos, senti uma pontinha de inveja branca. Como gostaria de poder estudar como ele fez! Me afundar em textos antigos, estudar a língua, nomes, ter acesso a textos com tanto valor histórico, e condensar isso em um trabalho respeitado e reconhecido. Meus parabéns a ele, e quem sabe, um dia chego perto.
Enfim, tanto me enrolei procurando assunto, que no fim não cheguei a lugar nenhum.
Para não dizer que não postei nada, tem um tal de Tom Hanks que pode ler os versos antigos de Lancelot, no Arthuriana Pedagogy. Delirem com o som da voz do homem ao pronunciar "cnygh" (knight...)
O que querem ler daqui a duas semanas? Respondam o poll, e enquanto isso vou ver o que penso para a semana que vem.
Até então...
PS: Rê, Galahad sempre foi filho de Lancelot :-)